Forte, verdadeira, emocionante. Assim a Globo anunciava a estreia de Torre de Babel, em 1998, terceira incursão de Silvio de Abreu no horário mais nobre da emissora. Depois de tentar emplacar uma comédia típica das sete às oito, com Rainha da Sucata, o autor enveredou para a trama policial em A Próxima Vítima e, a partir daí, o thriller seria sua marca como novelista do horário. E Torre de Babel tem importância fundamental nesta história.
Torre de Babel também parte de um mistério. Assim como em A Próxima Vítima, Silvio de Abreu leva o público a bancar o detetive e desvendar um vilão oculto. Sai o assassino em série, entra o responsável por mandar pelos ares o Tropical Tower Shopping, maior empreendimento do empreiteiro César Toledo (Tarcísio Meira). O principal suspeito é José Clementino (Tony Ramos), um homem que passou 20 anos na prisão após matar sua esposa. Especialista em fogos, ele passou esta temporada enclausurado planejando se vingar de César, já que o depoimento do empresário foi determinante em sua pena.
No entanto, quando Clementino sai da prisão, conhece Clara (Maitê Proença), a irmã de criação de Marta (Gloria Menezes), que é esposa de César. Clara tem muitos problemas, que vão sendo revelados ao longo da novela. E, ao encontrar Clementino, também perturbado, se apaixona. Os dois, juntos, aprenderão a lidar com fantasmas do passado e se tornarão pessoas melhores. Por isso, Clementino, que já havia um plano quase completo para explodir o shopping de César, desiste de sua vingança.
Mas os planos de Clementino são roubados, completados e colocados em prática. O Tropical Tower Shopping, que ganhou o apelido de Torre de Babel da imprensa, explode, matando muitas pessoas. Clementino tenta provar sua inocência, mas será perseguido por César. Porém, há vários outros suspeitos pelo crime, já que o passado da família Toledo está cheio de esqueletos no armário.
Torre de Babel impressionou público e crítica pelo tom duro e violento de seus primeiros capítulos. O primeiro episódio era aberto com Tony Ramos matando uma mulher a golpes de pá, e era encerrado com uma invasão de bandidos armados na mansão dos Toledo, fazendo nada menos que Tarcísio Meira e Gloria Menezes de reféns. A narrativa era crua e a aposta era na tensão psicológica. Afinal, Silvio de Abreu queria que todos os personagens tivessem suas dubiedades, de modo que todos seriam suspeitos pelo crime que movimenta a trama.
Mas não funcionou. O público da novela não comprou as novidades, ficou incomodado com a violência e com o fato de não conseguir identificar mocinhos e vilões. Além disso, houve outros incômodos, como a possibilidade de Marta ter um relacionamento homossexual com Leila (Silvia Pfeifer). Silvio de Abreu revelou que Leila, que formava um par com Rafaela Katz (Christiane Torloni), se aproximaria da matriarca dos Toledo depois que a estilista morresse na explosão do shopping. A ideia era que as duas se tornassem grandes amigas, despertando a curiosidade dos demais sobre aquilo ser apenas amizade ou “algo a mais”. E, claro, abrir a possibilidade de um romance, caso o par fosse bem-aceito.
Por conta disso e de outros imbróglios, Silvio de Abreu mudou a maneira de contar sua história. Usou a explosão do shopping para alterar sua narrativa, apostando mais no melodrama e no folhetim. Definiu romances e vilões, tornando a novela mais apreciada pelo espectador tradicional. Neste contexto, Henrique (Edson Celulari) e Celeste (Letícia Sabatella) se tornaram os principais heróis românticos, abalados por Angela Vidal (Claudia Raia), que virou a grande vilã da novela. Deu certo, e Torre de Babel se tornou um sucesso.
Silvio de Abreu, em entrevistas, sempre se mostrou insatisfeito por se ver obrigado a mudar a maneira de narrar Torre de Babel. O autor dizia que traiu sua ideia original, e que foi um processo bastante exaustivo. Mas é inegável que Abreu foi bastante habilidoso na condução das mudanças da trama. Não foi uma reforma radical, daquelas que desfiguram toda uma obra. Foi uma mudança de tom, na tentativa de deixar a novela menos “diferentona”.
Mesmo assim, Silvio chegou a acreditar que não teria mais condições de escrever uma nova novela. Felizmente, isso não aconteceu, e Silvio de Abreu escreveu mais duas novelas no horário nobre, sempre com uma evidente pegada policial. Na trama seguinte, Belíssima, ele inverteu sua estratégia de Torre de Babel: apresentou inicialmente uma novela maniqueísta e romântica para, depois, injetar o mistério de sua trama policial. Deu certo, e Belíssima foi bem do início ao fim. Já em Passione, sua trama seguinte, houve nova tentativa de um início menos maniqueísta, que não deu certo. Passione só decolou do meio para o fim, quando o thriller policial se instalou de vez e deixou a história mais vibrante.
Ou seja, é evidente a importância de Torre de Babel no contexto da obra de Silvio de Abreu no horário mais nobre da Globo. Apesar de A Próxima Vítima ter aberto o caminho, foi Torre de Babel que definiu o rumo dos “crimes no horário nobre”, como se chama a biografia profissional de Abreu, escrita pelo jornalista Raphael Scire. E, justamente por conta desta importância, revê-la no Globoplay é uma enorme satisfação.
Torre de Babel foi a novela que mais mexeu comigo, enquanto espectador. Eu tinha 14 anos, já gostava de novelas, mas o fato de ter no ar uma novela policial, sombria, com toques de violência, me deixou cheio de expectativas. Cada matéria que saía sobre a trama no jornal, antes de sua estreia, causava expectativas. Fiquei impactado com a estreia, com toda aquela crueza narrativa, embalada por uma abertura de trilha retumbante, que aumentava o clima de suspense. Amei de cara! Acompanhei a novela toda com muito interesse. No dia do último capítulo, quando seria revelado o responsável pela explosão, eu não pude conter o nervosismo. Foi um dia de esperar ansiosamente a noite chegar. E chegou! E o tanto que eu vi e revi o último capítulo, que eu acho tão bem desenhado. Tudo fazia sentido, o crime era deveras bem engenhoso.
Chegamos a fazer um bolão na família para saber quem explodiu o shopping. Ninguém ganhou…
André Santana
10 Comentários
Só no sapatinho ô ô...
ResponderExcluirEu gosto dos personagens. A trama é, de fato, bem amarrada. Importante para a história da teledramaturgia e para o currículo de Sílvio de Abreu, que é muitas vezes injustiçado. Quem não viu poderia dar uma chance pra novela...
www.cascudeando.com
Ela chega vaidosa e sorridente, todo mundo logo sente seu perfume pelo ar... ahahaha, eu decorei essa letra toda, credo!
ExcluirAcho que foi a Adriana Esteves desenvolveu o estilo comigo que levou pros trabalhos seguintes. .seu primeiro grande destaque
ExcluirFala André, viva Jamanta kkk
ResponderExcluirAcompanhei quase tudo dela no Viva, não gostava da parte "engraçada" da novela, mas o mistério era demais, também acho o último capítulo diferente, até porque eu não lembrava que a revelação da explosão foi praticamente nos 45 do segundo tempo!!!
Ah, eu gostava do humor da novela! Bina Colombo era hilária, muito divertida! O núcleo dela, com Cleide Yáconis, Etty Fraser.. incrível!
ExcluirEu acertei na epoca, que tinha sido a Sandrinha…😃
ResponderExcluirEu nem lembro qual foi a minha aposta, mas não pensei na Sandrinha...
ExcluirAcho que a novela perdeu muito do tchan inicial. Acho que teve alguns furos, alguns personagens ficaram apagados, certos perfis ficaram mexicanizados, o próprio Clementino poderia ter sido melhor desenvolvido e foi amenizado para satisfazer o público. Enfim, Torre poderia ter sido bem melhor do que foi, mas infelizmente o público da época não estava preparado para uma trama com características de drama psicológico.
ResponderExcluirAh, com certeza, Guilherme! Se tivesse seguido sua proposta original, seria uma novela bem mais ousada. O Silvio de Abreu não escreve mais, mas bem que ele poderia bancar uma minissérie baseada na novela, mantendo a proposta inicial, né? Já pensou?
ExcluirOs colaboradores dele podiam escrever
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