"Terra e Paixão" anda em círculos e cria problema para a Globo

A família La Selva de Terra e Paixão (divulgação/Globo)

Aposta alta da Globo para elevar a audiência da faixa das nove, Terra e Paixão ainda não disse a que veio. Quase dois meses depois de sua estreia, a novela de Walcyr Carrasco parece andar em círculo e, com isso, não vem empolgando o público. Consequentemente, a audiência continua abaixo do que a a emissora esperava.

Não é difícil entender o motivo. Até mesmo este pequeno e cabeçudo jornalista, que havia demonstrado empolgação com a primeira semana, já se decepcionou com o desenrolar da história. E “desenrolar”, no caso, é modo de dizer. Terra e Paixão pouco andou nestas primeiras semanas, estacionada em situações repetitivas e o famoso exagerado didatismo do autor.

Terra e Paixão começou com um novelão típico, apresentando uma mocinha, Aline (Barbara Reis), ameaçada por um terrível e poderoso vilão, Antônio (Tony Ramos), que matou seu marido e tentou matá-la logo na primeira cena da novela, Criou-se, então, a expectativa sobre como a humilde professora conseguiria sobreviver a esta queda de braço tão potente.

Mas, depois disso, pouca coisa de fato aconteceu. E o que aconteceu não foi nada interessante. Aline engatou um romance sem sal e sem açúcar com Daniel (Johnny Massaro), que nunca convenceu. Os dois personagens simplesmente não combinam. Aline é uma mulher forte, de personalidade, enquanto Daniel é um pastel que se submete às vontades da família sem questionar.

Enquanto isso, Caio (Cauã Reymond) também se apaixonou pela jovem, mas é constantemente dispensado por ela. Com isso, o rapaz só aparece choramingando pelos cantos. Afinal, ele é o herói da novela ou não? Porque está difícil torcer por um mocinho tão apagado e resmungão. Jonatas (Paulo Lessa), outro pretendente de Aline, também ainda não disse a que veio.

O romance em Terra e Paixão não decola, assim como a personagem de Gloria Pires. Anunciada como a grande vilã da trama, Irene ainda age pela surdina e mais aborrece do que diverte. Sua obsessão pela sucessão (palavra que ela repete a cada meio minuto) empobrece uma personagem que tem enorme potencial. Por enquanto, Gloria Pires está sendo incrivelmente desperdiçada em cena.

As demais tramas também não empolgam. Tudo em Terra e Paixão ainda é frio, distante, sem grandes emoções. Walcyr Carrasco está mais repetitivo do que nunca e parece sem ideia. Tanto que apostou em duas tramas muito parecidas na mesma novela, com as personagens Lucinda (Débora Falabella) e Mara (Renata Gaspar), que vivem praticamente o mesmo drama em seus respectivos casamentos.

A Globo não jogou a toalha e Carrasco já vai promover suas famosas reformulações na novela. De acordo com notícias veiculadas pela imprensa, o autor vai antecipar a morte de Daniel para desencadear novos conflitos e alterar os rumos da narrativa. Será a grande cartada para tentar fazer a plateia se animar com a atração.

O histórico de Walcyr Carrasco pesa a favor do novelista. Em 2017, O Outro Lado do Paraíso também começou em baixa, chegando até a dar menos audiência que a novela das sete na época, Pega Pega. Com isso, o autor tratou de adiantar a volta por cima de Clara (Bianca Bin), antecipando sua prometida vingança. A estratégia funcionou e O Outro Lado do Paraíso se tornou um dos maiores sucessos da emissora na década passada.

Será que o mesmo vai acontecer com Terra e Paixão? Ou Walcyr Carrasco vai amargar seu primeiro fracasso no horário nobre da Globo?

Interessante constatar a má fase de todos os autores veteranos da Globo. Manoel Carlos, Gilberto Braga, Benedito Ruy Barbosa, Aguinaldo Silva e Gloria Perez não foram felizes em suas últimas incursões no horário, com Em Família (2014), Babilônia (2015), Velho Chico (2016), O Sétimo Guardião (2018) e Travessia (2022). Será que a “maldição” chegou em Walcyr Carrasco?

André Santana

24/06/2023