As sete protagonistas de Elas por Elas (divulgação/Globo) |
Muita gente estranhou quando a Globo começou a exibir as primeiras chamadas de Elas por Elas. Com cenas de humor e ação, a trama pareceu, aos olhos do público, uma “novela das sete” exibida na faixa das seis. O que faz certo sentido, já que a versão original de Elas por Elas foi exibida às 19h em 1982.
No entanto, a releitura de Alessandro Marson e Thereza Falcão da obra de Cassiano Gabus Mendes não chega a ser uma estranha no ninho. Afinal, o horário das seis da Globo sempre ficou marcado pela variedade de temáticas e estilos. Todas com o viés romântico acentuado, é verdade, mas obras bastante distintas entre si.
A Globo vem apostando em romances de época no horário, como as recentes Amor Perfeito (2023) e Além da Ilusão (2022). Mas entre elas, cabe lembrar, foi exibida Mar do Sertão (2022), uma novela contemporânea interiorana. E não faz tanto tempo assim que o público do horário viu novelas contemporâneas urbanas: Órfãos da Terra é de 2019 e a reprise de A Vida da Gente aconteceu em 2021.
Mas é fato que, nos últimos anos, as tramas contemporâneas urbanas perderam espaço no horário. Por isso mesmo, o remake de Elas por Elas é bem-vindo. Não apenas por resgatar os cenários da cidade, mas também por pisar no humor e no romance na mesma proporção. Apesar de ser uma nova versão de um clássico, a novela injeta um frescor no horário.
Lázaro Ramos como Mário Fofoca em Elas por Elas (divulgação/Globo) |
Falando da trama em si, é possível concluir, ao menos nessa primeira semana, que os autores foram muito felizes nas adaptações. A nova Elas por Elas conta uma história conhecida, mas de um jeito novo, atual, com surpresas e novidades interessantes. O reencontro de Lara (Deborah Secco), Taís (Késia), Adriana (Thalita Carauta), Helena (Isabel Teixeira), Carol (Karine Teles), Renée (Maria Clara Spinelli) e Natália (Mariana Santos) rendeu bons momentos já nos primeiros capítulos.
A grande surpresa do elenco é Késia, atriz pouco conhecida, mas que esteve ótima nas cenas em que Taís descobre que seu namorado é justamente o marido de sua amiga. Thalita Carauta surpreende a cada novo trabalho e imprime uma naturalidade impressionante à sua personagem. Adriana é gente como a gente, uma mulher super reconhecível. Já a Helena de Isabel Teixeira está mais vilã que a original de Aracy Balabanian, o que promete render bons momentos. No geral, o grupo funcionou muito bem.
Excelente ideia dos autores de transformar Carmem (Maria Helena Dias) em Renée, uma mulher trans. Não apenas por ampliar a representatividade no elenco, mas até por dar à personagens conflitos mais envolventes. Carmem era a mais “comum” das sete amigas originais, sua trama não tinha grandes reviravoltas. Já Renée tem um conflito bem mais intenso, pois foi abandonada pelo marido, que e a deixou sem nada. A personagem comove com sua luta para sobreviver ao lado dos filhos.
Elas por Elas também apresenta um novo Mário Fofoca, icônico personagem de Luis Gustavo. Lázaro Ramos dá ao detetive atrapalhado uma interpretação totalmente nova, meio clown, diferente da elegância do primeiro intérprete. Muita gente reclamou que ele está exagerado, mas discordo. Lázaro deu um tom nonsense interessante ao personagem. Além disso, o texto dele é ótimo.
A nova novela das seis teve uma primeira semana movimentada, mas longe de ser apressada. A trama tem uma estrutura interessante, já que são sete protagonistas e cada uma delas lidera um núcleo. Ou seja, as tramas têm o mesmo peso, o que lhe dá um formato diferente. Até aqui, o único ponto negativo é o filtro que deixa a imagem escura. A novela é solar, alto astral, e essa escuridão não combina. Pode gerar um descompasso entre o texto de Thereza Falcão e Alessandro Marson e a direção artística de Amora Mautner. Dá tempo de corrigir.
No mais, em meio ao ramerrame de Fuzuê e a nau sem rumo que virou Terra e Paixão, Elas por Elas reacende a esperança do noveleiro de, finalmente, estar diante de uma novela da qual dá gosto de acompanhar. Que continue assim!
André Santana
01/10/2023
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