Num dos fóruns que costuma fazer regularmente para discutir conteúdo, a
direção da Globo apontou para uma interessante discussão. Foi levantado que a
produção audiovisual brasileira já teve seus momentos criativos, mas que vinha
se tornando refém da compra de formatos importados. Foi dito que a produção
nacional devia, a partir dali, ficar menos dependente de formatos enlatados e
se tornar, ela sim, uma exportadora de formatos. Era preciso investir mais na
criatividade nacional e torná-la, também, uma referência, levando as nossas
ideias para outras partes do mundo. Tomara
que Caia, mesmo mal-sucedida, já foi uma importante experiência de
tentativa neste sentido. E o atual Fecha
a Conta, reality gastronômico exibido atualmente no Mais Você, também é outra tentativa.
O SBT, também há tempos dependente de formatos vindos de fora para
rechear a grade e seus programas de auditório, de vez em quando também arrisca
uma criação própria, mesmo que ela venha com forte “inspiração” de programas
estrangeiros. SOS Casamento, que o canal
exibiu há um tempo, era inspirado em Supernanny,
atração de formato comprado, mas trazia problemas de casais, e não de criação
de filhos. Manobra válida. Máquina da
Fama também foi uma reformulação de outro formato de fora, o Famoso Quem?. Deu certo. E Fábrica de Casamentos, que estreia em
março, também virá com um formato criado aqui, segundo a emissora.
Mesmo com todas estas tentativas (válidas) de se tentar criar novos
formatos por aqui, ainda está longe o tempo em que a televisão brasileira terá
o tempo de programas vindos de fora reduzido. Num momento como o atual, de
crise financeira e com pouca disponibilidade de se arriscar e apostar em
novidades, produzir versões nacionais de programas vindos de fora parece uma
saída a prova de erros. Deve ser por isso que a grade de 2017 dos principais
canais abertos estará, a partir de março, recheada de novos e velhos formatos
importados nos mais diversos horários.
A Record, por exemplo, quase passou toda a sua linha de shows das 22h30
para as mãos de Geraldo Luís. Como o apresentador não aceitou um programa
diário, a solução foi rechear a faixa com realities vindos de fora. Em abril,
as noites de segunda, terça e quinta-feira serão dedicadas a eles: às segundas,
o Dancing Brasil será a nova aposta
de Xuxa Meneghel, num programa praticamente idêntico à Dança dos Famosos do Domingão
do Faustão (que também é um formato importado); e às terças e quintas serão
dedicadas à nova temporada do Power Couple,
com Roberto Justus. E, assim que estes programas terminarem suas temporadas,
outros programas virão. A Casa,
reality que pretende confinar 100 pessoas numa casa sem estrutura e apenas um
banheiro, deve entrar na vaga de Power
Couple. E a direção do canal já estuda um segundo formato para Xuxa, assim
que Dancing Brasil sair de cena.
A Globo, mesmo canal que discursa a favor de uma maior força nacional na
concepção de formatos, também não escapará de programas enlatados. Segue no ar
o Big Brother Brasil, reality de
maior sucesso do país. E outras novidades estão no gatilho. O Caldeirão do Huck, que já exibe quadros
enlatados, como Lata Velha e Voltando ao Passado, terá sua versão de Who Wants to Be a Millionaire, game show
de perguntas e respostas que “inspirou” o Show
do Milhão, do SBT. Já o Domingão do
Faustão, que também tem entre seus quadros vários formatos de fora, como Iluminados e o já citado Dança dos Famosos, virá com Tal e Qual, novo quadro que nada mais é
que uma versão do enlatado Your Face
Sounds Familiar. No novo quadro, celebridades terão de imitar outros
artistas e fazer performances. Familiar, não? Sim, o SBT já teve os direitos
deste formato e realizou uma temporada, chamada de Esse Artista Sou Eu, com Marcio Ballas. The Voice Brasil também volta no segundo semestre.
Band e SBT não anunciaram, até o momento, a compra de nenhum outro
formato de fora, mas seguirão investindo naqueles que já possuem. A Band,
claro, segue dependendo do MasterChef,
e fará mais duas temporadas do reality gastronômico. O atual Pesadelo na Cozinha também deu certo e
terá novos episódios, sem dúvidas, assim como o The X Factor Brasil. Já o SBT seguirá apostando em novas temporadas
do Esquadrão da Moda, Bake Off Brasil –
Mão na Massa e Hell’s Kitchen –
Cozinha Sob Pressão. Já a RedeTV virá com um programa italiano, L’Eredità, que será chamado de O Céu é o Limite, e apresentado por Marcelo de Carvalho.
Nada contra a compra de formatos importados, afinal, muitos deles dão
bons resultados no Brasil. O problema é quando os canais acham que apostar no
que deu certo lá fora é garantia de que dará por aqui, o que não é verdade.
Temos vários exemplos de programas vitoriosos lá fora e que, por aqui, não emplacaram, como o
próprio X Factor, ou o Got Talent, da Record, ou ainda SuperStar, Famoso Quem, Hipertensão, Busão do Brasil, Projeto Fashion, entre tantos outros que
nem lembramos mais. Comprar de fora pode ser mais prático, mas é importante que
se fomente a criação por aqui, também. Temos condições de ser, também,
exportadores, e não apenas importadores.
André Santana
4 Comentários
Olá, tudo bem? Eu sempre bato nesta tecla. Pra que o Brasil forma milhares de profissionais em Rádio e TV para importar formatos? Eu gostei do Projeto Fashion e poderia ter uma segunda temporada na Band. Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net
ResponderExcluirTambém gostei do Projeto Fashion. O SBT podia comprar o formato pra revezar com o Esquadrão da Moda, já pensou? Mantendo Isabela Fiorentino e Arlindo Grund, que são uma ótima dupla!
ExcluirFecha a conta , gostei da ideia, se fosse na Band como programa solo e com chefes famosos de jurados seria muito bom.
ResponderExcluirVerdade!
Excluir