Oberdan (Douglas Silva), Celinho (Leonardo Lima Carvalho) e Jussara (Mary Sheila) em Todas as Flores |
Na metade de sua “primeira temporada”, Todas as Flores continua sendo alvo dos maiores elogios de público e crítica. João Emanuel Carneiro conseguiu recuperar seu prestígio ao oferecer um dramalhão eficiente, cheio de ganchos poderosos e muitas reviravoltas. Novela perfeita? Longe disso. Apesar dos acertos, Todas as Flores também tem seus erros.
Não são poucos os internautas espectadores que reclamam do núcleo de Oberdan (Douglas Silva). Criado para ser o “alívio cômico” da trama, a história do músico que trai a mulher constantemente não tem arrancado um riso amarelo da audiência. Entre as reclamações vistas nas redes sociais, estão o fato de a trama reforçar estereótipos, abusar de situações batidas e ser pouco conectada ao restante do enredo.
Verdade seja dita, esta situação é uma constante na obra de João Emanuel Carneiro. Até mesmo o clássico Avenida Brasil tinha o seu ponto fraco com a trama de Cadinho (Alexandre Borges), que, assim como a história de Oberdan, também vivia de situações repetitivas e batidas, além de ser descolada do resto da novela.
Aliás, todas as outras novelas de Carneiro tinham isso: pai Helinho (Matheus Nachtergaele), de Da Cor do Pedado (2004); Eva (Eliane Giardini), em Cobras & Lagartos (2006); Céu (Deborah Secco) e Orlandinho (Iran Malfitano), em A Favorita (2008); Rui (Bruno Mazzeo), em A Regra do Jogo (2015); e Clóvis (Luis Lobianco) e Goreti (Thalita Carauta), em Segundo Sol (2018).
Mas núcleos cômicos falhos não são exclusividade de João Emanuel Carneiro. Grande parte dos autores, até mesmo os mais experientes, já caíram na armadilha de criarem um “alívio cômico” como se fosse uma obrigação do roteiro. Com isso, pouco inspirados, eles acabavam oferecendo tramas que mais aborreciam do que divertiam o público.
Lembra da família de Eusébio (Marco Nanini) em A Dona do Pedaço (2019)? Ou o triângulo envolvendo Cido (Rafael Zulu), Samuel (Eriberto Leão) e Suzy (Ellen Rocche) em O Outro Lado do Paraíso (2017)? Ou ainda a dupla Norberto (Marcos Veras) e Clóvis (Igor Angelkorte) de Babilônia (2015)? Estes são só alguns exemplos, mas é raro haver uma novela das nove sem um núcleo cômico dispensável.
Claro que uma novela dramática pode ter um alívio cômico para equilibrar as emoções do público. No entanto, a graça dentro de uma novela dramática é muito mais interessante quando ela acontece naturalmente, e não de maneira forçada. Avenida Brasil mesmo era muito divertida quando explorava o cotidiano da família Tufão. Recentemente, Um Lugar ao Sol (2021) divertia com os trambiques de Elenice (Ana Beatriz Nogueira). Era humor, mas longe de ser forçado. Eram tramas que se harmonizavam com o restante do enredo.
A própria Todas as Flores faz isso muito bem. A relação tóxica de Zoé (Regina Casé) e Vanessa (Letícia Colin), por exemplo, já rendeu momentos engraçados. A história de Mauritânia (Thalita Carauta) é outro exemplo de trama que arranca risadas, ao mesmo tempo em que faz a novela andar. Não força a barra.
Ou seja, novela pode ter humor. Só não pode inventar núcleo cômico apenas para constar. Esse negócio de enfiar esquete do Zorra Total no meio de uma novela já não funciona mais. Se o núcleo cômico não for tão interessante quanto o restante do enredo, é melhor não ter.
André Santana
26/11/2022
1 Comentários
Olá, tudo bem? As história paralela sempre foram um ponto fraco da novelas do autor João Emanuel Carneiro....Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
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