Como se vê na edição especial de Fina Estampa, que a Globo vem exibindo na faixa das nove, a trama
de Aguinaldo Silva vai se desenrolando e abraçando cada vez mais o absurdo. Com
a trama principal já esgotada, o autor passa a apostar em situações episódicas
e toscas, que não fazem o menor sentido. Como a reprise alcançou seu momento
mais non sense, com Tereza Cristina (Christiane Torloni) gritando que morreu,
dentro de um cemitério, logo após dar de cara com Marcela (Suzana Pires), é
hora de o TELE-VISÃO resgatar este texto, publicado originalmente em 28 de
janeiro de 2012, justamente neste momento da exibição original. Acompanhe:
Na última semana, a malvada Tereza Cristina deu de cara com
uma morta: a jornalista falecida Marcela surgiu vivinha da silva, disposta a
desmascarar a terrível vilã de Fina
Estampa. Mas espere: não é jornalista, e sim sua irmã gêmea justiceira, da
qual ninguém sabia da existência. Ou seria a própria Marcela, que deu uma de
Bia Falcão (Fernanda Montenegro), forjou a própria morte e agora voltou com
essa balela de irmã? Mais um mistério para a reta final de Fina Estampa. E mais uma prova de que a trama de Aguinaldo Silva
foi feita para não se levar a sério.
O enredo está cada vez mais absurdo. Além da volta de
Marcela (ou não), Fina Estampa nos
brinda com as toscas tentativas de atentados contra os filhos de Griselda
(Lília Cabral), orquestradas, claro, pela terrível Tereza. Entre uma tentativa
de assassinato e outra, a megera rola pelos lençóis de seda que encobrem a cama
de sua suíte máster com Pereirinha (José Mayer), um tipo ogro que parece mais
uma tiração de sarro dos personagens pegadores que Mayer acumulou durante sua
carreira.
Tereza Cristina faz inúmeras referências à Nazaré Tedesco
(Renata Sorrah, em Senhora do Destino),
fazendo vítimas e mais vítimas rolarem pelas escadas de sua casa (é tão fácil
assim morrer escada abaixo, gente?). Enquanto isso, Pereirinha diz que, se
fosse galã de novela, pegaria todo mundo. Isso sem falar na tia Íris (Eva
Wilma), que nada mais é que Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque, de
A Indomada, ressurgida das cinzas
(bem que ela disse que voltaria, né?). E assim Fina Estampa vai se construindo, absurdo após absurdo, e a cada
novo absurdo, crescem os índices de audiência.
Aguinaldo Silva, o autor, parece mesmo disposto a massagear
o próprio ego em Fina Estampa. Além
das inúmeras referências a si mesmo e à sua obra, o autor parece se deliciar
criando uma novela xarope, porém a prova de erros. Pra que coerência se a
audiência está nas alturas, não é mesmo? Assim, o autor se diverte ao
apresentar uma obra que parece ser escrita no piloto automático, onde tudo
parece uma grande gozação.
Além disso, as referências a outras novelas de Aguinaldo
parecem passar atestado de que Fina
Estampa é uma colcha de retalhos mal costurada, aquém das obras as quais
reverencia. Tereza Cristina, ao invocar Nazaré o tempo todo, perde sua força,
expondo ao público o quanto ela está anos-luz atrás da megera de Senhora do Destino. Afinal, a rival de
Maria do Carmo (Suzana Vieira) era igualmente terrível e irônica, mas esta
tinha um motivo claro que a movia. Fora que mostrava uma ponta de humanidade ao
adorar a “filha”, além de ter um carisma só dela. Já Tereza é apenas uma chata
entediada, protegendo um segredo que, aparentemente, e tão tolo quanto sua
própria trajetória.
Enquanto isso, a verdadeira Nazaré, que agora atende pelo
nome de Danielle Fraser (Renata Sorrah), está numa trama paralela que, por ser
bastante distante da trama principal, acaba aparecendo como secundária. Uma
pena, pois é a única trama verdadeiramente interessante de Fina Estampa. Danielle, lá no seu cantinho, agiu feito o doutor
Albieri (Juca de Oliveira), de O Clone,
ao gerar o sobrinho numa barriga de aluguel sem o consentimento da própria, Esther
(Julia Lemmertz). Esther, assim como a Deusa (Adriana Lessa), foi envolvida
inocentemente nas artimanhas da cientista maluca e, agora, vai enfrentar uma
briga para poder ficar com a filha, já que a mãe biológica Beatriz (Monique
Alfradique), outra vítima da médica antiética, descobriu a verdade e ficou
mexida ao saber que existe uma filha sua, cujo pai biológico é o falecido
grande amor de sua vida.
Trata-se de uma clara mistura de Barriga de Aluguel e O Clone,
mas não se contesta a força dramática deste enredo. Por isso mesmo, este núcleo
devia ter mais visibilidade, até porque conta com intérpretes inspirados e foge
do tom boboca da trama principal. Pena que nem tudo é perfeito: Aguinaldo
tratou de juntar Danielle com Enzo (Julio Rocha), formando um casal
constrangedor. Julio Rocha, definitivamente, não é um bom ator, e Renata Sorrah
precisa cortar um dobrado para convencer neste romance sem pé nem cabeça. É uma
dobradinha com cara de monólogo.
Aguinaldo Silva, novelista de respeito, assinou algumas das
principais novelas da história da TV. Roque
Santeiro, Vale Tudo, Pedra Sobre Pedra, Fera Ferida, A Indomada e Senhora do Destino enriquecem o
currículo deste grande autor. No entanto, depois de escrever a
interessantíssima, porém não tão boa de Ibope Duas Caras, o autor parece ter decidido não mais se arriscar e
apenas se divertir. Fina Estampa tem
o mérito de elevar a audiência do horário nobre, mas deverá ficar na história
como a novela que homenageou o absurdo.
André Santana
11 Comentários
Olá, tudo bem? Vamos contextualizar Fina Estampa...A trama de Aguinaldo sucedeu duas novelas com andamento travado e pesado: Passione e Insensato Coração. Naquela época, uma novela leve e descontraída surgiu como boa opção. Tanto é que elevou os índices de audiência. Gostei, no geral, de Fina Estampa. É novela!!! Não documentário!!! Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirEsse novela e muito non sense..um seguidor desse estilo vamos voar e walcir carrasco
ExcluirOi Fabio, tudo bem? Tenho total compreensão que novela não é documentário. Quando eu falo de absurdos, não estou cobrando realidade. Estou cobrando trama. Fina Estampa não tem trama. O começo é até bom, mas a novela se perde bonito, sem história nenhuma pra contar. Griselda perde força depois que ganha na loteria. Até a rivalidade dela com a Tereza Cristina arrefece. Enquanto isso, Tereza Cristina fica protegendo um segredo que não faz sentido, enquanto tenta matar todo mundo, sem conseguir matar ninguém. Isso é história? Pra mim não é. É só uma sequência de situações sem sentido. Mas enfim, respeito sua opinião, mas só ressaltando que eu não quero que novela vire documentário. Quero que ela conte uma história. Abraço!
ExcluirE agora também entra na história como a novela que entrou no lugar de "Amor de mãe" quando veio a pandemia...
ResponderExcluirLucas - www.cascudeando.com
Pobre Amor de Mãe...
ExcluirRealmente pobre Amor de Mãe. Estavam excelente, Regina Casé, Thaís Araújo e Adriana Esteves xkmk 3 mães que amam seus filhos cada qual de sua forma, 3 grandes histórias que se encontram numa só. Aí colocaram essa novela No Sense no lugar durante essa pandemia. Eu se fosse executivo da Globo colocaria mais uma novela como Império, que foi um sucesso e também contava com boa parte desses atores de Fina Estampa.
ExcluirEssa novela realmente é bizarra, vejo quase nada e já mudo de canal... Mas o pior estava por vir: O Sétimo Guardião, hahaha
ResponderExcluirE no meio dela, o autor escreveu Império, muito boa, uma reprise caberia bem melhor!
Inclusive tem a imagem mais moderna
ExcluirEu gosto de Império, bem melhor que Fina Estampa e O Sétimo Guardião. O problema de Império é que o final ficou meio improvisado, com aquela história de Fabrício Melgaço. Mas, no geral, é uma boa novela sim.
ExcluirVocês deviam colocar o Disqus aqui. Concerteza bombaria!!!
ResponderExcluirSerá?
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