Para o amante da teledramaturgia brasileira, nada é mais saboroso que
ver dois atores veteranos, donos de trajetórias impecáveis e reputação ilibada,
estarem ainda em plena atividade. Mais do que isso: tinindo, frescos, trazendo
novidades em seus trabalhos mesmo após anos nesta estrada e já repetindo todos
os tipos possíveis e imagináveis. Por isso mesmo, dentre tantas qualidades, a
nova novela das seis da Globo, Tempo de Amar, tem o trunfo de ter Tony
Ramos e Regina Duarte encabeçando o elenco, e trazendo novas cores, dando vida
a personagens que comumente não vivem.
Tony é José Augusto, o implacável pai da mocinha Maria Vitória (Vitória
Strada). Rígido, segue à risca seu papel numa sociedade patriarcal dos anos 1920.
Sabe ser amoroso com a filha, como um bom pai, mas também impõe (ou tenta
impor) suas vontades acerca do destino da herdeira. Ao mesmo tempo, tem na
amargurada governanta Delfina (Letícia Sabatella, outra atriz que sempre dá
gosto ver em cena) um arrimo, com a qual tem uma filha bastarda. A moça é a
empregada, mas é também a amante, concubina, e sofre com o papel coadjuvante
que exerce na vida do patrão.
Já Regina é Madame Lucerne, uma francesa que toca um cabaré no Brasil.
Em meio ao glamour do lugar, Lucerne canta, dança, ri e se coloca como grande
parceira dos homens que frequentam o espaço. É uma personagem alegre, solar, do
tipo que circula em qualquer ambiente sempre com presença marcante. E é de
carne e osso, sabendo ser doce e compreensiva quando precisa, mas também tem
personalidade forte, se coloca, não leva desaforos. Um tipo vívido, no qual
a atriz consegue colocar uma pimenta a mais e sair do piloto automático
acionado diante das mocinhas sofredoras que viveu nestes anos todos de TV.
Tony Ramos e Regina Duarte são dois atores-grifes da televisão
brasileira, e que construíram uma carreira bem-sucedida nas novelas vivendo
heróis marcantes. Não que eles não tenham se aventurado em outros tipos. Tony,
apesar de viver bonzinhos até mesmo na idade madura, como em Belíssima e
Passione, também se aventurou em tipos distintos, como Boanerges em Cabocla,
e até como vilão, em Mad Maria, O Rebu e, mais recentemente, A
Regra do Jogo. Regina também deu vida a um sem-número de heroínas,
incluindo aí três Helenas marcantes de Manoel Carlos, mas também soube se
reinventar em outros tipos menos convencionais, como a clássica Viúva Porcina,
de Roque Santeiro, ou ainda a histérica Clô Hayalla, de O Astro
(onde fez parceria com o mesmo Alcides Nogueira, autor de Tempo de Amar),
e a maravilhosa Ester, de Sete Vidas. Mesmo assim, as imagens de
bom-moço e boa-moça ainda seguem bastante veiculadas aos atores, e vê-los
novamente fora da curva é sempre um alento e um prazer.
Além da presença destes nomes fabulosos, Tempo de Amar tem
outros predicados. A trama de Alcides Nogueira e Bia Corrêa do Lago, baseada em
argumento de Rubem Fonseca, é um folhetim clássico requintado e da melhor
qualidade. Trata-se do bom e velho amor proibido, centrado em mocinhos de
classes sociais diferentes. Basicamente, Inácio (Bruno Cabrerizo) e Maria
Vitória se conhecem, se apaixonam, mas não podem viver juntos, já que, além das
classes distintas, a mocinha é prometida a Fernão (Jayme Matarazzo).
Ou seja, Tempo de Amar é um folhetim assumido, que usa sem
pudores de todos os recursos da fórmula para contar uma história de amor ao
espectador. E o faz com muito requinte, seja pelos diálogos e situações muito
bem armados pelo autor Alcides Nogueira, seja pela belíssima fotografia,
impressão digital do diretor Jayme Monjardim. Os enquadramentos que valorizam
as paisagens das cenas externas proporcionam um espetáculo visual de grande
deslumbramento, enquanto os cenários criam com perfeição o ambiente da época.
O elenco, além de Tony Ramos e Regina Duarte, traz outras estrelas, que
imprimem ainda mais qualidades à obra. Nívea Maria (Henriqueta), Deborah Evelyn
(Alzira), Marisa Orth (Celeste Hermínia), Werner Schünemann (Coronel Francisco),
além da já citada Letícia Sabatella, e tantos outros, tiveram presenças
marcantes neste início. Dentre os novos nomes, Andreia Horta promete mais um
bom trabalho como a vilã Lucinda. Além disso, Tempo de Amar tem o trunfo
de lançar atores como protagonistas, algo não raro na obra televisiva de Jayme
Monjardim. As apostas em Vitória Strada e Bruno Cabrerizo mostraram-se, neste
primeiro capítulo, certeiras.
Tempo de
Amar correu seus riscos, ao apostar em mais um
romance de época requintado, fórmula que nem sempre agrada o espectador do
horário, que talvez prefira algo mais leve. Basta lembrar de Força de um
Desejo, outra obra requintada do horário das seis em 1999 (cujo argumento
era do mesmíssimo Alcides Nogueira, diga-se) que teve desempenho mediano na
audiência. Outra obra de época de Nogueira, o remake de Ciranda de Pedra
de 2008, também não foi o sucesso esperado e até interrompeu a linha de novelas
de época das seis que vinha de anos. Mais recentemente, Lado a Lado, de
2012, registrou um dos piores índices de audiência da faixa das seis, mesmo
sendo aplaudida pela crítica e até ganhado um Emmy. Além disso, há o horário de
verão por vir, e o forte calor pode não combinar com os suntuosos figurinos da
história.
Mesmo assim, a primeira semana de Tempo de Amar apresentou bons
resultados no Ibope, e a trama mostrou fôlego para segurar o bom público
herdado da bem-sucedida Novo Mundo. É uma trama com muitas qualidades e
apresenta todas as condições de manter tal resultado. No que depender da
qualidade do elenco, texto e direção, já é sucesso.
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André Santana
2 Comentários
Olá, tudo bem? Obra requintada???? Tempo de Amar aposta nos surradíssimos clichês da teledramaturgia....O estilo de direção do Jayme Monjardim combina com a faixa horária e é um diferencial para a obra. Ainda comentarei no meu blog. Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net
ResponderExcluirOi Fabio, tudo bem? Sim, requintada! Preste atenção na qualidade dos diálogos, na estrutura bem armada da novela e na reconstituição da época. Sim, é uma história velha, mas, no meu ponto de vista, ela ainda funciona, se bem feita. O que é o caso. E a novela está indo bem, sinal de que esta trama "surrada" ainda tem seus fãs. Abraço!
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