Ao que tudo indica, a Globo está desenvolvendo uma apreço a séries “de
época”. Depois de Nada Será Como Antes,
um romance passado nos anos 1950 sobre o início da TV no Brasil, a emissora
aposta agora em Cidade Proibida,
desta vez uma série de detetive. A nova produção chama a atenção pelo tom noir,
misturando mistério, humor e certo glamour.
No Rio de Janeiro dos anos 1950, Zózimo Barbosa (Vladimir Brichta) é um
detetive particular especializado em casos de traição. Charmoso, está sempre
usando a sua lábia sobre as belas mulheres que o procuram. Vive uma relação sem
compromisso com a prostituta Marly (Regiane Alves), que é apaixonada por ele.
Também está sempre em um bar frequentado pelo policial Paranhos (Ailton Graça)
e o gigolô Bonitão (José Loreto). No primeiro episódio, Zózimo é envolvido numa
arapuca por Lídia (Claudia Abreu), um amor do passado.
O tom é dos filmes clássicos de detetive, com narração em off do detetive
passando as impressões ao público, e a indefectível reviravolta no roteiro, que
desmascara o verdadeiro vilão do episódio perto do fim. No entanto, ao assistir
Cidade Proibida, não há como não
fazer uma comparação com Mad Men,
premiada série estadunidense sobre o mundo publicitário dos anos 1960. Claro,
por ser uma produção americana da TV a cabo, Mad Men tinha uma ousadia estética e de roteiro que a coloca
anos-luz à frente de Cidade Proibida,
que é bem mais convencional. No entanto, mesmo com esta diferença, as duas
séries têm como uma de suas molas propulsoras a abordagem da época retratada,
sobretudo no que se refere aos ambientes ditos essencialmente masculinos.
Em Mad Men, os homens davam as
cartas em importantes cargos e negócios, enquanto as mulheres eram donas de
casa. As poucas que trabalhavam eram secretárias, submissas aos chefes homens e
vistas quase com maus olhos. Cidade
Proibida também tem este traço, tanto que a única mulher de seu elenco fixo
é Regiane Alves, vivendo uma prostituta, o que a credencia a frequentar
ambientes masculinos e conviver com os homens de igual para igual. Mesmo assim,
Mad Men colocava suas mulheres como
personagens fortes e, mesmo em ambientes masculinos, eram mostradas como
agentes da situação. Não eram passivas, embora submetidas às condições da
época.
Falta este contraponto à Cidade
Proibida. Não chega a ser um problema, já que está de acordo com a época
mostrada, mas nestes tempos em que se discute tanto o machismo e o papel da
mulher na sociedade, uma série nestes moldes soa antiquada. Mesmo assim, Cidade Proibida tem suas qualidades. A
série criada por Mauro Wilson e Maurício Farias, baseada em O Corno Que Sabia Demais, HQ de Wander
Antunes, é charmosa e traz algo diferente ao horário de exibição. A direção de
Maurício Farias é certeira e o elenco, afinadíssimo. Não reinventa a roda e nem
surpreende, mas pode divertir.
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André Santana
2 Comentários
Resumindo: A TV está careta demais. Tudo é "moldado' de acordo com o politicamente correto.
ResponderExcluirAmigo, machismo não está com nada. Não é questão de "moldar" tudo ao politicamente correto, e sim oferecer algo além do machismo puro e simples como se fosse algo aceitável. Não é. Mesmo em se tratando de uma produção de época, quando a cultura era assim mesmo, não seria nada mal se a série, ao menos, colocasse algum contraponto ao machismo exacerbado. Do jeito que está, a série não dialoga com os tempos atuais, e isso é um erro grave. Não é mimimi, é a evolução social e cultural, mesmo!
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