"Isso a Réde Glóbo não mostra!" |
Foram seis temporadas de excelente repercussão e críticas
positivas. Mesmo assim, a direção da Globo decidiu encerrar o humorístico Tá no Ar – A TV na TV. O programa de
Marcelo Adnet e Marcius Melhem, que utilizava formatos televisivos para
promover críticas contundentes sobre a sociedade atual, foi, sem dúvidas, um
divisor de águas na programação humorística da emissora. Por isso, seu final
não significa o fim de seu “espírito”. Pelo contrário. Suas ideias permanecem e
podem ser vistas em vários espaços da grade do canal.
Tá no Ar encontrou uma fórmula própria a
partir de ideias que já haviam sido testadas anteriormente. A sátira à
programação da TV já era a base de TV
Pirata, um clássico do gênero. Casseta
& Planeta também bebeu desta fonte. Também não era a primeira vez que a
Globo citava a concorrência, já que o próprio TV Pirata tinha sátiras de programas do SBT, e até mesmo Os Trapalhões chegou a satirizar a
novela Pantanal, da extinta Manchete.
Mas, sem dúvidas, foi o Tá no Ar que
conseguiu fazer isso com mais regularidade, além de fazer a própria Globo rir
de si mesma.
Com esta carta branca, Tá
no Ar não poupou ninguém. Figuras como Silvio Santos se tornaram comuns na
atração, que satirizou formatos consagrados da concorrência. Novelas bíblicas
da Record. O Brasil Urgente, da Band.
Casos de Família, do SBT. E até João
Kleber, da RedeTV. Estes e outros mais ganharam sátiras no programa global. O
humorístico também satirizou formatos da TV paga, streaming e transformou a
eterna “teoria da conspiração” ao qual a Globo vive envolvida em piada, com o
personagem Militante (Marcelo Adnet).
Apesar de a ideia era não ter quadros fixos, alguns deles
fizeram tanto sucesso que voltavam constantemente. Jorge Bevilacqua (Welder
Rodrigues), o apresentador do Jardim
Urgente (programa policial que denunciava a “violência” do jardim de
infância), passou de apresentador gritalhão a empresário do ramo de acuar
criancinhas. Balada Vip, apresentado
por Rick Matarazzo (Marcius Melhem), que sempre entrevistava o endinheirado
Tony Karlakian (Adnet), era uma sátira à elite paulistana, e acabou se transformando
no game Quem Quer ser um Bilionário?
na última temporada. Poligod, uma
crítica à comercialização das religiões, e a Galinha Preta Pintadinha, uma crítica à intolerância religiosa,
também deixaram claro que não havia assunto proibido no Tá no Ar, por mais espinhoso que fosse.
Deste modo, Tá no Ar
deu início a um processo de “modernização” do humor da Globo. A emissora abandonou
quase que totalmente o formato clássico de humor na TV, com personagens
populares e bordões. A nova Escolinha do
Professor Raimundo é o único humorístico do canal a manter tal fórmula, embora
a tenha “modernizado” ao trazer novos atores revivendo tipos clássicos.
No mais, durante a trajetória do Tá no Ar, a Globo promoveu um importante movimento em seu humor. A
emissora tratou de recrutar Marcius Melhem para propor mudanças no veterano Zorra Total. O tradicional humorístico
das noites de sábado tinha audiência estável. Mas, mesmo assim, a emissora
resolveu apostar numa modernização, lançando o Zorra. Com a mesma proposta de retratar a vida real do Tá no Ar, o Zorra ainda tem a vantagem de ter um formato mais flexível. Assim,
pode atirar para todos os lados.
Além disso, não satisfeita, a Globo tratou ainda de
arrebanhar talentos oriundos da internet. Choque
de Cultura, o programete das tardes de domingo, também veio com uma
proposta mais arrojada. Recentemente, foi a vez de outro “filhote” do Tá no Ar cair nas graças do público: Isso a Globo Não Mostra, do Fantástico. O “festival de memes”
lançado no “show da vida” só existe porque o Tá no Ar abriu caminho para que a Globo começasse a rir de si
mesma. Lady Night, projeto do
Multishow que ganhou a TV aberta, também pode ser considerado um braço deste
novo momento.
Por tudo isso, Tá no
Ar deixa a grade da Globo, mas não sai do ar definitivamente. O legado da
turma de Marcelo Adnet ficará. O humor mais cínico, voltado às críticas sociais
e políticas, e que não explora e nem debocha de minorias, veio para ficar. Sem
dúvidas, é um caminho sem volta. Um bom caminho, diga-se.
André Santana
10 Comentários
Olá, tudo bem? Tá no Ar terminou no momento certo. Concordo. Adorei o programa. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirOi Fabio! Sim, o programa cumpriu seu ciclo com louvor. Abraço!
ExcluirEae André. O programa foi espetacular nas primeiras temporadas, mas depois começou a ter ênfase política e saiu do ar na época certa. O elenco era ótimo!
ResponderExcluirMarcelo, achei que o Tá no Ar sempre teve ênfase política. Talvez isso tenha ficado mais claro neste ano, quando ainda estamos prejudicialmente polarizados. Mas sim, foi um ótimo programa, com uma bela história!
ExcluirSem dúvida nenhuma o Tá no Ar foi uma revolução no humor da Globo da mesma forma que foi a TV Pirata no fim dos anos 80. mesmo saindo do ar deixou legado no Zorra e no Isso a Globo não mostra que pra mim foi uma sacada legal colocar no Fantástico a própria emissora rindo dela mesma.
ResponderExcluirCom certeza, Kleber! A Globo mais "solta" está com a corda toda!
ExcluirÓtimo texto, ainda mais com sua contextualização! Assino embaixo, ainda que eu pense que o programa poderia continuar.
ResponderExcluirObrigado, Alexandre! Olha, como eu gosto muito do Tá no Ar, até poderia concordar que o programa devia continuar. Mas acho importante que as coisas tenham um fim. Que venham novas ideias!
ExcluirRealmente o Tá No Ar era um excelente programa. O maior erro, ao que me parece, é justamente o seu legado: o quadro Isso a Globo Não Mostra (muito bom) bebe da mesma fonte. O Zorra, a seu modo, também possui características parecidas. O problema é ficar tudo muito igual e enjoar.
ResponderExcluirMister Ed, é um risco que se corre. Mas eu, particularmente, creio que estes programas, embora bebam da mesma fonte, acabam sendo diferentes.
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