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"Vade Retro" diverte ao brincar com o terror

Alexandre Machado e Fernanda Young são donos de um texto sem meio-termos: ou se ama, ou se odeia. Em seus trabalhos, é muito comum brincarem com os gêneros narrativos, ao mesmo tempo em que se disparam diálogos rápidos e cheios de ironia e humor corrosivo. Por isso mesmo, a única das séries assinadas pela dupla a agradar gregos e troianos foi Os Normais, por ser uma comédia de costumes sobre a vida de um casal, o que gerou identificação imediata e tornou Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) fenômenos.

O que veio depois disso foram sátiras sem tanta identificação. Os autores brincaram com o mundo das celebridades em Minha Nada Mole Vida; com a ficção científica em O Sistema; com o serviço público nacional em Os Aspones; com o cinema-catástrofe em Como Aproveitar o Fim do Mundo; e com os quadrinhos e o universo pop em O Dentista Mascarado. Também retornou ao mundo dos casais, desta vez com narrativa de documentário, em Separação!?. Ou seja, tais séries vinham propondo universos satíricos que agradavam quem estava inserido no segmento satirizado, mas não fazia muito sentido para o espectador não familiarizado com tais universos, daí Alexandre Machado e Fernanda Young jamais repetirem o sucesso de Os Normais.

E a dupla retornou ao ar na Globo, novamente com a proposta que lhes caracteriza em Vade Retro, que estreou na semana passada. Desta vez, a brincadeira é com o sobrenatural, usando da linguagem dos filmes de terror para fazer uma comédia. Não faltam elementos sacros e religiosos na nova aposta, que mostra a relação entre uma advogada que foi beijada pelo Papa, a doce Celeste, e um empresário misterioso que mais parece o próprio diabo, que carrega o singelo nome Abel Zebu. Monica Iozzi e Tony Ramos dão vida a estes dois tipos que, de cara, já formam uma parceria bastante vitoriosa.

Verdade seja dita, Monica não é uma atriz genial, como é uma apresentadora genial. Mas é correta, tem bom timing para o humor e convence bem fazendo um tipo meio sem graça, e que carrega certa ingenuidade. Por outro lado, Tony Ramos usa todo o seu arsenal para fazer um Abel verdadeiramente diabólico. O ator usa o carisma que lhe é peculiar para dar a Abel Zebu um charme todo especial. Juntos, a dupla funciona muito bem. Tony e Monica fazem uma excelente dobradinha, e Celeste e Abel juntos provoca um magnetismo dos mais interessantes.

Além dos protagonistas, Vade Retro traz um elenco coadjuvante também muito competente. O maior destaque é Cecília Homem de Mello, que vive a simpática Leda, mãe de Celeste. Uma senhorinha boa, mas dona de uma língua afiada. Juliano Cazarré também está ótimo como Davi, namorado de Celeste, assim como Luciana Paes se destaca vivendo Kika, secretária da advogada. Mas quem rouba a cena mesmo é Maria Luisa Mendonça, trazendo mais uma desajustada deliciosa à sua já ampla galeria. Lucy Ferguson é demais!

E o texto de Machado e Young segue afiado. Não faltam tiradas espertas, muitas referências pop, besteirol, escatologia e, claro, citações aos grandes clássicos do terror, já que Vade Retro brinca justamente com isso. Além da óbvia referência a O Advogado do Diabo, a série brinca também com O Exorcista, A Profecia, dentre outros clássicos do gênero.

Por isso, Vade Retro não é uma comédia das mais palatáveis para quem estava acostumado com o texto “água-com-açúcar” de tramas como Tapas & Beijos ou Chapa Quente, humorísticos que ocupavam a primeira linha de shows da Globo tempos atrás. Por isso mesmo, não deixa de ser uma ousadia da emissora em apostar numa comédia de mais alta voltagem nesta faixa, já que, anteriormente, os trabalhos de Alexandre Machado e Fernanda Young eram vistos, sempre, após às 23 horas, a maioria às sextas-feiras. Vai ser interessante acompanhar a reação deste novo público a um produto como Vade Retro.

Vade Retro, além do texto afiado e ótimo elenco, ainda conta com uma direção certeira de Mauro Mendonça Filho. Além disso, a trama é produzida pela O2 e se passa numa São Paulo pouco mostrada pela própria Globo. Por estar sob o guarda-chuva de uma produtora, a série imprime um novo olhar, dando a Vade Retro uma cara bastante diferente de outras séries da Globo. Tudo parece mais real, com locações ao invés de cenários, e takes que valorizam a ambientação. Enfim, Vade Retro começou muito bem. Aguardemos o desenrolar dos episódios.

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André Santana

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6 Comentários

  1. Olá, tudo bem? É chocante para os telespectadores de Pai Herói no VIVA acompanhar Tony Ramos envelhecido em Vade Retro....Rs.. É.. O tempo passa para todos... É uma série com a cara e linguagem de Alexandre Machado e Fernanda Young... Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net

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  2. O texto é delicioso. A gente tem um gênio que é o Tony Ramos e Mônica cumpre bem seu papel e a Maria Luiza Mendonça surge mais uma vez divinamente ou (diabolicamente) inspirada!

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    1. Eu amoooo Maria Luiza Mendonça fazendo papel de maluca! Hahaha!

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  3. Veremos como uma serie que brinca com temas religiosos ou terrror se sai

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    1. Não está em horário adequado. O público pós-novela ainda é muito heterogêneo, e muitos não gostam que "brinquem com o sagrado". Eu acho o texto muito bom!

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