Se é possível tirar alguma lição positiva deste momento
terrível que estamos vivendo, é a percepção de como sempre podemos nos
reinventar. Na TV, isso é evidenciado com inúmeros programas feitos em casa, ou
com poucos recursos, e que vem funcionando muito bem sem a parafernália aos
quais estamos acostumados diante de superproduções.
Mas, verdade seja dita, é mais fácil fazer programas de
entrevistas com estas soluções caseiras. Atrações de variedades, baseadas em
receber convidados, estão se virando muito bem com suas videoconferências. Na
Globo, Conversa com Bial e Encontro com Fátima Bernardes são casos
de sucesso neste sentido. Serginho Groisman, neste contexto, também passará a
apresentar programas totalmente inéditos a partir deste sábado, 11, com
gravações de seus Altas Horas em sua
casa, e também baseados em entrevistas remotas (até sábado passado, o programa
mesclava entradas na casa de Serginho com reprises).
Mas e a dramaturgia? Enquanto os programas de variedades se
reinventam, a dramaturgia foi obrigada a se recolher, afinal, não há como fazer
novela ou série sem envolver muita gente, ou sem cenas que exigem proximidade
dos atores. Porém, até mesmo a dramaturgia parece querer renascer em meio à
necessidade de distanciamento social. Diário
de um Confinado, que estreou no último sábado, 04, na Globo, se mostrou uma
experiência muito interessante neste sentido. Criada e gravada na casa de Bruno
Mazzeo, a atração dribla bem as dificuldades deste período crítico.
Na série, a temática, claro, é a pandemia. Mas com o olhar
terno e curioso do humor. Diário de um
Confinado não tem a pretensão de fazer um tratado sobre a covid-19. Apenas
explora as pequenas loucuras humanas em situações adversas. Na trama, Murilo
(Bruno Mazzeo) é um homem confinado há semanas, tentando lidar com a situação
de estar preso em casa da melhor maneira possível.
Momentos reconhecíveis por quem está confinado surgem a todo
o momento. Contato com amigos e parentes por chamadas de vídeo, a dificuldade
de manter a casa em ordem, o humor inconstante e as pequenas paranoias
hipocondríacas ganham uma leitura bem-humorada nesta série.
Trata-se do bom humor da crônica, que é típica da obra de
Bruno Mazzeo. Misturando depoimentos fictícios com pequenos esquetes, Diário de um Confinado não difere muito
de outras séries do ator e roteirista, como Cilada
e Junto e Misturado. Fazer graça de
situações comuns é uma constante nestes programas, e em Diário de um Confinado não é diferente. E funciona. Diário de um Confinado não tem a
pretensão de arrancar grandes gargalhadas do público, mas provoca sorrisos
involuntários a cada situação reconhecível. Em suma, não traz nada de novo, mas
diverte.
No entanto, o fascínio de Diário de um Confinado se dá em razão de seus bastidores. A série
ganha uma nova dimensão quando se tem em mente que ela foi criada e gravada na
casa do protagonista, dirigida por Joana Jabace, sua esposa. Saber que Débora
Bloch é a única atriz que contracena fisicamente com Mazzeo porque ela é vizinha
do artista é outra curiosidade saborosa.
E mais: participações especiais luxuosas feitas por
videochamadas, com nomes como Renata Sorrah e Fernanda Torres, também gravadas
de suas casas, dão a Diário de um
Confinado um ar de experimentação muito curioso. Assim, a grande
contribuição da série à televisão brasileira não é o seu resultado no ar, mas o
que ela significou nos bastidores.
Diário de um Confinado mostra uma reinvenção da produção
audiovisual muito interessante. Uma produção gravada em casa, com uma equipe de
produção que trabalhou remotamente, e que, no ar, mostra um apuro técnico
impecável é, sem dúvidas, um caso de sucesso de produção em tempos de
dificuldade.
Claro que não é o ideal. E, óbvio, o contexto é trágico. Mas
Diário de um Confinado mostra que é
possível produzir com qualidade em situações adversas. É a vitória da
criatividade.
André Santana
4 Comentários
Olá, tudo bem? Gostei bastante da estreia. Veremos o segundo episódio. Comentarei no meu blog. Jamais entendi aquelas reprises do Zorra... Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirOi Fabio! Também tenho curtido! Abraço!
ExcluirHumor de improviso e a cara da geração atual
ResponderExcluirPois e!
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