"Sua mãe tá aqui!" |
Amor de Mãe, nova novela das nove da Globo, é
uma aposta ousada da emissora. Embora não deixe de lado elementos de folhetim,
no sentido de respeitar as características do gênero que representa, a trama de
Manuela Dias imprime uma dose de realidade pouco vista em novelas. Evitando
personagens maniqueístas e apostando num entrelaçamento inteligente das tramas
que conta, a autora fez sua estreia no horário nobre mostrando maturidade,
sangue novo e boa mão para dramas humanos.
A palavra “drama” cabe bem aqui, já que Amor de Mãe é, acima de tudo, um dramalhão bem carregado. A
primeira semana da novela foi marcada por mortes, doenças e tragédias dos mais
variados tipos. A história narra a saga de três mães, separadas por classes
sociais distintas, mas que se cruzam por um acaso. E é esta a principal beleza
da engenharia da novela: os personagens se esbarram e se conhecem, sem grandes
arroubos ou pirotecnias. E o primeiro capítulo foi bem esperto neste sentido.
Conhecemos Lurdes (Regina Casé) quando ela participava de uma entrevista de
emprego com Vitória (Taís Araújo). Em seguida, conhecemos a própria Vitória. E,
logo depois, Lurdes salva Thelma (Adriana Esteves), que passa mal na rua,
nascendo aí uma amizade.
Estas três mulheres são mães, ou estão às voltas com
problemas maternos. Lurdes tem quatro filhos, e busca um quinto, que foi
vendido pelo pai quando era criança. Já Thelma salvou o filho de um incêndio
que vitimou o marido, o que a fez se tornar superprotetora. Agora que ela
descobriu que pode morrer a qualquer momento, faz de tudo para amparar a cria, ao
mesmo tempo em que esconde do filho sua condição. Por fim, Vitória viveu o
drama de perder o filho aos seis meses de gestação. Agora, tenta engravidar, ao
mesmo tempo em que está na fila de adoção.
A partir destas três histórias principais, Amor de Mãe vai abrindo um leque de
possibilidades. Assim como em Justiça,
obra anterior de Manuela Dias, as relações entre as tramas e personagens vão se
estabelecendo a partir de encontros casuais, amarrando todas as histórias.
Assim, foi possível encontrar personagens de núcleos distintos atuando como
figurantes, em cenas de outros personagens, passando praticamente
despercebidos. Fazer o espectador notar estes encontros se tornou um dos
atrativos da trama nesta primeira semana.
Outra característica interessante é a atitude controversa
das protagonistas. Lurdes, sem querer, matou o marido na juventude. Agora, vê
este drama se repetir com seu filho Magno (Juliano Cazarré), que acredita ter
matado um estuprador. Já Vitória leva o casamento falido de maneira prática,
não escondendo de ninguém que seu único intuito é engravidar. Além disso, até
hesita, mas não deixa de aceitar dinheiro do caixa dois de seu cliente Álvaro
(Irandhir Santos). Enquanto isso, Thelma sufoca o filho, não permitindo que ele
faça suas próprias escolhas.
Assim, nesta primeira semana, é possível observar que
Manuela Dias veio ocupar uma importante lacuna no horário nobre da Globo. Com
um texto sofisticado e absurdamente realista, com dramas palatáveis e ausência
de vilões, a autora destoa dos atuais titulares da faixa. Os novelistas que
integram o time de autores das 21 horas são adeptos do folhetim rasgado, com heróis
idealizados e vilões marcantes. Já Manuela vai na contramão, apostando num
drama mais próximo da vida real. Tanto que a autora até dispensou o tradicional
núcleo cômico, preferindo imprimir humor em situações aleatórias, ao invés de
acionar um grupo de personagens para isso (aliás, melhor escolha! Os autores
mais têm errado que acertado em núcleos cômicos. Se for apenas pra cumprir
tabela, é melhor não ter mesmo).
Se é possível compará-la com alguém, Manuela Dias remete a
Manoel Carlos, no sentido de imprimir veracidade em cenas, situações e
diálogos. Porém, Manuela foge da crônica carioca tão característica de Maneco,
apostando numa narrativa urbana e contemporânea. A direção arrojada de José
Luiz Villamarim casa perfeitamente com a proposta, dando a Amor de Mãe um tom documental que impressiona. Além do texto acima
da média, Amor de Mãe conta com um
elenco de primeira, que imprime ainda mais emoção às cenas. Adriana Esteves e
Taís Araújo estão irretocáveis como heroínas imperfeitas. Mas o grande destaque
é Regina Casé, que volta às novelas em grande estilo. Sua Lurdes é de carne e
osso, bastante reconhecível.
Assim, Amor de Mãe
causou a melhor das impressões em sua primeira semana. É uma trama tensa,
adulta e cheia de possibilidades. Seu grande desafio será manter esta proposta
ao longo de mais de 150 capítulos, sem perder o fôlego. Afinal, ao optar pela
narrativa realista, Manuela Dias abre mão de recursos e clichês que costumam
segurar uma obra tão longa quanto uma novela. Mas não é impossível. Torçamos
para que consiga e que Amor de Mãe
possa provar que novela é um gênero que pode sair do lugar-comum.
André Santana
5 Comentários
Olá, tudo bem? Comentarei neste domingo sobre os primeiros capítulos da nova novela no meu blog. Tenho algumas divergências. O que é novela? O que é série? Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirEu acho que novela e algo que está muito batido ...e uma fórmula que todo mundo conhece ..amor impossível, vilao carismatico e bordoes...Esta na hora de introduzir novos elementos mas sem virar um beijo Chico pu ou dar uma pausa no formato novela
ExcluirOi Fabio! Bom, eu sempre serei a favor de que os gêneros dialoguem entre si. Assim como muitas séries bebem da fonte das novelas, não vejo problemas no caminho contrário. Acho tudo válido. Abraço!
ExcluirAdorei a novela
ResponderExcluirEu também!
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