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TV Cultura lança minissérie inédita sobre o bicentenário da Independência dirigida por Luiz Fernando Carvalho

Dom João 6º (Antonio Fagundes) e Carlota Joaquina (Ilana Kaplan) em Independências
Dom João 6º (Antonio Fagundes) e
Carlota Joaquina (Ilana Kaplan) em Independências (divulgação/Cultura)

Em 7 de setembro de 2022, o Brasil celebra dois séculos de sua Independência. O fato histórico, repleto de contradições, dá origem ao novo projeto do cineasta e diretor de tv, Luiz Fernando Carvalho, criado com exclusividade para a TV Cultura: Independências. A ideia do projeto surgiu na emissora a partir de pesquisa inicial realizada pelo jornalista José Antonio Severo. A minissérie foi desenvolvida por Luiz Fernando em parceria com o dramaturgo Luís Alberto de Abreu, com quem o diretor já realizou ‘Hoje é dia de Maria’, ‘Capitu’, ‘A Pedra do Reino’, entre outras. O projeto foi escrito por Luis Alberto, com roteiro de Paulo Garfunkel, Alex Moletta e Melina Dalboni. A Equipe de colaboradores foi composta por Kaká Werá Djecupé, Ynaê Lopes dos Santos, Cidinha da Silva e Tiganá Santana. A tradução para o Kimbundu ficou a cargo do Professor Niyi Monanzambi (UFBA)

Resultado de um trabalho colaborativo que levou um ano e meio para a pesquisa, criação e realização, Independências estreia justamente no dia 7 de setembro e terá 16 episódios, exibidos semanalmente até o final do ano.

‘Sempre acreditei na função das TVs abertas, especialmente a Tv Cultura, que são concessões públicas, veículos fundamentais e de imensa responsabilidade, capazes de abraçar uma missão maior, que é a de não se restringirem simplesmente a seduzir telespectadores, mas, sim, caminhando de mãos dadas com educação, contribuírem na formação dos cidadãos”, conta Luiz Fernando Carvalho, cujo currículo reúne mais de 35 anos de uma carreira repleta de êxitos na televisão aberta e no cinema.

‘Identificamos inúmeros pontos de convergência entre o olhar de Luiz Fernando Carvalho para o audiovisual brasileiro e a nossa concepção e crença de TV Pública. Nestes dois anos de gestão, notamos o crescimento de audiência da TV Cultura, o que comprova que é possível fazer televisão aberta com bom conteúdo e comprometida com as premissas de nosso estatuto que são a educação, a informação, cultura e entretenimento com qualidade”, diz José Roberto Maluf, Presidente da Fundação Padre Anchieta.

A história que a História não conta

O projeto partiu da necessidade de se recontar o Brasil através de uma releitura que se convencionou chamar de Nova historiografia. A ideia central de Luiz Fernando Carvalho é reivindicar a participação de um enorme conjunto de saberes, culturas, subjetividades e personagens que foram postos à margem ou que, violentamente, foram apagados pela história oficial.

Entre estes desmoronamentos históricos, observa-se a importância do protagonismo feminino na Independência do Brasil, como o da própria Leopoldina, artificie central no processo da Independência. Surgem figuras como Maria Felipa, cuja participação foi referencial na luta pela independência da Bahia, e o Padre José Maurício, maestro negro da Corte Imperial, mas ausente dos registros tradicionais.

Na visão do diretor, a minissérie oferecerá aos telespectadores de todo o país, a consciência de acontecimentos e personagens reais que até então se encontravam submersos, escondidos pelo manto de uma didática tida como versão absoluta pela visão eurocêntrica.

Através de uma fabulação de vozes múltiplas, avistaremos um país nascido sob o signo da pluralidade. ‘É uma escavação. Iremos escavando em busca do passado, reencontrando fantasmas nas salas do império, colonialismo, violência social, autoritarismo e escravidão. Fantasmas que, infelizmente, ainda se manifestam no presente como prática arraigada. Sem esta reflexão sobre a constante atualização do colonialismo histórico e suas estruturas de poder, me parece uma falácia pensarmos a ideia de um futuro, um país mais belo e justo para todos’, afirma Luiz Fernando.

Independência ou Golpe?

O desejo de falar sobre o Brasil do século XIX habita a criação de Luiz Fernando Carvalho há tempos. Ele já tratou da época em ‘Os Maias’ e ‘Capitu’ (TV Globo), mas enquanto a primeira se passava em Portugal, a segunda apresentava um conflito intimista. Desde então, o diretor buscava falar sobre esses primeiros anos de um século tão fundamental para entender o Brasil de agora.

‘Eu talvez possa afirmar que se trata de um trabalho atual, não de época. Nosso presente está repleto de passado. Me parece fundamental fazermos essa ponte entre nossas fundações e os desdobramentos que ocorreram nos séculos seguintes. O século XIX foi um período estrutural, iniciando avanços e tragédias com as quais lidamos até hoje. A história do Brasil sempre nos foi contada de forma romantizada, quando, na verdade, é trágica, bárbara, marcada por golpes e genocídios que precisam ser iluminados.

Nova dramaturgia histórica

‘Através de meus trabalhos, sempre me pergunto: Que país é esse? Agora se faz necessária a atualização dessa interrogação’, afirma o diretor, que aponta para o uso de informações atuais no roteiro. É o caso do envenenamento de Dom João VI, que só foi confirmado no início dos anos 2000, após a exumação de seu cadáver. É um fato que altera a história oficial e que vai impactar diretamente na ‘nova dramaturgia histórica’ proposta pela minissérie.

‘Nos tempos de hoje, onde a linguagem internacionalizada dos streamings se torna cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, o convite da TV Cultura é um enorme desafio: refazer o diálogo entre entretenimento e educação. Não vejo como poderia um diretor realizar seu trabalho sem sentir a necessidade de enfrentar os desafios éticos e estéticos do seu tempo. Se faz necessário aos artistas e especialistas que trabalham no veículo pensarem numa nova função para a televisão aberta. Esta nova função estaria, no meu modo de sentir, diretamente ligada `a educação, e, por tanto, `a uma produção de consciência e reeducação dos sentidos através de conteúdos relevantes”

A missão da TV aberta

O projeto Independências retoma a missão da TV aberta na concepção de Luiz Fernando Carvalho, que encontrou eco nos valores da atual gestão de José Roberto Maluf na TV Cultura. “Minha busca é por oferecer ao homem comum, simples e fraterno, uma televisão que privilegie a inteligência e a sensibilidade de todo um país, sem com isso abrir mão do espetáculo. Enxergo a dimensão que a televisão alcança e tratá-la apenas como diversão me parece bastante contestável. Precisamos de diversão, mas também precisamos nos orientarmos e entender o mundo”, analisa o diretor.

‘A TV Cultura tem em seus mais de 50 anos de história um DNA ligado às produções de teledramaturgia não convencionais. Pela TV Cultura já passaram nomes como Antunes Filho, Antônio Abujamra, Ademar Guerra, Walter George Durst e, mais recentemente, Fernando Meirelles. A chegada do Luiz Fernando Carvalho à nossa emissora é uma reconexão dessa história da TV cultura e suas origens’, diz Enéas Carlos Pereira, Vice- Presidente Executivo e Diretor de Programação da TV Cultura.

20/08/2022

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