Com o final da temporada Viva
a Diferença na última semana, Malhação
foi elevada a um novo patamar. O programa nasceu como um seriado adolescente
fantasioso, se tornou uma soap opera com certo compromisso social, e evoluiu ao
ponto de se tornar uma marca, até chegar ao formato atual, de novela fechada
que troca autores, diretores e elenco a cada temporada. Esta última mudança
livrou Malhação de amarras,
permitindo mudanças de tom e de narrativas a cada nova história.
E foi este formato que tornou possível Viva a Diferença, temporada que mostrou que Cao Hamburger, nome
forte do entretenimento infantojuvenil brasileiro, poderia ser um excelente
novelista. Ao propor narrar a história das “five”, cinco meninas de universos
distintos que se conhecem ao participarem de um parto num metrô, Cao mostrou
domínio do folhetim, mas também demonstrou segurança em seu próprio trabalho ao
incluir no enredo novos paradigmas.
Deste modo, Malhação -
Viva a Diferença ficará marcada como a temporada que melhor soube abordar a
temática adolescente, sem descambar para um tratado sociológico, mas com os pés
bem fincados na realidade. Os romances de folhetim permaneceram na essência,
mas ganharam contornos menos inspirados em contos de fada e mais próximos da
realidade. Keyla (Gabriela Medvedovski), Benê (Daphne Bozaski), Tina (Ana
Hikari), Lica (Manoela Aliperti) e Ellen (Heslaine Vieira) tiveram seus
conflitos amorosos, mas também familiares e sociais. E quebraram barreiras.
A partir daí, Viva a
Diferença tocou em assuntos importantes e urgentes. Falou sem pudores de
gravidez na adolescência, alcoolismo, homossexualidade, racismo, homofobia,
abuso sexual, fake news e tantos outros assuntos que estão na ordem do dia.
Além disso, teve como mote central a educação brasileira, explorando com
competência os domínios de seus dois cenários centrais, o colégio público Cora
Coralina e o colégio privado Grupo. E deixou a mensagem de que um ensino
público de qualidade é possível, quando há o interesse da sociedade, dos
gestores e dos professores. Mensagem que parece puramente idealista, mas não é.
Exemplos positivos existem.
E o melhor de tudo é que Cao Hamburger e seus colaboradores
conseguiram tratar de todos estes assuntos sem cair na panfletagem gratuita.
Toda a temática esteve amarrada a uma trama envolvente, que conseguia passar
sua mensagem sem perder de vista o entretenimento. E o melhor: sem hipocrisia.
Temporadas passadas de Malhação já
tentaram tratar de assuntos sérios, mas tudo era mostrado com tanto pudor e de
maneira tão hipócrita que colocava tudo a perder.
E o último capítulo de Malhação
- Viva a Diferença foi de uma sensibilidade rara na televisão brasileira.
As “five” terminaram o Ensino Médio e se despediram, já que cada uma delas
partirá para novas experiências. Foi uma despedida emocionante, e que tocou
fundo no sentimento do espectador. Um retrato fidedigno desta fase da vida onde
tudo é tão intenso, que parece que vai durar para sempre. Mas que a vida trata
de mostrar que os ciclos se encerram para outros possam começar. Foi lindo. Viva a Diferença deixa saudades.
Nesta semana, também estreou Malhação – Vidas Brasileiras. A grande novidade vista na estreia da
nova temporada é o protagonismo da história que, pela primeira vez, caberá não
a um casal adolescente (ou cinco amigas adolescentes, como na trama anterior),
e sim à professora. Gabriela (Camila Morgado) é uma dedicada profissional da
educação que comanda uma sala de aula lotada de jovens cheios de vida da escola
Sapiência. O primeiro capítulo explorou sua vida pessoal, mostrando sua
família, e também sua vontade de ajudar as pessoas, seja oferecendo apoio aos
alunos, seja tentando promover a transformação social pela educação. Por isso,
está disposta a trocar o emprego na Sapiência por um trabalho numa ONG. No
final do capítulo, ela se emocionou com uma homenagem de seus alunos, que
imploram para que Gabriela permaneça no colégio.
Ou seja, Gabriela é mostrada como uma professora do bem,
amiga dos alunos e disposta a fazer a diferença na sociedade em que vive. Uma
personagem que beira o idealismo. E que remete, de imediato, à antológica
professora Helena, a grande protagonista da novela infantil mexicana Carrossel. Vivida por Gabriela Rivera na
versão da Televisa, e por Rosane Mulholland na versão brasileira produzida pelo
SBT, a professora também era um ser idealista, que acreditava num futuro melhor
e que participava ativamente da vida de seus alunos.
A atual Malhação é
inspirada em 30 Vies, uma série
canadense, e tem a proposta de revezar o protagonismo entre os adolescentes que
compõem a sala de aula de Gabriela. Ou seja, a cada duas semanas, um dos jovens
terá sua história aprofundada, e será ajudado pela professora. O formato também
é bem parecido com Carrossel. Mas,
claro, Vidas Brasileiras discutirá
conflitos típicos juvenis, o que a diferenciará de Carrossel. Mas não deixa de ser curiosa esta estrutura semelhante.
A proposta é boa e pode render. Entretanto, a autora
Patrícia Moretzohn deve tomar cuidado na concepção de Gabriela, já que a
personagem, tão do bem, anda no limiar entre o heroísmo e a chatice. Não chegou
a incomodar no primeiro capítulo, muito por causa do carisma de Camila Morgado,
que imprimiu credibilidade à personagem. Na torcida para que continue assim.
André Santana
2 Comentários
Olá, tudo bem? Na realidade, a Globo acerta ao colocar um subtítulo agora nas temporadas de Malhação. Eu já teria aposentado essa expressão Malhação há muito tempo. A academia já desapareceu e o título permanece..... Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net
ResponderExcluirCom certeza, Fabio! Os subtítulos ajudam a fazer com que cada Malhação seja encarada como uma trama nova, como uma novela diferente a cada estação. Creio que é questão de tempo para sumirem com a marca Malhação. Abraço!
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