"Será que chove?" |
No ano passado, ao lançar Os Dias Eram Assim, a Globo optou por alterar a nomenclatura do que
vinha sendo chamada, desde 2011, de “novela das onze”. A história de Ângela
Chaves e Alessandra Poggi foi a primeira novela do horário a ser chamada de
“supersérie”. Segundo a emissora, a mudança de nome se deu em razão da
percepção de que as tramas exibidas no horário vinham se tornando um produto
híbrido, pois mesclavam a estrutura clássica das novelas com a narrativa mais
arrojada das séries. Surgiu, então, o nome “supersérie”.
Entretanto, em 2017, Os
Dias Eram Assim não fez jus ao título “supersérie”. A história tinha uma produção
caprichada, bons atores e uma impecável reconstituição dos anos 1960, 70 e 80,
mas pecava na história central rasa, que nada mais era que um típico amor
impossível tendo como pano de fundo a ditadura militar. Ou seja, foi uma novela
quase “água com açúcar”, que ganhou um tom mais adulto apenas por algumas
sequências mais ousadas de nudez ou violência.
Mas Onde Nascem os
Fortes, estreia da última segunda-feira, 23, na Globo, já mostrou que tem
muito pouco de novela. Em sua primeira semana, a trama de George Moura e Sergio
Goldenberg deixou claro que vai além do folhetim. Não que a trama fuja dos
elementos clássicos da narrativa diária televisiva (e nem é essa a intenção),
mas a história procura se colocar de maneira diferente. Grande takes silenciosos
mesclados a personagens que dizem a que vieram não por palavras, mas por
gestos, caracterizam a produção.
Há ali um interesse romântico principal, a mocinha Maria
(Alice Wegmann, ótima em cena) e o mocinho Hermano (Gabriel Leone, também muito
bem), em meio à paisagem arenosa da fictícia Sertão. A mãe dela, Cássia
(Patrícia Pillar), já avisou que não gosta do lugar, enquanto a mãe dele,
Rosinete (Débora Bloch) se ressente com seu casamento frustrado com Pedro
Gouveia (Alexandre Nero) e pela solidão que sente ao cuidar sozinha da filha
doente. Enquanto Maria e Hermano se conhecem, Nonato (Marco Pigossi), o irmão
de Maria, se envolve numa briga justamente com Pedro Gouveia, que se mostra
como o homem forte do local. Neste conflito de cores fortes, há o contraste
entre a modernidade e o coronelismo arcaico, mostrando os “poderosos” que fazem
a lei.
Logo depois do embate entre Nonato e Pedro Gouveia, o rapaz
desaparece. Maria, já envolvida com Hermano, se desespera. Cássia, então, vai
até Sertão a contragosto em busca do filho. Paralelamente, há o juiz Ramiro
(Fábio Assunção fazendo um tipo novo em sua galeria), inimigo de Pedro Gouveia,
que tem um embate sério com o filho Ramirinho (o sempre ótimo Jesuíta Barbosa).
Ele quer que o jovem o ajude em seus negócios escusos, mas Ramirinho quer mesmo
seguir se apresentando como a Shakira do Sertão.
Tudo isso mostrado em boas cenas e uma apresentação de
personagens que fugiu do lugar-comum. Os protagonistas foram apresentados em
ação, sem firulas, numa narrativa que não chega a ser difícil, mas que também
não entrega tudo pronto ao espectador. Algo na linha que os autores George
Moura e Sergio Goldenberg e o diretor José Luiz Villamarim já entregaram
anteriormente, com Amores Roubados e O Rebu.
O Rebu, aliás, foi exibida como “novela
das onze” em 2014, mas já havia trazido algo além de uma novela. O remake do
clássico de Bráulio Pedroso chamou a atenção não apenas pela narrativa
não-linear, que fazia um looping temporal vertiginoso, mas também pela maneira
arrojada da apresentação dos personagens, das relações que iam se desenrolando
e do conflito que os envolvia. Injustamente lembrada apenas pela sua audiência
fraca, O Rebu, na verdade, foi a
primeira “novela das onze” a, verdadeiramente, imprimir elementos da narrativa
seriada em sua estrutura, característica que fez o próprio canal a rebatizar a
novela das onze de supersérie anos depois. Ou seja, na prática, O Rebu foi a primeira supersérie, de
fato, a ser exibida pela Globo.
Onde Nascem os Fortes vai pelo mesmo caminho, com a
vantagem de ter uma narrativa mais palatável, que deve agradar tanto aqueles
que curtem uma boa novela, como aqueles que preferem um produto mais bem
cuidado, tanto na narrativa quanto na direção. Por isso mesmo, tem grandes
chances de agradar. A conferir.
André Santana
2 Comentários
Olá, André, tudo bem? Depois de 14 anos na blogosfera do UOL, comunico que o portal resolveu desativar o sistema do Uol Blogs e, com isso, tive que entrar no Blogspot. Segue o novo endereço do meu blog. Sim. É triste tudo isso. Conto com sua visita. www.blogfabiotv.blogspot.com.br Abs, Fabio
ResponderExcluirOi Fabio! Percebi que o UOL Blogs não vinha mais recebendo investimentos porque, quando tentei mudar meu template, há dois anos, esbarrei numa série de problemas técnicos que me deixaram bem frustrados. Por isso, resolvi ter meu próprio domínio e migrar para o Blogspot. Aqui, fiquei bem mais satisfeito, as possibilidades são muito maiores do que no UOL. Só é uma pena pela história que construímos lá: você e eu somos meio que cria do UOL Blogs, tivemos momentos de muita valorização lá, quando o UOL começou a dar espaço e divulgação para os blogueiros independentes. Essa era acabou, mas estamos juntos aqui no Blogspot! Abraço!
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