"Boa noite!" |
Fora de Hora, novo humorístico da Globo, estreou
há um mês sem causar boa impressão. O programa que imita um telejornal perdeu
muito tempo brincando com as particularidades do formato, reproduzindo piadas
batidas e pouco eficientes. Na estreia, só se salvou parte do texto lido pelos
apresentadores, Paulo Vieira e Renata Gaspar, quando fizeram comentários ácidos
sobre as notícias da atualidade.
No mais, foi tudo uma grande brincadeira com a postura de
apresentadores e repórteres. Foram feitas piadas com repórteres perdidos, que
não têm muito a dizer, aqueles que aumentam uma situação claramente simples
apenas para parecer relevante... Coisas que vemos normalmente nos noticiosos, e
que até nos divertem. Mas é isso. O programa apenas reproduziu pérolas do telejornalismo
que costumam se tornar memes na “vida real”.
Talvez a própria redação do programa tenha percebido isso e,
aos poucos, o Fora de Hora foi
trazendo novidades nas semanas seguintes. O que se viu nos segundo, terceiro e
quarto episódios foi um aumento considerável de menções à atualidade, com
sátiras muito mais inspiradas. Neste contexto, um novo “personagem” despontou
como destaque da atração: o ministro Sérgio Moro de Marcelo Adnet. Com uma
imitação irretocável, o humorista fez rir numa entrevista no qual Moro apenas
respondeu a perguntas irrelevantes, como a opinião dele sobre Amor de Mãe e BBB. Na semana passada, Moro retornou como comentarista do Oscar.
Bingo!
O quarto episódio também teve uma divertida esquete com Luciana
Paes, vivendo a ministra Damares. A sátira levou a personagem a se tornar MC
Damares e protagonizar um clipe de funk, no qual defendia (ou não) a
abstinência sexual. Num contexto político repleto de absurdos que mais parecem
piada, o humor tem um prato cheio para mostrar, sem filtros, o ridículo da
realidade. Este tipo de sátira, somado aos comentários dos apresentadores em
quadros como Notícias Tristes da Semana, fazem Fora de Hora ganhar substância. Esse é o caminho.
No entanto, por mais qualidades que o Fora de Hora tenha ganhado ao longo do primeiro mês, não se pode
deixar de mencionar que o humor da Globo está tomando um rumo questionável. O
que se viu nos últimos anos, sobretudo a partir do lançamento do Tá no Ar, foi que os humorísticos do
canal estão ficando todos meio parecidos. Não há dúvidas de que o Tá no Ar foi um divisor de águas, e com
todos os méritos, já que era mesmo um programa muito bom. Mas o canal deveria
agir no sentido de marcar mais as diferenças entre os programas de humor. Tá no Ar, Zorra e Fora de Hora têm mais semelhanças que diferenças.
Aliás, só o fato de o Fora
de Hora imitar o formato de um jornal já o coloca numa prateleira muito
próxima ao do Tá no Ar. Enquanto o
extinto programa brincava com todos os formatos televisivos, o Fora de Hora brinca com apenas um, o
telejornal, mas explora todas as suas variações (afinal, há jornais e jornais).
Ou seja, na prática, as propostas são muito semelhantes. O fato de o elenco dos
dois programas repetir diversos nomes ajuda a aumentar a sensação de que o Fora de Hora é uma espécie de Tá no Ar “disfarçado”.
Justamente por isso, Fora
de Hora não deve se tornar um programa marcante como o Tá no Ar. As comparações serão sempre inevitáveis, e o “jornal” sai
perdendo ao ser colocado lado a lado com as emissoras malucas de Adnet e
Marcius Melhem. A intenção do atual núcleo de humor é boa: fazer do humor do
canal mais relevante e se colocar como instrumento de reflexão. Porém, mais
cuidado para fugir da repetição não seria de todo ruim. Fora de Hora está melhorando, deve divertir mais até o fim da
temporada, mas não deve se tornar mais um clássico, como Tá no Ar se tornou.
André Santana
8 Comentários
Olá, tudo bem? Eu sinceramente não achei tão ruim como alguns detonaram na estreia. E o índice de audiência é muito semelhante (ou é o mesmo) do Tá no Ar. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirOi Fabio! Eu também não achei tão ruim, mas esperava mais na estreia. Porém, vi uma melhora considerável no decorrer dos episódios. Hoje, eu gosto do programa, me divirto. Abraço!
ExcluirMe parece que o programa lembra muito o Sensacionalista do Multishow, que tinha algumas tiradas muito boas, mas às vezes tentava ironizar demais aquilo que já é irônico por si só como por exemplo, e você bem disse, os próprios erros e absurdos de telejornais "sérios"; talvez o Fora de Hora funcionaria como um quadro do Tá no Ar, não seria absurdo pensar nisso.
ResponderExcluirEngraçado como o humorismo da Globo hoje em dia é muito mais provocador politicamente falando do que já foi (ainda que Jô Soares e Chico Anysio sempre fizeram personagens críticos aos políticos) e também adotando um viés de crítica ao governo, coisa que muitas vezes o próprio jornalismo não faz.
Alexandre, eu acho que o grande mérito destes programas de humor "iguais" da Globo é exatamente isso: fazer uma crítica contundente ao governo, expondo verdades que o jornalismo tradicional não faz porque está preso a certas amarras. O humor, neste sentido, tem mais liberdade para provocar e denunciar. Isso é muito positivo!
ExcluirEu também acho que os humorísticos da Globo são todos muito parecidos. Não tive aquela curiosidade de conferir o Fora de Hora, menos ainda depois de ler tantas críticas negativas. E pensar que o Furo MTV tinha um formato e estrutura mais simples e fazia rir.
ResponderExcluirO Furo era genial, né? Tinha uma equipe de roteiristas sensacional, e Dani Calabresa e Bento Ribeiro funcionavam muito bem juntos. Foi um momento especial da MTV. Mas o Fora de Hora está melhorando, Mister Ed, sugiro que você assista. Tem momentos muito bons!
ExcluirRealmente o programa não é muito engraçado, mais a rede Globo é a única que tenta ao menos fazer humor, vhdtobque estamos em um momento muito chato e com muito Mimi
ResponderExcluirGosto qdo eles fazem sátira do presidente
Caio, a sátira ao presidente é genial! Aliás, a crítica política do programa, como um todo, é bem interessante.
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