Comentei sobre o final do Programa do Jô
no site Observatório da Televisão, em
texto publicado no último sábado, 17. No entanto, achei que o fim do talk show
de Jô Soares na Globo também devia ganhar um registro aqui no TELE-VISÃO. Por
isso, reproduzo abaixo o texto publicado no Observatório.
Na noite de sexta-feira, 16, Jô
Soares mandou seu último “beijo do gordo” no Programa do Jô, talk show que comandou por 16 anos nas madrugadas
da Rede Globo. O apresentador passou o ano todo lembrando o espectador que se
tratava da última temporada do Programa
do Jô, como se já preparasse o público e a si mesmo para o momento da
despedida. No entanto, os alertas não amenizaram a sensação de perda quando os
créditos do último episódio passaram a subir diante da imagem de um emocionado
Jô Soares. É muito difícil imaginar a madrugada da TV brasileira sem Jô Soares.
Dando expediente como um “showman
entrevistador” desde 1988, quando estreou seu Jô Soares Onze e Meia no SBT, o então humorista imprimiu uma forte
marca na televisão, tornando-se uma referência única no segmento que inaugurou
no Brasil. Antes que a TV paga e a internet pudessem proporcionar ao público
brasileiro assistir a um night show estadunidense, foi Jô Soares quem trouxe o
formato para o Brasil. E o formato se encaixou como uma luva para o
apresentador, pois permitiu com que ele seguisse exercitando sua sempre esperta
veia humorística, mas imprimindo a sua elegância, cultura e inteligência que o
tornaram um dos grandes nomes da televisão brasileira. Não é pouca coisa.
Nestes 28 anos de talk show diário
nas madrugadas, Jô Soares recebeu todo o tipo de convidados. Foram 14426
entrevistas, sendo de dois a três convidados interessantes em cada episódio, um
desafio e tanto para um programa diário. Desafio cumprido com louvor, e só foi
longevo assim por causa do imenso talento de Jô Soares de transformar qualquer
personagem num bom entrevistado. Assim, não somente grandes personalidades
públicas tiveram seu espaço no sofá de Jô, como também anônimos com alguma história
para contar. E, se por acaso alguém não rendesse tanto assim, Jô Soares tratava
de sacar do bolso seu imenso repertório, que garantia o show para os insones de
plantão.
E foi desta maneira digna que Jô
Soares levou seu talk show, exibido entre 1988 a 1999 no SBT e, a
partir de 2000, nas madrugadas da Globo. Foram muitos momentos históricos,
traduzidos em bate-papos interessantes e divertidos. Nos últimos anos, Jô
passou por alguns problemas de saúde e assustou sua audiência, apresentando
vários episódios de sua atração com visíveis dificuldades. Somado ao tanto
tempo no ar, o Programa do Jô parecia
começar a dar seus primeiros sinais de desgaste. A audiência caiu um pouco, o
programa teve sua estrutura reduzida, e logo veio o anúncio de que 2016 seria o
seu último ano. No entanto, justamente quando começava sua temporada final, o
programa deu um grande salto. A última temporada foi uma das melhores dos
últimos anos. Talvez pelo ritmo de despedida, o Programa do Jô não economizou em bons momentos, realizando novas
entrevistas históricas. Jô Soares surgiu tinindo ao lado de convidados
interessantes. Na reta final, entrevistas com Fausto Silva e Roberto Carlos
dominaram as redes sociais pelos bons momentos proporcionados. Nos últimos
dias, papos como os de Tatá Werneck e Monica Iozzi arrancaram muitos risos.
E, assim, Jô Soares encerrou este
ciclo fazendo um último Programa do Jô
especial. Seu derradeiro convidado foi o cartunista Ziraldo, recordista de
aparições na atração. O cartunista intelectual é parceiro antigo de Jô, e o
reencontro rendeu bons momentos de lembranças entre os dois. E, como o próprio
Ziraldo revelou, o grande entrevistado da noite acabou sendo mesmo o próprio
Jô, que contou histórias deliciosas de sua vida e carreira, além de revelar
detalhes que o levaram a trocar os personagens dos programas de humor que
tocava pelo bate-papo nas madrugadas. Jô agradeceu a figuras como Silvio
Santos, que o deu a oportunidade de trazer o night show para o Brasil, e também
à ex-diretora-geral da Globo, Marluce Dias,
e Evandro Carlos de Andrade (1931-2001), diretor de jornalismo da
emissora na época, responsáveis pelo retorno do apresentador ao canal. No fim,
um emocionado Jô Soares agradeceu ao seu público e se despediu com um “daqui a
pouco a gente volta”, deixando bem clara a sua vontade: ele quer continuar com
seu programa na televisão brasileira.
O Programa do Jô encerra seu ciclo na TV num cenário bem diferente
daquele que estreou. Hoje, SBT e Record também apostam em night shows na
madrugada, comandados pelos jovens Danilo Gentili e Fabio Porchat. E Jô dará
espaço a um novo programa de entrevistas na Globo, que escolheu Pedro Bial para
a missão. Ou seja, o canal demonstra que quer concorrer com os novos night
shows com um talk show diferente, com a pegada jornalística que Bial já
demonstrou à frente do Na Moral, na
própria Globo, e Programa com Bial,
no GNT. Ao optar por “nadar contra a
corrente”, a Globo se colocará como uma alternativa diferente aos seus
concorrentes diretos na madrugada, o que não deixa de ser uma boa ideia.
Mesmo assim, todos ficaremos um
pouco órfãos com o fim do Programa do Jô.
The Noite e Programa do Porchat são interessantes, mas não substituem o Programa do Jô. Os papos cheios de
humor, informação, cultura e ironia saem de cena e deixam uma lacuna que não
será preenchida com o fim do programa de Jô Soares. Por isso mesmo, ficamos
todos na torcida para que a vontade de Jô de continuar seja atendida. A própria
Globo, se for esperta, poderia dar um novo espaço ao apresentador, nem que seja
num semanal no qual ele pudesse fazer o que quisesse. Além, claro, de
aproveitar as inúmeras qualidades de Jô nos canais pagos da Globosat, como GNT
e Globo News. Se não rolar, não há de faltar um canal aberto que não abra os
braços para Jô. Ainda não é a hora de dormirmos sem o “beijo do gordo”.
André Santana
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