"Eu sou má!" |
Na última segunda-feira, 22, a Record exibiu o último
capítulo da novela Jesus. Escrita por
Paula Richard, a trama furou a fila das produções bíblicas da emissora numa
tentativa de estancar a perda de público provocada por Apocalipse, o maior fiasco do canal no segmento. Apesar de não ter
repetido o sucesso de Os Dez Mandamentos,
a saga do Messias (Dudu Azevedo) conseguiu aumentar a audiência do horário,
recuperando parte da credibilidade das novelas da emissora.
Jesus estreou com a boa promessa de
mostrar um Messias mais “humano”, nas palavras da própria autora. Realmente, o
texto da trama foi pontuado pela trajetória de um Jesus bastante acessível, com
um tom mais naturalista. Espertamente, texto e direção fugiram o quanto puderam
da tentação em dar ao protagonista um ar excessivamente divino. Deste modo, a
novela trouxe um homem de carne e osso. Filho de Deus e dono de grande poder de
mobilização. Mas, ainda assim, de carne e osso.
No entanto, tal proposta não encontrou ecos na atuação de
Dudu Azevedo. O ator optou por dar a Jesus um tom etéreo, absurdamente contemplativo.
O que é um erro, tendo em vista que tanto o texto de Paula Richard, quanto os
próprios livros bíblicos deixavam claro que Jesus era um ser dotado de
sentimentos diversos. Mas, na pele de Dudu, o Messias era apenas um ser calmo,
que não se exaltava e com emoções um tanto apagadas. Faltou vigor para um
personagem com o dom de mobilizar tanta gente.
Entretanto, trata-se de um erro comum nas novelas bíblicas
da Record. Sabe-se lá por que, praticamente todos os protagonistas das tramas
da emissora estão sempre com um olhar contemplativo. Em Os Dez Mandamentos, por exemplo, Moisés (Guilherme Winter) começou
a trama com o vigor de um herói. No entanto, após receber a missão divina, ele
simplesmente se apaga. Dá a impressão de que a emissora confunde sabedoria e fé
com apatia.
Isso também pode ser observado na produção que substituiu Jesus, a macrossérie Jezabel, estreia da terça-feira, 23. A nova trama também tem
um profeta na linha de frente, Elias (Iano Salomão). Até aqui, o personagem
também prega adotando este tom contemplativo e pouco natural. Porém, isso não é
necessariamente um problema, já que a novela está centrada na vilã, a
personagem-título vivida pela atriz Lidi Lisboa.
Jezabel é uma nobre da região da Fenícia que se casa com o
príncipe Acabe (André Bankoff), de Israel. Ela arma para se tornar rainha do
lugar e, ao conquistar o posto, se torna implacável contra seu povo. Assim, Jezabel traz uma rara protagonista
mulher dentre as novelas bíblicas da emissora. Mulheres estiveram à frente de enredos
como A História de Ester e Lia, mas foram poucas, comparadas aos
tantos homens que protagonizaram novelas e minisséries do canal. E o fato de
ela ser a vilã da história dá à Jezabel
uma pitada de pimenta. Afinal, finalmente a figura central não é um personagem
contemplativo e de pouca ação. Jezabel faz a trama andar, com muita firmeza e
segurança. E maldades, claro!
Destaque em vários papéis coadjuvantes, sendo o mais
importante deles em Escrava Mãe, Lidi
Lisboa vinha merecendo uma protagonista. No entanto, nestes primeiros capítulos
de Jezabel, seu desempenho foi
irregular. A atriz teve bons momentos, mas exagerou nas caras e bocas nas cenas
mais tensas. Mas nada que comprometa a personagem, que é bastante complexa. Entretanto,
quem roubou a cena na primeira semana foi Hylka Maria. A atriz vive Getúlia,
uma cúmplice de Jezabel que cumpriu a missão de matar o rei Onri (Arthur Kohl).
Hylka faz uma vilã intensa, porém contida, e esteve muito bem nas sequências do
assassinato do rei.
Com Jezabel, a
novelista Cristianne Fridman finalmente volta a assinar uma novela na Record.
Autora de sucessos, como Chamas da Vida
e Vidas em Jogo, ela agora leva sua
experiência em folhetins numa história bíblica. Neste primeiro capítulo,
mostrou que traquejo na função faz a diferença. Jezabel não fugiu do didatismo comum aos primeiros capítulos, mas o
fez de maneira comedida e eficiente. Além disso, o capricho da produção chama a
atenção. O salto de qualidade que as tramas bíblicas da Record deram de Os Dez Mandamentos até aqui impressiona.
Fora que, com Jezabel, a produtora
Formata debuta no segmento das telenovelas. Começou bem.
Em suma, Jezabel
veio trazer alguma novidade em um formato que parecia esgotado. Nesta primeira semana,
mostrou potencial. Mas terá o desafio de convencer o público destas produções,
mais conservador, a acompanhar uma história sobre uma vilã. A conferir.
André Santana
6 Comentários
Olá, tudo bem? Ainda comentarei no meu blog sobre Jezabel, mas acho "engraçado" o depoimento de uma atriz da novela que incentivou o telespectador a assistir pela produção, figurino brilhante e blablablá... O telespectador quer acompanhar uma bela história. Produção é algo beeeeeem secundário... Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirAte porque ter boa lroducao ja virou padrão..ea historia que chama atenção
ExcluirConcordo, Fabio! Claro que é melhor quando a história vem embalada numa produção digna. Mas a trama é sempre mais importante que a produção. Vide as novelas mais antigas da Record e do SBT, como Louca Paixão, Pérola Negra, Fascinação... tramas de produção modesta, mas bem sucedidas, em razão das boas histórias. Abraço, Fabio! Abraço, Miguel!
ExcluirLembrei de Rubi, do SBT, que tinha na protagonista a própria vilã da trama.
ResponderExcluirRubi era sensacional! Rs
ExcluirHahaha eu também gostava. André, você percebeu que até as novelas mexicanas perderam a mão e a relevância. Seria uma crise na dramaturgia mundial? De novelas, digo, porque as séries continuam voando alto.
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