"A gente não é engraçado?" |
Deus Salve o Rei pode ser considerado como um dos
poucos casos de novela que passou por uma intervenção da direção da Globo e
conseguiu, de fato, sair de uma crise. Com dificuldades para estabilizar a
audiência, a novela medieval do estreante Daniel Adjafre recebeu o auxílio do
supervisor de texto Ricardo Linhares e melhorou consideravelmente. Deus Salve o Rei encontrou uma história,
lapidou personagens e cresceu em suas semanas finais, tornando-se uma novela
bem interessante.
Deus Salve o Rei teve um primeiro capítulo
apoteótico. Boas cenas de batalha e suntuosos efeitos especiais chamaram a
atenção. No entanto, as belas imagens não conseguiram mascarar por muito tempo
a falta de uma boa história. Isso porque um erro na concepção dos protagonistas
quase pôs tudo a perder. Afonso (Rômulo Estrela) abriu mão do trono do reino de
Montemor, após a morte da rainha Crisélia (Rosamaria Murtinho) em nome do amor
a uma plebeia, Amália (Marina Ruy Barbosa). Ela, por sua vez, o encorajou a
abrir mão de sua responsabilidade junto a sua família. E o resultado desta
paixão foi que Montemor ficou entregue ao irresponsável Rodolfo (Johnny
Massaro), irmão de Afonso, que conseguiu arruinar o reino com suas ideias
estapafúrdias. Ora, como torcer por um casal que ignorou o sofrimento de todo
um povo?
Além disso, Deus Salve
o Rei teve um erro grave de direção na condução da vilã Catarina (Bruna
Marquezine). O diretor Fabrício Mamberti e a atriz confundiram frieza com
apatia, e Catarina tornou-se uma vilã tediosa e cansativa. Com a mesma
expressão facial e mesmo tom de voz em todas as situações, Catarina aborreceu e
Bruna sofreu muitas e merecidas críticas. E, não bastasse tudo isso, Deus Salve o Rei tinha tramas paralelas
desinteressantes e parecia perder o tempo de seus capítulos mostrando
personagens inexpressivos em situações que não iam a lugar nenhum.
Vale lembrar que Deus
Salve o Rei, mesmo com todos estes problemas no texto, nunca foi um grande
fracasso de audiência, como parecia pelas notícias que costumavam sair sobre a
trama. A novela não conseguiu segurar os bons índices de audiência de Pega Pega, considerada um sucesso, mas
se manteve na média de audiência do horário nos últimos anos, com números
próximos a Rock Story (que não foi considerada
um fracasso, como de fato não foi). O problema que a direção da Globo constatou
em Deus Salve o Rei foi o fato de a
novela oscilar muito nos números, demonstrando dificuldades em consolidar um
público. A intervenção, portanto, foi para tentar corrigir este erro. Daí veio
a escalação de Ricardo Linhares como supervisor de texto, que propôs mudanças
que fizeram a novela melhorar consideravelmente.
Com a chegada de Linhares, personagens sem função foram
limados, e outros ganharam novos rumos. Além disso, a trama ganhou outros
personagens, que chacoalharam a história e a colocaram num trilho mais bem
definido. Atores experientes entraram em cena para que a novela, repleta de
novos atores, ganhasse rostos mais conhecidos. Nesta fase, surgiu o Rei Otávio
(Alexandre Borges), rei da Lastrilha, e a trama passou a explorar mais a relação
entre todos os reinos da Cália. Um jogo de poder entrou em cena como um
poderoso fio condutor. As relações entre Otávio e Catarina fizeram a novela
ganhar em conflitos, e a decisão de Afonso de sair das sombras para finalmente
brigar pelo trono deu a história que Deus
Salve o Rei tanto precisava.
Além disso, a “nova fase” valorizou personagens que já
existiam, mas que eram explorados pontualmente. A bruxa Brice (Bia Arantes),
por exemplo, ganhou uma história própria, e cresceu na trama quando passou a
buscar pela sua filha perdida. E a revelação de que sua filha era justamente
Catarina fez com que Deus Salve o Rei
ganhasse novas cores e possibilidades. Fora Brice, a novela mostrou outras
bruxas, como Agnes (Mel Maia) e Selena (Marina Moschen), além de aprofundar na
temática das caças às bruxas da Idade Média. A chegada do inquisidor Bartolomeu
(Stenio Garcia), que acusou Amália de bruxaria, acrescentou não apenas mais
conflitos ao enredo, mas também deu a Deus
Salve o Rei uma possibilidade de dialogar com a contemporaneidade. Isso
porque, neste contexto de caça às bruxas, foi permitido falar sobre preconceito
e intolerância. Assim, Deus Salve o Rei
corrigiu mais um problema: a trama era completamente distante da nossa
realidade, mas conseguiu encontrar ecos com os assuntos da vez.
Por fim, a “intervenção” acrescentou mais humor a Deus Salve o Rei. As mudanças de rota
tiveram o cuidado de não trair a proposta mais séria da trama, mas permitiu com
que as tramas paralelas de humor ganhassem um tom a mais. Neste contexto, a
parceria entre Rodolfo e a princesa Lucrécia (Tatá Werneck) foi valorizada,
ganhando um texto mais espirituoso e que brincava com todo o universo da trama,
com elementos de metalinguagem, farsa, pastelão e besteirol, tudo muito bem
dosado. “Quando receber a mensagem, por favor me responda. Odeio quem visualiza
e não responde”, diz Lucrécia a Rodolfo quando pede que ele mande bilhetes por
meio de um pombo-correio.
O resultado apareceu, e Deus
Salve o Rei viu sua audiência crescer na reta final. E, faltando dois
capítulos para seu desfecho, já é possível afirmar que a Globo foi
profundamente feliz nas mudanças implantadas durante a novela. Deus Salve o Rei, que parecia rumar para
a prateleira das tramas esquecidas da Globo, sairá de cena de maneira digna. No
fim, foi mais uma boa experiência do canal.
André Santana
6 Comentários
Olá, tudo bem? Deus Salve o Rei serviu para mostrar as limitações da Bruna Marquezine. Isso já tinha sido observado, principalmente, na novela Em Família.....DSR poderia ter sido um desastre, mas não foi. Mesmo assim, é válido salientar que está muito longe de ser ótima e inesquecível. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirOi Fabio, tudo bem? Não disse que foi ótima, mas reconheço que melhorou muito com as mudanças implantadas. E, vamos combinar, isso é bem raro. Eu acho que a Bruna até melhorou no decorrer da trama, mas concordo contigo que ela nunca foi uma atriz maravilhosa. É, no máximo, correta. Abraço!
ExcluirOi André. Eu por aqui de novo rs.
ResponderExcluirConfesso que esperava mais de DSOR e acho que a novela será esquecida.
Não gostei nem da mocinha (enfadonha, bobinha demais), nem da vilã robótica da Robôquezine. O mesmo vale pra Afonso (Rômulo, ótimo, mas como você bem falou, não deu pra torcer pela inconstância dele enquanto rei). Do núcleo o melhor personagem foi Rodolfo, aliás, Massaro deitou e rolou num personagem cheio de nuances (pra mim, o grande destaque do elenco).
Acho que a novela deu um banho no uso de efeitos, cenários, figurinos e acessórios todos muito bem cuidados. A abertura também, uma das mais lindas dos últimos tempos, mas creio que faltou mais história à obra. Não dá pra ter uma boa novela, se não temos bom roteiro. Concordo contigo que as mudanças deixaram-na mais agradável. Eu sempre ri muito da Lucrécia e do Rodolfo. E o plot da inquisição foi o melhor. Creio até que se tivesse isso desde o início seria outra novela. Também gostei do lance da peste, que aliás levou embora muitos do elenco.
Falando em elenco quiseram apostar nas queridinhas da internet e deu no que deu. Faltou mais veteranos (aliás, os que tinham ou morriam ou eram participações. Vale citar a saída de Rosamaria Murtinho - maravilhosa e do Nanini - que depois voltou pra ficar perambulando por aí. Acho um desperdício).
Amei a Selena da Moschen e a participação do Alexandre Borges e do Ricardo Pereira e Bia Arantes - lindíssima (pra mim foram os melhores vilões). Também vale citar o Constantino (José Fidalgo- QUE HOMEM).
Teu texto é excelente e meu comentário ficou enorme HAHAHA.
SUCESSO!
Obrigado, João!
Excluirps: lembrei da lucréciajéssica: "levanta a cabeça princesa, se não a coroa cai" hahahaha.
ResponderExcluirHahahaha! Lucrécia era MARAVILHOSA!
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