Foto: divulgação/TV Globo |
Uma das melhores novelas das sete da década passada, Ti Ti Ti ganhou uma reprise no Vale a Pena Ver de Novo. Embora sempre muito lembrada pelos fãs para uma reprise, a trama de Maria Adelaide Amaral demorou a retornar. E, quando retornou, não foi o estouro esperado.
Porém, a reprise da divertida trama também não foi o fiasco todo alardeado por aí. Seu resultado de audiência manteve o patamar mediano do Vale a Pena Ver de Novo. Sim, os números caíram em comparação às tramas anteriores, mas é preciso observar que as novelas que antecederam a reprise foram verdadeiros “arrasa-quarteirões”, como Laços de Família, Eta Mundo Bom!, Avenida Brasil e Por Amor.
Mas, independentemente de audiência, a reprise reafirmou as qualidades da obra. Ti Ti Ti é uma novela deliciosa, dona de um humor inteligente, espirituoso e refinado, que usou a metalinguagem de maneira ímpar e, ainda, contou com um grande elenco em estado de graça. O TELE-VISÃO publicou sua tradicional análise após a exibição do último capítulo em sua exibição original, em março de 2011, e resgata o texto logo abaixo. Confira:
Ti Ti Ti sai de cena para se tornar um novo clássico da TV
Terminou na noite de ontem, 18, Ti Ti Ti, deliciosa novela de Cassiano Gabus Mendes reinventada por Maria Adelaide Amaral. Mais do que um remake, a trama ressuscitou as tramas principais de Ti Ti Ti, de 1985, e Plumas & Paetês, de 1980, trouxe ainda personagens de outras novelas de Cassiano, como Elas por Elas, Meu Bem Meu Mal e Brega & Chique, e ainda se deu o direito de alterar personalidades e rumos e criar tramas inéditas. Ao final, mais do que uma homenagem a Cassiano Gabus Mendes, um dos principais criadores das comédias das sete, Ti Ti Ti foi uma homenagem ao gênero em si, tornando-se uma nova trama que conquistou público e crítica com seu texto refinado e bem-humorado.
O grande trunfo de Ti Ti Ti foi apostar suas fichas em duas tramas principais que corriam paralelamente. Não somente um trunfo, mas também um desafio, pois não é fácil equilibrar tramas tão distintas de modo que as tornem membros de uma única estrutura. Desafio vencido com todos os méritos. A trama romântica, centrada no triângulo amoroso formado por Marcela (Isis Valverde), Edgar (Caio Castro) e Renato (Guilherme Winter), prendeu do início ao fim. Ti Ti Ti conseguiu trazer uma mocinha romântica e interessante, como há muito não se via em novelas (não é, Gilberto Braga?), e manteve o triângulo até o final, dividindo a torcida do público. O destino de Marcela era um dos desfechos mais esperados.
Enquanto Marcela e seus amores cumpriam com maestria sua função dramática dentro do folhetim, a rivalidade entre os estilistas Jacques Leclair (Alexandre Borges) e Victor Valentin (Murilo Benício) teve mais liberdade para abusar da comédia e do escracho.
O novo Jacques, bem mais afetado e caricaturizado que na versão 1985, dividiu opiniões, mas o fato é que caiu como uma luva para Borges. O ator deitou e rolou nas caras e bocas (mas essa era outra novela) e criou um tipo bem divertido e cheio de manias. Murilo Benício também mandou bem com seu Ari, criando mais um bom tipo para sua galeria de personagens estranhamente adoráveis. O non sense imperou do início ao fim, com cenas da mais absoluta diversão. Ti Ti Ti marca a carreira de Murilo e Alexandre, assim como marcou a de Luis Gustavo e Reginaldo Faria nos anos 1980.
E a famosa rivalidade entre os estilistas ganhou, nos anos 2000, um terceiro elemento que fez toda a diferença: Jaqueline Maldonado (Claudia Raia). A perua tresloucada roubou a cena do início ao fim da novela, com seu passado cheio de desventuras, sua franqueza e paixão exacerbadas e sua adoração pelo hit “Ilariê”.
Várias de suas cenas já se tornaram antológicas, sobretudos suas falas que revelavam seu passado e sua “sabedoria”. Fã de futebol, de ovo colorido e de pratos culinários exóticos (como churros no pão), Jaqueline proferiu pérolas como: “o álcool é o maior inimigo do homem. Mas o homem que foge de seus inimigos é um covarde!”.
Ti Ti Ti também encantou com os personagens do Belenzinho, todos simpáticos e trabalhadores. Chico (Rodrigo Lopez), Nicole (Elizângela), Marta (Dira Paes) e dona Mocinha (Maria Célia Camargo), entre outros, divertiram. Várias boas histórias de amor permearam a obra, como o triângulo Desiree (Mayana Neiva, excelente atriz), Armandinho (Alexandre Slaviero) e Jorgito (Rafael Cardoso), que eram vítimas da invejosa (e impagável) Stéfany (Sophie Charlotte). Mabi (Clara Tiezzi), Lipe (David Lucas), Luti (Humberto Carrão) e Camila (Maria Helena Chira) também merecem destaque.
Outro destaque foi a bela abordagem da homossexualidade, tanto pela luta interna de Bruna (Giulia Gam), de passar por cima de suas crenças pelo amor ao filho Osmar (Gustavo Leão) e seu namorado Julinho (André Arteche) e, depois, pelo conflito de Thales (Armando Babaioff), que passou pelo processo da autoaceitação em nome do amor a Julinho. A trama agradou e Julinho e Thales ganharam a torcida da audiência.
Além de um sem número de bons personagens e histórias, Ti Ti Ti abriu espaço para o pop e a metalinguagem, trazendo inúmeras referências a outras novelas. Além da já citada participação de personagens de outras tramas de Cassiano Gabus Mendes, como Mário Fofoca (Luis Gustavo, de Elas por Elas), Kiki Blanche (Eva Todor, de Locomotivas), Divina Magda (Vera Zimmermann, de Meu Bem Meu Mal) e Rafaela Alvaray (Marília Pêra, de Brega & Chique), a trama fez referências a inúmeras outras novelas e séries,como O Clone, Fera Radical, A Justiceira, Roque Santeiro, A Favorita, Caras & Bocas, Escrava Isaura, Rainha da Sucata ("Faça como a Laurinha Figueiroa: se joga!", disse JaquelineMaldonado)... até Chiquititas foi lembrada, em várias cenas de Thaisa (Fernanda Souza, que protagonizou a trama infantil do SBT).
Com tantos méritos, a gente até perdoa os equívocos, como a trama de Rebeca (Christiane Torloni), que não disse a que veio. Ti Ti Ti veio reafirmar o tarimba de Maria Adelaide Amaral, e ainda trazer à tona o talento do jovem autor Vincent Villari, um dos principais colaboradores da obra.
Maria Adelaide Amaral já afirmou e reafirmou que Villari é o grande responsável pela criação de Jaqueline, bem como o “pai” de suas pérolas. Vincent Villari foi o mais jovem autor a ser contratado pela Globo (tinha apenas 17 anos quando colaborou no remake de Anjo Mau, também assinado por Amaral) e também integrou a equipe das novelas de João Emanuel Carneiro. Tem o dedo dele nas cenas de Eduardo (Ney Latorraca) e Verinha (Maitê Proença) em Da Cor do Pecado; e de Foguinho (Lázaro Ramos) e Milu (Marília Pera) em Cobras & Lagartos.
Ti Ti Ti termina como uma das melhores novelas já exibidas na faixa das sete na Rede Globo. A reinvenção de um clássico tornando-se uma nova novela e, consequentemente, um novo clássico da teledramaturgia nacional. Deixa saudades. Valeu!
Publicado originalmente em 19 de março de 2011.
André Santana
09/10/2021
2 Comentários
Olá, tudo bem? Não acompanhei a reprise. Aliás, raramente acompanho reprises no Vale a Pena Ver de Novo, mas é uma das minhas novelas preferidas. Remake com missão cumprida (e com louvor). Fato raríssimo. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirEu gostei da novela, revi, continuo gostando, continua na minha lista de preferidas, mas não lembrava direito do final, não gostei de não terem punido as vilãs e achei bem corrido. Como é uma novela grande poderiam ter feito um final menos frenético mostrando com mais calma o desfecho dos personagens. Tirando isso valeu muito a pena revê-la.
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