A pandemia de covid-19 exercitou o lado criativo de muitos diretores de televisão. Não todos, já que há canais insistindo em reprises e culpam a crise sanitária pela apatia. Mas alguns deles conseguiram driblar as dificuldades impostas pela necessidade de distanciamento social e vem fazendo excelentes experiências, deixando a programação mais rica.
Canal que mais tem lenha para queimar, mesmo diante da crise, a Globo foi a que mais ideias novas trouxe à sua programação. Dentre várias experiências, as mais bem-sucedidas são, sem dúvidas, o Conversa com Bial e o Altas Horas. O programa de Pedro Bial ganhou viço com suas entrevistas remotas. O fato de o convidado estar em casa o coloca à vontade diante das perguntas do jornalista. Que, sem precisar dividir a atenção com a plateia e a banda, foca ainda mais no bate-papo. Conversa com Bial teve uma temporada 2020 memorável.
Já o Altas Horas precisou se reinventar totalmente. Único programa de auditório da TV brasileira no qual o auditório é peça fundamental, a atração de Serginho Groisman teve que alterar completamente seu formato para se adaptar às gravações realizadas na casa do próprio apresentador. E a reinvenção funcionou totalmente. De casa, Serginho promove grandes encontros virtuais, com convidados de grife. E, de quebra, usa e abusa de seu acervo, fazendo os convidados revisitarem seus momentos e compararem suas palavras. O resultado é uma grande conversa, sempre divertida e cheia de bons momentos.
Ana Maria Braga também vem conseguindo fazer seu Mais Você de casa. A apresentadora vem passando por um dos momentos mais complicados de sua carreira, já que precisa comandar um programa “caseiro”, sem toda a estrutura de um estúdio da Globo à disposição, e ainda lidar com a ausência de Louro José, cujo intérprete Tom Veiga faleceu recentemente. Pois, mesmo diante de tantas adversidades, a loira vem cumprindo tal missão com muita presteza. Assim como Serginho, Ana usa e abusa de seu rico acervo. Além disso, sua equipe tem se mostrado muito criativa ao criar novos quadros, que são gravados remotamente. É preciso reconhecer que o Mais Você atual não está tão bom quanto nos tempos de antes da pandemia, mas tem oferecido um conteúdo digno e respeitado o seu público.
Além de manter alguns de seus apresentadores em casa, a Globo colocou outros de volta aos estúdios, mas sob novas condições. O Caldeirão do Huck, sempre muito calcado em externas, teve que se virar e lançar novos quadros feitos no palco. E apostou fundo nos game shows, que têm ido muito bem. Tem ou Não Tem e Quem Quer Ser um Milionário? divertem.
Fátima Bernardes também adaptou bem seu Encontro ao novo momento. Com entrevistas remotas, mas com a apresentadora no estúdio, o programa conseguiu manter sua essência e respeitar o distanciamento. Por outro lado, o Domingão do Faustão foi menos feliz na volta ao estúdio. Mais curto e com poucos quadros, o programa de Fausto Silva se debruça sobre a Dança dos Famosos, um formato que parece pouco adequado para o momento. É estranho ver artistas dançando com seus professores de maneira tão próxima no atual contexto.
Entre erros e acertos, a Globo conseguiu mostrar que é possível, sim, produzir entretenimento de qualidade mesmo diante de tantas adversidades. As mudanças implantadas nos programas de variedades mostram é possível fazer uma boa televisão com poucos recursos e algum improviso. O público agradece o empenho dos profissionais envolvidos.
André Santana
4 Comentários
Olá, tudo bem? Altas Horas foi o mais prejudicado por conta da ausência do auditório que tinha uma participação importante. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirOi Fabio! Concordo! Mas acho que eles se reinventaram bem. Tenho visto o programa com interesse. Abraço!
ExcluirCom a internet, é possível fazer programas com conteúdo, desde que se pense um pouco fora da caixa. Pena que, basicamente, só a Globo faça isso na TV aberta brasileira.
ResponderExcluirFalou tudo, Alexandre!
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