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Loading tinha tudo para dar certo, mas sucumbiu diante da desorganização


Uma semana triste para o mercado audiovisual brasileiro. A Loading, após seis meses de operações na TV aberta, encerrou seus programas ao vivo e demitiu todo o seu elenco. Foi uma surpresa e tanto: ao final dos programas de quarta-feira, 26, seus apresentadores se despediram com um “até amanhã”. Mas, na quinta, 27, não retornaram. Multiverso, Mais Geek e Esquenta MVP, a trinca de programas ao vivo do horário nobre, deixaram de existir de um dia para o outro.

A emissora não se pronunciou oficialmente, mas o site Na Telinha noticiou que a decisão drástica aconteceu diante da desistência da Kalunga do projeto. A Loading é resultado da sociedade entre a rede de papelarias e o grupo de comunicação Spring. Ou seja, a Kalunga era a principal investidora do canal e, ao deixar a sociedade, a emissora simplesmente quebrou.

Triste constatar que o fim da grade própria da Loading aconteceu quando o canal ensaiava um importante amadurecimento. A emissora tinha um time de excelentes comunicadores, que comandavam programas com assuntos de interesse de seu público-alvo. Ao apostar na segmentação e investir numa grade baseada em cultura pop, geek e gamer, a Loading mirava num nicho que estava desassistido na TV aberta. Nestes seis meses, ofereceu uma enxurrada de boas animações, desenhos clássicos, campeonatos de esports e programas interessantes.

Ao que tudo indica, a Loading se viu obrigada a encerrar seus programas devido a uma estratégia de negócio completamente equivocada. Se o canal tinha apenas um grande investidor, a Kalunga, o mais lógico seria investir numa programação mais modesta, para, aos poucos, atrair novos patrocinadores e fazer o bolo crescer. Poderia ter investido menos em conteúdo importado, ou numa grade menor, num arrendamento da madrugada… Mas preferiram apostar tudo numa ideia, numa grade 24 horas, e numa programação que, fatalmente, demoraria a dar algum retorno. Foi uma aposta alta que se revelou suicida.

Quem acompanhou a programação da Loading neste curto período de existência deve ter notado que a Kalunga era, realmente, o único anunciante do canal durante seus primeiros meses. Além das campanhas da loja, a emissora veiculava informes sobre serviços de streaming especializados em animes, como a Funimation e a Crunchyroll. Entretanto, estes serviços tinham faixas próprias dentro da programação, com os programas Funimation TV e Madrugada Crunchyroll. Ou seja, provavelmente não eram patrocinadoras, e sim parceiras de conteúdo. Em suma: eram a fonte dos principais animes exibidos na grade.

A coisa começou a mudar a partir do momento em que a Loading passou a exibir campeonatos de Free Fire nos finais de semana, que eram patrocinadas pela Razer Gold. Depois disso, outros anunciantes passaram a ser vistos nos intervalos, como Motorola, Ponto e Cacau Show. Esta última, aliás, passou a entrar como “oferecimento” aos programas Multiverso e Mais Geek, e os apresentadores faziam merchan dos chocolates ao longo dos programas. Ou seja, aos poucos, novos anunciantes estavam chegando.

Mas, pelo visto, o canal ainda era muito dependente da Kalunga. E isso expõe que a Loading não estava bem estruturada. Segundo o site TV Pop, o canal mal tinha departamento comercial, daí o pouco avanço nesta área nestes seis meses. Além disso, a própria Kalunga parece ter dado um passo em falso ao apostar nesta sociedade, tendo em vista que nenhum investimento dá retorno em seis meses. Em suma, os bastidores da Loading parecem estar recheados de amadorismo. Investiram pesado, sobretudo, na aquisição de conteúdo, já que a maior parte da grade era tomada por séries, desenhos e filmes, e esperavam retorno imediato, mas sem um departamento comercial verdadeiramente atuante. Deu no que deu.

E olha que resultados apareceram nestes seis meses. A Loading foi muito bem-aceita pelo público-alvo, seus apresentadores se tornaram ídolos desta parcela do público, e a audiência estava indo bem para seus padrões. Tanto que o canal vivia anunciando avanços, como o aumento da plateia e a expansão de seu sinal. Mas, pelo que parece, houve uma má gestão financeira, e todas estas conquistas não foram suficiente para fazer a programação do canal se fortalecer.

Uma pena, já que era, sim, uma boa ideia. Ao apostar num público segmentado, a Loading falava direto a um potencial público que poderia, sim, ser interessante às grandes marcas, sobretudo empresas de tecnologia e de entretenimento. E é um público que está afastado da TV aberta, já que não há outras opções para ele. Ou seja, era bem possível que, aos poucos, o canal alcançasse uma relevância suficiente diante desta audiência para ser um negócio interessante para grandes marcas. Mas faltou tempo e organização para isso.

Muitos ainda batem na tecla que o conteúdo da Loading era equivocado, já que mirava um público que não consumia mais TV. Bobagem. Por mais que a internet e o streaming tenham avançado demais, a TV ainda tem um alcance muito maior. E digo mais: podemos viver numa bolha onde todos têm acesso a isso, mas a verdade é que esta não é uma realidade. Muitos jovens não têm acesso a estes serviços, e a Loading falava a eles. Ou seja, este nicho tem sim, potencial na TV aberta. Mas é preciso tempo para que as coisas se estabeleçam.

Uma pena mesmo este fim precoce! Este jornalista que vos escreve sempre foi um entusiasta da ideia, e um espectador assíduo do canal. Como disse num post da semana passada, o Multiverso era, atualmente, meu programa de TV favorito. Fernanda Pineda é uma jornalista de entretenimento genial, e estava ótima no comando. Fábio Gomes é um poço de carisma e grande conhecedor de cultura pop. E Mari Ayres é uma simpatia, um grande achado do canal. Farão falta na TV.

Ainda não se sabe qual será o futuro da Loading. O canal, atualmente, está apenas exibindo animações e novelas coreanas, e não se pronunciou oficialmente sobre o que acontece até agora. Mas, segundo Flavio Ricco, do R7, existem negociações em andamento para que a Jovem Pan assuma a concessão e o controle da TV (ao menos não é uma igreja...). Caso isso aconteça, será o fim definitivo da Loading. E o jovem que se interessa por conteúdo pop, geek e gamer continuará sem opção na TV aberta. 

André Santana

29/05/2021

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7 Comentários

  1. Oi André
    E uma pena mesmo o fim da Loading , ela tinha um incrível potêncial, tanto que a emissora já estava incomodando gazeta e a rede tv em alguns momentos.
    Mas o erro foi lança sem ter patrocinadores garantidos.
    Torço para que a jovem pan assuma a frequência (mesmo não concordando com a linha editorial deles) pois quem sabe eles aproveitem uma parte da programação da Loading.

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    1. Oi Douglas! Poucas coisas que acontecem na TV me deixaram tão chateado como o fim da Loading... Fiquei realmente triste! Já era um dos meus canais preferido, o Multiverso era meu programa de fim de tarde! Sinto pelos excelentes profissionais, que embarcaram num sonho e, agora, se veem desempregados. Triste!

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  2. Olá, tudo bem? Parabéns pelo novo layout! Ficou lindo. O meu site precisa urgentemente passar por uma reforma geral e irrestrita. Rs.... Sobre o Loading: só zapeei mesmo. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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    1. O Loading entra pra lista de canais que duraram pouco tempo casos da TV JB, do CBS Tele Notícias e TV Jovem Pan. Potencial eles tinham mas como o Brasil é um país pra poucos sucumbiu á grave crise econômica. Sobre o novo layout eu adorei e deverei mudar o meu site estreando novo layout nas Olimpíadas de Tóquio.

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    2. Oi Fabio! A Loading tinha coisas muito boas! Mas era um canal nichado mesmo... Pra mim, que me identifico com este universo geek, era maravilhoso! Hehe! Obrigado, fico feliz que tenha gostado do novo "visu". Abraço!

      Kleber, bem lembrado! A História da TV guarda alguns casos pitorescos como estes, de emissoras que não duraram nem um ano... É triste! Só torço pra que a concessão da Loading passe às mãos de alguém realmente a fim de fazer TV, e não que loteiem toda a grade para a Igreja Mundial de novo. Não precisamos de mais uma CNT, ou mais uma Rede Brasil...

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  3. Lamento muito também, era um projeto muito interessante e de que se tem carência na tv atualmente. Eu também não concordo com a linha editorial da Jovem Pan, mas torço para ela, se for o caso, assumir a frequência, pois geraria empregos e é melhor que igreja.

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    1. Com certeza, Gilmar! Li no Flavio Ricco que as negociações entre Loading e Jovem Pan não avançaram, infelizmente. Seria bacana um canal de notícias, e não mais um canal de igreja...

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