Mesmo num contexto distinto do de 2012, quando a economia do
país ia bem e os personagens de João Emanuel Carneiro encontravam ecos na
realidade, Avenida Brasil mostrou que
tem mesmo força. A reprise do Vale a Pena
Ver de Novo vem chamando a atenção do público, novamente, e ganhou ainda
mais impulso com o isolamento social. E, na reta final, quando a trama ganha um
ritmo alucinante, a reprise tem mostrado grande desempenho. Por isso, com a
reprise em seus últimos capítulos, o TELE-VISÃO resgata a crítica da novela,
publicada originalmente em 20 de outubro de 2012. Acompanhe:
Novelas, já vimos aos baldes. Enormes sucessos, já não
tantos. Porém, todos bastante enraizados na memória afetiva do telespectador.
Ao que tudo indica, Avenida Brasil
será dessas novelas que lembraremos sempre, tamanha a comoção que os
personagens criados por João Emanuel Carneiro provocou na internética
audiência. A repercussão da trama das nove, mais do que seus números de
audiência, chamaram a atenção desde o primeiro capítulo, quando as redes
sociais foram tomadas por espectadores compadecidos do sofrimento da pobre Rita
(Mel Maia). De lá para cá, o debate em torno de Avenida Brasil só aqueceu.
Não havia dúvidas: estávamos diante de uma novela cult,
daquelas que até aquele intelectual engomadinho que odeia folhetins arrisca uma
espiada. Curioso, se levarmos em consideração que o texto de João pende para o
popular, no melhor sentido da palavra. Mas o autor parece mesmo ser o craque em
agradar do noveleiro ao esnobe. Novela anterior com o mesmo status cult foi A Favorita, do mesmo autor. Trata-se,
sem dúvidas, de um feito notável que, por si só, já coloca suas duas obras num
capítulo vip da história das telenovelas.
Para falar de Avenida
Brasil sem ser injusto, é preciso enxergá-la como duas novelas distintas. A
primeira engloba do primeiro capítulo, quando somos apresentados à Rita e
Carminha (Adriana Esteves) e testemunhamos todas as maldades da madrasta diante
da enteada sofrida; e a segunda, que ocupou mais ou menos as duas últimas
semanas do enredo, quando a vilã é finalmente desmascarada pela família Tufão e
entra em declínio. Tal separação se dá pelo imenso peso que a rivalidade entre
Carminha e Rita, que cresceu e se tornou Nina (Débora Falabella), tinha na
obra. Quando Carminha é escorraçada da mansão, este peso diminuiu e outras
tramas tomaram conta da história até o seu desfecho.
Com a rivalidade entre Nina e Carminha, João Emanuel
Carneiro criou um interessante jogo de espelhos, no qual suas protagonistas se
revezavam no papel de vítima e de algoz. Nina era dona de um passado sofrido,
vítima de uma série de desgraças desencadeadas pela madrasta. Por isso, era
alimentada por um ódio legítimo, que justificou várias de suas ações não muito
ortodoxas, na tentativa de se vingar da vilã. Já Carminha era uma bandida que
só queria se dar bem. Roubava e enganava, mas estava longe de ser uma psicopata
maluca. Ao contrário de Nina, que o público conheceu toda a sua história, o
passado de Carminha era uma incógnita. E, cada vez que um detalhe dele vinha à
tona, suas ações também passaram a se justificar. Não que isso amenizasse as
maldades da megera, mas as justificavam de tal maneira que, não raro, o público
passou a compreendê-la. Com isso, João Emanuel Carneiro levantou
questionamentos sobre o caráter de suas personagens, e levou tal questionamento
ao longo da novela toda. Em A Favorita,
o autor também brincou disso, mas não levou a dubiedade de suas Donatela
(Claudia Raia) e Flora (Patricia Pillar) até o fim.
No entanto, quando Carminha sai de cena, Avenida Brasil se torna uma nova novela.
Santiago (Juca de Oliveira), o pai da vilã que surgiu no meio da saga e parecia
inofensivo, revelou-se um mau caráter de primeira categoria e passou a levar a
novela nas costas. Com isso, Carminha se apagou. De megera de pose triunfante,
a vilã passou a ser vista como um bicho acuado. Santiago passou a guiá-la, e
ela, a contragosto, passou a obedecê-lo, sempre questionando seus planos. Do
outro lado do “espelho”, Nina passou de protagonista a figurante de luxo. O
passado obscuro dos moradores do lixão tomou conta da trama principal, e Nina,
como pouco tinha a ver com aquilo, ficou sem função. Aí veio o assassinato
misterioso de Max (Marcello Novaes) que, como se comprovou no último capítulo,
não era lá tão importante para a conclusão da obra. [Oculto aqui a frase que revela o assassino para não dar “spoiler].
A fase final serviu para que João Emanuel Carneiro criasse
uma possibilidade de redenção a Carminha. E foi justamente o que ele fez. O
mundo criado por Carminha se desfez diante dela, e já não havia mais nada a
fazer além de aceitar que ela estava arruinada. Com tempo de sobra e acuada
pelo pai, Carminha teve a chance de refletir e concluir que nada que ela
fizesse poderia consertar tal situação.
[Aqui, mais revelações do último capítulo].
Avenida Brasil ditou moda. Frases e situações
vistas na novela, em pouco tempo, se tornaram hits nas redes sociais. Desde o
impagável “hi-hi-hi” de Nilo (José de Abreu), passando pelo “me serve, vadia!”
de Nina, até chegar ao fabuloso “eu quero ver tu me chamar de amendoim!”, de
Zezé (Cacau Protássio), Avenida Brasil
mediu sua força na rede. A hashtag #Oioioi dominava o Twitter enquanto a trama
estava no ar. Todo mundo “congelou”, recriando o efeito visual que encerrava os
capítulos da novela em seus avatares. Há quanto tempo uma novela das nove não
mexia tanto com o comportamento do público?
Coadjuvantes eficientes ajudaram a construir Avenida Brasil. Juliano Cazarré, que já
havia conhecido o sabor da popularidade em Insensato
Coração, se consagra em definitivo ao defender o abobalhado Adauto. Cacau
Protássio roubou a cena na cozinha da mansão dos Tufão com sua Zezé. Claudia
Missura, grande atriz, imprimiu humanidade à sua Janaína. Murilo Benício criou
mais um tipo interessante, dando vida a um personagem que tinha tudo para não
agradar. Tufão foi grande! Também merecem menção Marcello Novaes (Max), Isis
Valverde (Suellen), Daniel Rocha Azevedo (Roni), Fabíula Nascimento (Olenka),
Luana Martau (Beverly), Leticia Isnard (Ivana) e Nathalia Dill (Débora). Os
veteranos Marcos Caruso (Leleco), Eliane Giardini (Muricy), Vera Holtz
(Lucinda), José de Abreu (Nilo) e Juca de Oliveira (Santiago) tiveram grandes
momentos. O núcleo de Cadinho (Alexandre Borges), tão criticado por alguns,
rendeu momentos de humor non sense saborosíssimos, que se ampliaram quando
todos se mudaram para o Divino. Débora Bloch (Verônica), Camila Morgado
(Noêmia), Carolina Ferraz (Alexia) e Betty Faria (Pilar) brilharam. E se é para
falar de talento, não se pode deixar de citar as protagonistas. Débora
Falabella defendeu dignamente uma personagem complicadíssima que foi Nina. E Adriana
Esteves fez simplesmente o melhor trabalho de sua carreira. Avenida Brasil era a novela da Carminha!
Avenida Brasil também merece destaque pela sua
competente direção. Ricardo Waddington tem se mostrado craque em dramas densos,
ao imprimir um estilo noir que ajuda a contar a história. A trama foi dona de
uma fotografia vitoriosa, belíssima, sobretudo na primeira fase. Amora Mautner
foi quem imprimiu o estilo informal das cenas da mansão de Tufão, com todos os
personagens em cena falando ao mesmo tempo. A bagunça organizada era facilmente
identificável e foi um grande acerto.
Claro que nem tudo foram flores. O fato de Nina não ter
salvo as fotos que provavam a traição de Carminha num pen drive provocou ruído
na narrativa. Ficou estranho. [A reprise
mostrou que havia um pen drive junto às fotos “físicas”, mas não adiantou nada
esta precaução se foi para deixá-las juntas num único envelope]. Além
disso, a história teve alguns momentos de barriga entre uma virada e outra. Mas
o saldo geral foi positivo. Avenida
Brasil fez história e deixará saudades. #Oioioi
André Santana
9 Comentários
Adriana Esteves dominou tanto a novela que eu, atualmente vendo a reprise, sempre digo que vai começar Carminha e não Avenida Brasil. É a novela do Capitão Gancho, vulgo João Emanuel Carneiro, fazendo história pela segunda vez.
ResponderExcluirMister Ed, tamo junto! Em casa, eu só chamava Avenida Brasil de Carminha! Falava pro marido: "tá na hora da Carminha!". Haha! É uma personagem antológica mesmo!
ExcluirOlá, tudo bem? Não sou um fã aficcionado em Avenida Brasil. A novela até apresenta fraquezas no enredo, como aquela história paralela do Cadinho. É impressionante o vigor no IBOPE. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirOi Fabio, tudo bem? Reconheço as fraquezas do enredo (não incluiria o Cadinho porque eu gostava do núcleo... kkk! Mas incluo a vingança sem elaboração de Nina, por que Carminha a jogou no lixão no qual ela sabia que Rita seria acolhida, e onde estava Santiago antes da reta final). E acho que isso chega a ser um trunfo: a trama era tão magnética, que o público consegue "perdoar" estes furos. Não é sempre que isso acontece. Prefiro A Favorita, mas gosto muito de Avenida Brasil. Abraço!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirVi a reprise com um olhar novo. Carminha é uma personagem incrível quase uma entidade. Mas prestei muita atenção na Nina, no Max... Me deu uma sensação parecida com Por Amor que a primeira vez eu destava a Eduarda. Mas na última reprise achava a filha da Helena a única pessoa realmente correta da trama.
ResponderExcluirFilippe, isso é interessante mesmo. Nosso olhar muda com o tempo. Em Por Amor, também achei a Eduarda menos chata. Sim, ela é chata,mas ficou mais claro para mim como a Helena a criou errado, e os motivos que a fizeram ser tão chata... E Helena, a cada exibição de Por Amor, vai ficando mais vilã ao meu olhar. Ela é egoísta demais, credo! Rs..
ExcluirExatamente isso! Terminei com um ranço enorme do Atílio tbm. Rs
ExcluirHelena era uma mãe narcisista...que comprava o mundo pela filha inclusive em detrimento do seu filho bebe que deu pra filha
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