Carlos Lombardi deixou a Globo após tentar emplacar novela bizarra

Carlos Lombardi (reprodução)

Por mais de 20 anos, Carlos Lombardi esteve entre os principais autores de novela da Globo. O novelista foi um dos principais responsáveis por tornar o horário das sete um espaço para comédias, engatando clássicos como Vereda Tropical (1984), Bebê a Bordo (1988) e Quatro por Quatro (1994), entre tantas outras.

No entanto, depois de concluir Pé na Jaca (2006), o autor não conseguiu emplacar mais nenhuma novela no canal. Depois de assinar a série Guerra e Paz (2008), Lombardi apresentou a sinopse de uma nova trama para o horário das sete. Mas a história bizarra proposta pelo autor jamais saiu do papel.

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Viagem no tempo

A novela que Carlos Lombardi apresentou à direção da Globo chamava-se João ao Cubo. A trama girava em torno de uma agência de turismo que tinha como principal atividade o oferecimento de viagens no tempo. 

Com isso, o protagonista do folhetim viajava constantemente pelo tempo, o que o fez ter três mulheres, cada uma numa linha temporal diferente. Com isso, a novela se passava em três períodos de tempo diferentes.

Lombardi apresentou a sinopse de João ao Cubo à Globo logo após concluir Guerra e Paz. No entanto, inicialmente, a trama foi negada. Depois, foi solicitado ao autor que fizesse algumas alterações, até que a história foi aprovada pela direção. Porém, apesar da aprovação, João ao Cubo passou a ser constantemente adiada. 

Neste meio tempo, Lombardi optou por seguir o chamado da Record. Em 2013, ele estreou sua única novela no canal, Pecado Mortal, na faixa das 22h30. A trama agradou a crítica, mas não atingiu bons índices de audiência.

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Buscando novidades

Em entrevista à Folha de S. Paulo, em 2013, Carlos Lombardi deu alguns detalhes sobre João ao Cubo. O autor revelou que a história “maluca” se deu em razão de uma busca por fazer algo novo. Justamente esta busca que o levou a trocar a Globo pela Record.

"Estava com pressa de fazer um projeto. E lá [na Globo], o processo estava lento. Também queria mudar de registro. Fiz uma proposta maluca de uma comédia para as 19h, o João ao Cubo. Seria o famoso clássico do cara com três mulheres, mas, em vez de três cidades, eram três épocas diferentes. Não sabia mais o que inventar. Não teve briga, não xinguei ninguém, estou muito velho para isso", explicou.

Na mesma época, o autor também falou à Veja São Paulo sobre o assunto.

“Saí [da Globo] porque não tinha perspectivas para trabalhar lá. A sinopse de João ao Cubo estava aprovada, mas nunca começavam a produzir. Havia dois anos que não trabalhava e estava inquieto. Veio o convite da Record e aceitei. Fazia tempo que queria escrever um melodrama e, na Globo, só fazia comédia”, contou. 

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Inspiração 

Apesar da temática inusitada, João ao Cubo não foi a primeira história criada por Carlos Lombardi a tratar de viagens no tempo. O autor já havia flertado com a temática em Kubanacan (2003), a mais “cult” de suas novelas, que está disponível no Globoplay.

A trama girava em torno de Esteban (Marcos Pasquim), um rapaz desmemoriado que é constantemente perseguido por bandidos com quem teve contato no passado. Além disso, ele tinha dupla personalidade: ora era um rapaz boa praça e romântico, ora era um bandidão implacável, o “dark Esteban”.

No final da trama, veio a surpresa: Esteban, na verdade, não era o Esteban que todos perseguiam, mas sim León, filho dele que veio do futuro. O rapaz voltava ao passado para tentar fazer justiça à memória do pai, que era acusado de ser um bandido injustamente. Mas, por efeitos colaterais da viagem no tempo, León perdeu a memória e passou a acreditar que era o próprio pai.

A explicação sobre Esteban e León só apareceu na última semana de Kubanacan e, até hoje, confunde o público. Muita gente ficou sem entender o final da trama de Carlos Lombardi. 

André Santana

02/11/2024