Infelizmente, temos que reconhecer: A Lei do Amor foi uma das maiores decepções do horário das nove da
Globo dos últimos anos. E olha que a faixa já vem alimentando um histórico de
decepções cheio de fortes concorrentes. Mas esperava-se muito da primeira
novela das nove da Globo assinada por dois medalhões, os festejados Maria
Adelaide Amaral e Vincent Villari. A dupla, dona de um currículo extenso de
boas produções, assinaram, nos últimos anos, “apenas” duas das novelas das sete
mais bacanas de todos os tempos, Ti Ti Ti
e Sangue Bom. Ou seja, a promoção ao
horário das nove já era esperada, e foi muito comemorada.
O que se viu depois disso foi a promessa de um resgate de
folhetim mais tradicional, o que parecia uma boa ideia após novelas mais
pretensiosas, como A Regra do Jogo e Velho Chico. E a primeira fase da
produção fez jus à promessa, não economizando nos mas variados clichês do
folhetim básico: um amor arrebatador, uma vilã pérfida com uma peruca importada
do almoxarifado da Televisa, uma grande armação para separar o casalzinho e
muitas reviravoltas. Era clichê, mas tudo muito bem escrito, com bons diálogos
e personagens interessantes. A primeira fase de A Lei do Amor, mesmo com seu ar “cafona”, deixou uma boa impressão.
No entanto, o salto que separou a primeira da segunda fase
tornou as coisas um tanto esquisitas. Pedro (Reynaldo Gianecchinni) e Helô
(Claudia Abreu), o casal fofo separado por uma armação da vilã Magnólia (Vera
Holtz), logo se reencontrou, esclareceu a armação do início e o relacionamento
foi retomado. E só. O casal que protagonizou a primeira semana da obra
revelou-se, adiante, totalmente desnecessário à trama. A primeira fase, assim,
não teve qualquer razão para existir. Por outro lado, a segunda fase procurou
narrar as desventuras da família Leitão no cenário político da cidade de São
Dimas, fictício município da região metropolitana de São Paulo. Mag, era, de
fato, a protagonista da obra. Era a vilã quem sustentava o fio condutor da
trama a partir de seu segundo ato, posando de defensora da moral e dos bons
costumes, enquanto armava para manter o seu poder diante da cidade. Sua
história era, de fato, bastante interessante.
O problema é que esta história ficou diluída em meio a um
sem-número de personagens que “invadiram” A
Lei do Amor logo no início de sua segunda fase. Eram tantos jovens,
interpretados por atores desconhecidos do grande público, que era bem
complicado entender qual era a relação entre eles. A Lei do Amor, assim, ficou desfocada, parecia sem norte, e
revelou-se uma trama na qual era difícil se envolver. Constatado o problema do
excesso de personagens, os autores trataram de enxugar o elenco, dispensando
vários nomes. Outro problema foi criado a partir daí, pois eram tantas cenas de
despedidas, de personagens fazendo viagens inesperadas, que A Lei do Amor ficou enfadonha.
E a trama se perdeu ainda mais quando deu destaque ao casal
jovem Tiago (Humberto Carrão) e Isabela (Alice Wegmann). O casal funcionou bem
melhor como trama romântica, ao contrário de Pedro e Helô, e tiveram os
holofotes voltados para si durante vários capítulos. A aproximação dos dois foi
feita de maneira saborosa, os personagens eram simpáticos e tinham química.
Letícia (Isabela Santoni), a ex de Tiago, neste entrecho, era a “chata”, o
terceiro vértice deste interessante triângulo amoroso. Também trazia algo novo à trama, pois era uma menina doente que usava sua fragilidade para
chantagear a todos que amava. Era chata, sim, mas era original e tinha uma
função clara dentro do enredo. Mas a trama se perdeu completamente quando
Isabela foi vítima de um atentado a mando de Tião Bezerra (José Mayer), outro
vilão da trama. A mocinha desapareceu no mar e Tiago sofreu com sua ausência. Ai,
Letícia, do nada, fica legal, os dois retomam e se casam. Muitos capítulos
depois, surge Marina (Alice Wegman), uma “sósia” de Isabela que passa a
atormentar Tiago.
Tudo desandou. Letícia passando a ser mocinha perdeu sua
originalidade, Tiago tornou-se um mocinho frágil e a tal Marina não tinha
qualquer razão de existir. Todo mundo achava que Marina era Isabela que voltou
para “se vingar”, mas uma meia dúzia de provas plantadas acabou convencendo a
todos que Marina não era Isabela. Ficou esquisito demais. Além disso, os
autores parecem ter perdido o tempo da chegada de Marina. Quando ela entrou na
história, tanto tempo já havia se passado que ninguém mais ligava para o
mistério do desaparecimento de Isabela. Saber se Marina era mesmo Marina ou era
Isabela disfarçada tornou-se um mistério do qual ninguém se importava. Tanto
fazia. E, no capítulo final, a coisa terminou da pior maneira possível: Marina
era mesmo Isabela que voltou para se vingar! Oh! Vingança muito tola, tendo em
vista que estava bem claro aos olhos do público e de boa parte dos personagens
que Tiago, claro, não havia tentado matá-la. A própria Marina/Isabela já tinha
juntado várias pistas de que Tiago jamais tentou matá-la, até porque ele não
tinha nenhum motivo para isso. Assim, a tal vingança de Isabela tinha um
argumento excessivamente frágil. Não fez o menor sentido.
Falando em mudanças de perfil dos personagens, elas foram
muitas em A Lei do Amor. Ciro (Thiago
Lacerda), por exemplo, era um vilão interessante que mantinha um caso com a própria
sogra, o que também despontava como um entrecho original. Entretanto, quando se
livrou das garras de Mag e se arrependeu de suas armações, o personagem
murchou. Ciro mudou quando se apaixonou por Beth (Regiane Alves), que entrou na
história para chacoalhá-la e acabou saindo de cena cedo demais, quando Mag a
matou. Outro problema de coerência se deu com Pedro, que sempre foi íntegro e
correto, mas traiu Helô com uma ex-namorada sem qualquer motivação para tal.
Se, ao menos, ele tivesse realmente se sentido dividido quando Laura (Heloísa
Jorge) chegou ao Brasil, seria mais fácil acreditar no deslize. Mas não. Ele
nunca se mostrou balançado com a ex. Apenas dormiu com ela. “Forçação de barra”
para criar algum conflito para o casal principal, que andou em banho-maria a
novela toda. Isso sem falar nas repetições constantes das tramas: Pedro
descobriu três vezes que não sabia que tinha engravidado Helô e Laura; e Helô
pegou Pedro na cama com outra duas vezes.
A trama política, que seria central em A Lei do Amor, virou uma pecha cômica de baixa qualidade. Neste
contexto, Salete (Claudia Raia), uma personagem multidimensional e que tinha
tudo para acontecer, ficou pelo meio do caminho. Não rendeu. Luciane (Grazi
Massafera), a divertida personagem que queria ser a primeira-dama de São Dimas,
foi um trunfo da novela do início ao fim, sem dúvidas. Mas não dá para negar
que suas cenas, aos poucos, tornaram-se esquetes dentro da novela. Boas cenas,
sim, mas sem grande importância para o andamento da trama. Mileide (Heloisa
Perisse) e sua turma foi mais um caso de núcleo cômico sem graça e sem
importância, que parece criado apenas para cumprir cota em qualquer novela. Não
aconteceu.
Em meio a tantos erros, destacou-se em A Lei do Amor, apenas, o embate entre os vilões Mag e Tião. Ele
nutria amor e ódio pela mulher, que se aproveitou dele o quanto pode. Numa
queda de braço constante, a tensão entre eles deu algum tempero à história.
Pena que Tião perdeu um pouco de força, pois, no início, era um vilão sutil.
Aos poucos, tornou-se histriônico e caricato. Mesmo assim, Vera Holtz e José
Mayer foram os grandes nomes da novela. E merecem aplausos também as
performances de Tarcísio Meira (Fausto Leitão), Pierre Baitelli (o simpático
Antonio), Regina Braga (Silvia), Camila Morgado (a perturbada Vitória), além
dos já mencionados Grazi Massafera e Thiago Lacerda. Mesmo sem história,
Claudia Abreu foi uma mocinha digna, enquanto Reynaldo Gianecchini, com um
personagem fraco, esteve no piloto automático.
Tantas mudanças e histórias que ficaram no meio do caminho
aconteceram, dizem, numa tentativa de adequar A Lei do Amor ao gosto do público. O que mostra que intervir no
andamento de uma novela problemática não é a melhor solução, pois desfigura a
trama de tal modo que não consegue atrair um novo público e, ainda, afasta o
público inicialmente conquistado. Uma pena. A
Lei do Amor criou as melhores expectativas e saiu de cena lotada de
problemas.
André Santana
5 Comentários
Olá, tudo bem? Eu já desconfiava que seria um grande fracasso nas chamadas de estreia. Sangue Bom já tinha apresentado vários problemas em sua construção. Foi uma novela bastante irregular. O mesmo ocorreu com A Lei do Amor. Os autores repetiram os mesmos erros e até foram ampliados. Esta novela seria das onze. E para adaptá-la ao horário das nove, criaram um sem número de histórias e personagens sem sentido algum. Farei meu balanço com os pontos positivos e negativos. Aguarde. Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net
ResponderExcluirNão achei Sangue Bom problemática. Gostei bastante da trama das sete. Mas A Lei do Amor, não tem como defender. Foi um horror!
ExcluirO que mais senti falta nessa novela, desde o início, foi de emoção. Tudo era ágil demais, se resolvia muito rápido. Não dava tempo de se envolver com os personagens e seus dramas. As imagens meio nubladas e a direção sem graça também atrapalharam. Acredito também que mexeram rápido demais. Talvez se tivesses deixado os autores seguirem em sua proposta inicial, a novela poderia ter sido melhor.
ResponderExcluirEu acho que as primeiras mexidas eram necessárias, pois eram muitos personagens com tramas bobas correndo paralelamente, que a novela parecia sem foco. Mas depois foram remendando tramas e a coisa degringolou.
ExcluirNão foi uma boa novela, mas pra mim menos pior que as monótonas Em Família e Velho Chico e as sem noção Babilônia, Salve Jorge e A Regra do Jogo. A reta final foi muito boa. A crise estava em 2016. Quando o calendário mudou pra 2017 a novela incrivelmente melhorou tanto em audiência quanto na história. Só o último capítulo que deixou muito a desejar.
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