Há algo de novo no reino de Gloria Perez com A Força do Querer. Talvez não somente no
reino de Gloria Perez, mas também no reino dos folhetins atuais. Se, hoje em
dia, a discussão sobre feminismo e liberdade de gênero está em alta, concomitantemente,
os moldes clássicos das novelas estão sendo colocados em xeque. Um dos
principais motes das novelas, o par romântico envolvendo um mocinho heroico e
uma mocinha em perigo, parece já não fazer mais sentido nos dias de hoje.
Já houve novelas no qual o romance central não era tão
central assim, é verdade. Mas, em A Força
do Querer, a fórmula dá um passo além, ao colocar as mulheres protagonistas
“ajudando” umas às outras. Isso ficou bem claro na cena do parto de Ritinha
(Isis Valverde): não foi nenhum de seus dois maridos, Ruy (Fiuk) e Zeca (Marco
Pigossi), que fez o parto e levou a amada nos braços. Foi Jeiza (Paolla
Oliveira) quem salvou Ritinha.
Ou seja, A Força do
Querer, mesmo sendo bastante calcada no folhetim tradicional, subverte a
ordem do mesmo ao fazer de suas três protagonistas as únicas heroínas, de fato,
da história. Conforme a trama vai se desenrolando e as histórias de Jeiza,
Ritinha e Bibi (Juliana Paes) ficam cada vez mais entrelaçadas, as três se
mostram autossuficientes em vários sentidos. Todas elas vivem seus amores, é
verdade, mas não precisam de “seus homens” para andar para a frente. Elas se
resolvem.
Isso, sem dúvidas, é um avanço. Se, num passado não tão
distante, final feliz em novela significava ter um par romântico (mesmo se
tirado do éter nos segundos finais do último capítulo), A Força do Querer mostra que as relações pessoais de suas heroínas
não estarão, necessariamente, ligadas aos seus respectivos pares. E o mais
interessante disso tudo é que Gloria Perez consegue isso ao mesmo tempo em que
cria seus pares, e instiga o público a torcer por eles. É inegável que a
ciranda amorosa de A Força do Querer
é uma das melhores e mais empolgantes dos últimos tempos.
E vale lembrar que este protagonismo do feminino em A Força do Querer não é um caso isolado.
Malhação – Viva a Diferença, de Cao
Hamburger, também chama a atenção por ser a primeira temporada da história da
novelinha a não ser centrada num par romântico. Em vez disso, são cinco meninas
as heroínas da história. E, pelos excelentes índices de audiência das duas
produções, ficou claro que o público aceita e deseja histórias assim. Não há
dúvidas de que estão bem conectadas à contemporaneidade.
André Santana
2 Comentários
Estou amando a novela!
ResponderExcluirTambém tenho curtido muito!
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