"Sou empoderada!" |
Cristianne Fridman é
uma das mais festejadas autoras da Record. Dona de sucessos, como Chamas da Vida e Vidas em Jogo, a novelista é uma das poucas (senão a única)
sobrevivente da “velha guarda” de autores da Record, que fez histórias com as
arrojadas tramas das 22h exibidas entre 2006 e 2012. Ela se adaptou ao atual
momento do canal, ao assinar a macrossérie bíblica Jezabel, mas seu forte é mesmo a novela convencional. E a estreia
de Topíssima, apesar do nome
pavoroso, deixou uma boa impressão, mesmo com a apresentação equivocada da
mocinha da história no primeiro capítulo.
Na estreia, Sophia
(Camila Rodrigues) aborreceu na maioria das cenas em que apareceu, desenhada
como uma patricinha esnobe e voluntariosa. Sua empregada, Clementina (Cláudia
Mello), deu a dica de que Sophia tenta aparentar o que não é. No entanto, tudo
o que foi visto no primeiro episódio contradisse a fala da governanta.
Além de cultivar o
estranho hábito de observar o humilde motorista Antonio (Felipe Cunha) com uma
luneta, Sophia surgiu também com um ar blasé em vários momentos. Ela também
mostrou certa ojeriza aos homens, quando a mãe Lara (Cristiana Oliveira) a fez
assinar um papel no qual concordava em se casar dentro de um ano para assumir a
presidência da universidade da qual é dona. Foi assim que a autora quis passar
a mensagem de que Sophia é uma feminista. E isso é perigoso. A novela pode cair
na armadilha de tratar o feminismo como uma luta contra os homens. Obviamente,
não é isso.
No entanto, é bem
possível que Sophia vá além da simples caricatura. O texto deixou brechas para
que a personagem, aos poucos, mostre que a pose de dondoca é apenas uma casca.
E que ela, afinal, é a heroína da história. O bom desempenho de Camila
Rodrigues também ajuda a fazer da mocinha alguém que desperta simpatia, apesar
da aparente arrogância. Fica a torcida para que isso aconteça.
Mas, relevando a
apresentação equivocada de Sophia, Topíssima
mostrou algumas qualidades. Fridman é uma novelista experiente e entende a
arquitetura do bom folhetim. Isso foi visto no primeiro capítulo da obra, que
apresentou os principais personagens com eficiência e agilidade. Além disso, a
autora conseguiu mesclar bem o típico romance de gato e rato com assuntos
contemporâneos, incluindo até uma trama sobre tráfico de drogas dentro de uma
universidade. Com isso, resgatou o bom folhetim policial, que a emissora
consagrou no passado.
O elenco também é
interessante. Felipe Cunha, o mocinho, é um rosto conhecido de outras tramas da
Record, mas aparece aqui como destaque. Não decepcionou. Também é bom ver
Cristiana Oliveira com uma boa personagem contemporânea. A perua Lara é um tipo
interessante. Enquanto isso, Silvia Pfeifer surge (salvo engano, pela primeira
vez numa novela) como uma mulher humilde, Mariinha. E é impressionante que,
mesmo com figurino simples e sem maquiagem, ela ainda exala elegância.
Com Topíssima, a Record mostra que não
perdeu a mão na produção de novelas contemporâneas. A história tem potencial e
surge dando um respiro na teledramaturgia da casa. Afinal, é certo que o canal
descobriu um nicho com suas novelas bíblicas, mas é certo também que elas
começam a mostrar cansaço. Topíssima,
então, pode ser o produto que faltava para que a emissora mantenha seu segundo
horário de novelas com boas produções. A estreia mostrou que é possível. Mais
do que isso: é necessário.
André Santana
8 Comentários
Concordo com você! E digo mais: como a novela conta com a supervisão da filha de Edir Macedo, creio que a feminista da história será tratada como uma maluca, que vai "amansar" quando achar o "homem certo". Complicado, hein?
ResponderExcluirSim, Felipa! Esse é o meu temor também. Gosto da Fridmann e vou confiar na sensibilidade dela de não desmerecer o movimento feminista.
ExcluirEu gosto da Fridman, embora eu ache que ela as vezes tem uns dialogos a la Walcyr. Mas ela sabe estruturar uma novela. Cheia de cliches, o que nao eh demeritro. A novela na verdade eh uma adaptacao de uma historia da Cristiane Cardoso, portanto eu percebi bem certas influencias da IURD. Exemplo, eh a tal 'barbudia que existem nas universidades'. Embora a novela tenha sido escrita e planejada a bastante tempo, as intencoes coincidiram bem nesse momento que o governo Bolsonaro usa o mesmo argumento para cortar verbas das universidades. Mas dessa vez nao sera tao descascarado como foi Apocalipse essa coisa de por dogmas da IURD.
ResponderExcluirPor enquanto to acompanhando. Eh um frescor ver uma comedia de costumes e uma novela nao biblica (apesar de eu ver ainda na trama certos dogmas da IURD) na Record
Daniel, Topíssima é interessante. Ao mesmo tempo em que tem humor e leveza, tem um núcleo policial que eu acho meio "pesado". Uma mistura que poderia ser estranha, mas que está funcionando até aqui. Vamos ver.
ExcluirSuperou expectativas, ao menos nesses primeiros momentos. A trama é boa o elenco bacana tbm. Tem toda a cara de novela das 19h mesmo é conta com uma autora competente. Acho apenas que está no horário errado. Deveria entrar no ar mais cedo evitando confronto com a já embalada Verão90.
ResponderExcluirSim, começou bem! Vamos acompanhar!
ExcluirEspero que essa novela sirva pra Record tirar a sinopse original de Pigmalião do Brejo da gaveta
ResponderExcluirMateus, pelo que sei, Pigmalião do Brejo foi engavetada definitivamente. Pena!
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