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"Alguém ainda aguenta o bolo mágico?" |
O autor Walcyr Carrasco já declarou que não gosta de
críticos, e que nem lê as críticas sobre suas obras. Segundo ele, a crítica
esperneia, enquanto o povão vibra com suas histórias. Mas eu tenho lá minhas
dúvidas se Walcyr passa incólume por uma crítica que seja às suas novelas.
Tenho a impressão que ele as lê, sim, e se diverte com o “esperneio”. E, com
certeza, ele escreveu a cena final de A
Dona do Pedaço já se divertindo com a repercussão do desfecho de seu mais
recente sucesso. Só isso explica a cena final, tosca, da vilã Josiane (Agatha
Moreira) olhando para o espectador com olhar macabro, sugerindo possessão, no
melhor estilo “terror trash”.
Uma das principais entre as muitas críticas que A Dona do Pedaço recebeu foi justamente
a falta de um motivo concreto para o ódio que Josiane tinha da mãe, Maria da
Paz (Juliana Paes). O fato de ela ter sofrido bullying na infância por ser
filha da “boleira”, ou o fato de a mãe não apoiá-la como ela desejava no sonho
de ser digital influencer nunca justificou Josiane ter se tornado uma golpista,
ou uma assassina fria. E a crítica bateu tanto nessa tecla, que o autor
resolveu se divertir com a situação. Colocou a irrelevante personagem de
Rosamaria Murtinho para dar o diagnóstico de que Josiane era uma psicopata. A
professora, que revelou ser pós-graduada em psicologia, nunca nem viu a cara da
filha de Maria da Paz. Mas deu seu veredicto.
Depois, Amadeu (Marcos Palmeira) também deu o seu
diagnóstico. Para o advogado, a filha era uma bandida por causa do sangue ruim
de sua família, de matadores. Mas Maria da Paz e ele mesmo também são
descendentes destas famílias, e se tornaram pessoas boas. Ou seja, algo errado
não está certo. Assim, Carrasco tratou de colocar mais um motivo em cena:
Josiane tinha mesmo era o capeta no corpo! Agora tudo faz sentido...
Brincadeiras à parte, o fato é que A Dona do Pedaço teve um desfecho tão capenga quanto toda a sua
trajetória. O Romeu e Julieta entre matadores até que começou bem, mas logo
descambou para o característico pastiche de Carrasco. Situações frágeis,
personagens de personalidade mutante, furos e reviravoltas sem sentido. Isso já
é uma marca da obra de Carrasco, sobretudo em suas novelas na faixa das 21
horas. E é uma fórmula infalível, sem
dúvidas, já que os bons resultados da história falam por si.
Por isso mesmo, A Dona
do Pedaço teve seus méritos. Se a trama não fazia sentido, os pontos de
virada faziam o público ficar ligado na novela. Trata-se de um estilo que não
agrada quem gosta de uma história minimamente coerente. Mas foi a fórmula que
Walcyr Carrasco criou, e que funciona. Há um público para isso. Sendo assim, o
problema maior não é a falta de sutileza do autor, mas sim a sua presença cada
vez mais constante. A Dona do Pedaço
estreou cerca de um ano depois de O Outro
Lado do Paraíso, outra novela no qual o autor abusou de tal estilo. A coisa
vai ficando repetitiva, pasteurizada mesmo. Isso não é bom.
Neste festival de diálogos toscos, situações inverossímeis,
incoerência e personalidades mutantes, alguns se salvaram com alguma dignidade.
Juliana Paes demorou a encontrar o tom da heroína, trocando o sotaque a cada
cena. Mas, na reta final, ela finalmente achou o ponto de Maria da Paz, uma
personagem tão ingênua (pra não dizer outra coisa), que só o fato de ela ter
conseguido fazer dignamente já a valoriza. Nathalia Dill também conseguiu
imprimir ironia e humor à sua freira do mal Fabiana, dando alguma graça à vilã.
Monica Iozzi (Kim) e Suely Franco (Marlene) também foram bem.
Paolla Oliveira começou bem com sua saltitante Vivi Guedes,
mas a personagem foi ficando over com o tempo. Começou com pequenos pulinhos,
terminou praticamente no salto com vara. Mas nada foi pior do que o núcleo de
humor formado pela família do Bixiga. E o núcleo até começou bem, com um humor
non sense que tinha sua graça. Mas, aos poucos, a família foi perdendo espaço e
se colocando em situações cada vez mais constrangedoras. Momento triste para
medalhões do naipe de Marco Nanini (Eusébio), Rosi Campos (Doroteia), Betty
Faria (Cornélia) e Tonico Pereira (Chico), entre outros. A sequência da mão com
vida própria de Eusébio foi uma das coisas mais toscas já vistas nos últimos
tempos.
Em suma, A Dona do
Pedaço cumpriu sua missão de reerguer os números do horário nobre, após o
fiasco de O Sétimo Guardião. Mas
também deixou claro que Walcyr Carrasco precisa de umas férias maiores na
faixa. Sua verve de “reciclador de histórias” pode até dar audiência, mas
acrescenta nada ao gênero. Pelo contrário.
André Santana
12 Comentários
Olá, tudo bem? Admiro o Walcyr Carrasco, mas realmente A Dona do Pedaço foi uma novela com problemas graves no roteiro. Ele está sem férias. Escreve em ritmo industrial mesmo. Publicarei neste domingo o balanço com os pontos positivos e negativos da obra. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirOi Fabio! Eu concordo! Reconheço o talento do Walcyr, sou fã de várias das obras dele, e bato tanto nele às vezes que parece que não gosto, rs! Mas o que eu não gosto mesmo são das novelas das 21h, e sempre bati na tecla que a presença constante dele não é boa. Ele gosta de trabalhar e tals, mas sem descanso ele não se recicla. É complicado. Abraço!
ExcluirMais um lixo escrito por esse autor e que graças a Deus acabou. Que venha agora a qualidade a partir de segunda com Amor de mãe.
ResponderExcluirMinhas expectativas quanto a Amor de Mãe são boas! Espero que não seja uma nova decepção.
ExcluirPelas suas tramas toscas o Walcyr Carrasco já pode se considerar como o dono das 9.
ResponderExcluirDono da Globo, haha!
ExcluirEae André. Walcyr quis repetir um pouco do final de Verdades Secretas e quis chocar o público, mas foi tudo muito mal feito. Deu vergonha alheia!
ResponderExcluirNão deu certo, Marcelo! O final de Verdades Secretas foi bem mais inteligente. O de A Dona do Pedaço foi só tosco mesmo.
ExcluirA história inicial me atraiu e resolvi acompanhar A Dona do Pedaço, mesmo depois de dizer a mim mesmo que não acompanharia mais novelas. O que parecia uma história interessante se tornou numa das coisas mais pavorosas que já vi. Também acho que Juliana Paes estava estranha com aquele sotaque mas achou o tom da personagem e emocionou em diversas vezes, mostrando a atriz que é. Aliás, com Maria da Paz, só sendo boa atriz mesmo pra conseguir levar. Nunca entendi o alvoroço da crítica com Vivi Guedes, achei uma personagem desinteressante desde o início, mas só depois de um tempo entendemos que ela foi criada pra Globo faturar uns trocados. Pra mim, a melhor personagem da novela foi a Kim, muito linear do início ao fim da novela. Continuo sem querer acompanhar novelas, já bateu até um arrependimento por A Dona do Pedaço que, aliás, já foi tarde rsrsrs.
ResponderExcluirPois é! Disse tudo, rs! Não foi bom enquanto durou, e que venha a próxima!
ExcluirAndre, qual das tres novelas das nove do Walcyr eh a menos pior?
ResponderExcluirTe li no OT sua preocupacao sobre o padrao Walcyr se espalhar nesse horario. Pra mim tudo depende de AmordeMae e a novela da Licia , se tiverem audiencia satisfatoria. Se essas duas forem bem, acho que a formula Walcyr nao ira contaminar outros autores.
Eu gostei da novela mais não gostei a partir quando a Maria da Paz se divorcia de Régis e fica se agarrando com o Amadeu eles não tinham nada haver não tinha química,fogo diferente com o Régis que pegava fogo e não gostei de não terem deixado eles juntos e ele caindo na lábia da Josiane e sendo morto por ela e pra mim ele estava se enganando e ainda amava a Maria da Paz. Eles usaram a religião pra fingir uma redenção que não tinha.
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