Regiane Alves e Marcos Damigo em Fascinação (divulgação) |
Quando tem problemas de audiência, a Globo já sabe a quem recorrer: Walcyr Carrasco. O incansável autor de novelas da emissora costuma ser bem-sucedido na missão de levantar o ibope de qualquer horário. Em Terra e Paixão, o sucesso arrebatador não veio, mas, ao menos, o novelista cumpriu a missão de elevar os números do horário.
Carrasco está acostumado a assumir “missões impossíveis”. Quando ainda era contratado do SBT, o autor precisou correr contra o tempo e criar uma novela a toque de caixa. A pressa era tanta que a trama entrou no ar apenas duas semanas depois do início das gravações, algo impensável para um folhetim. A novela em questão era Fascinação, de 1998.
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Dramaturgia do SBT
A dramaturgia do SBT vivia uma fase de indefinições. Em 1997, a emissora tinha uma faixa de produções nacionais adultas que vinha desde Éramos Seis (1994). Na época, a trama em exibição era Os Ossos do Barão, com Tarcísio Filho e Ana Paula Arósio. A emissora também já tinha engatilhado suas sucessoras: Pérola Negra e O Direito de Nascer.
No entanto, do nada, Silvio Santos decidiu substituir Os Ossos do Barão por uma reprise de Maria Mercedes, que havia sido exibida meses antes, com sucesso. Com isso, as novelas nacionais seguiram em produção, mas sem qualquer expectativa quanto a uma data de estreia.
Silvio Santos, na verdade, fazia sua matemática simples: dramaturgia nacional demandava muito dinheiro e nem sempre tinha retorno de audiência, ao contrário das novelas mexicanas, mais baratas e que faziam sucesso junto ao público. Com isso, a trama estrelada por Thalia tomou a vaga das novelas nacionais.
Mas, no ano seguinte, o dono do SBT voltou a simpatizar com a produção de novelas nacionais. No entanto, Silvio Santos queria uma trama barata, com um modus operandi parecido com o das novelas mexicanas. Walcyr Carrasco, que havia acabado de assinar Xica da Silva com o pseudônimo Adamo Angel (pois ele era contratado do SBT quando escreveu a novela da Manchete), ficou incumbido da missão. Nascia Fascinação.
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Correria
Mariana Ximenes, Regiane Alves e Samantha Monteiro em Fascinação (divulgação) |
O SBT queria que Fascinação estreasse no mesmo dia e no mesmo horário que Torre de Babel, em 25 de maio de 1998. Com isso, a emissora correu contra o tempo para colocar sua nova aposta no ar.
A trama seguia os moldes das novelas mexicanas, tanto no enredo quanto na produção. A história era um melodrama água com açúcar simples. E a produção, simplória. Não havia cidade cenográfica e nem gravações externas. Assim como nas tramas da Televisa, só seriam mostradas as fachadas das casas e cenas em estúdio. O elenco também era novato. Cada capítulo custava R$ 20 mil. Uma bagatela.
"Temos uma ideia errada das novelas latinas: elas atingem o público com histórias muito românticas", declarou Walcyr Carrasco ao O Estado de S. Paulo, em 17 de maio de 1998. "Fascinação tem o mesmo objetivo, mas sem a interpretação e a produção dessas tramas", explicou.
As gravações em estúdio começaram duas semanas antes de Fascinação estrear. Para dar tempo, os atores e técnicos encararam uma maratona de mais de 12 horas por dia de trabalho. A novela entrou no ar com apenas uma semana de frente.
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Lançamentos
Para o elenco de Fascinação, nada de grandes nomes. Os então desconhecidos Regiane Alves e Marcos Damigo respondiam pelos protagonistas, Ana Clara e Carlos Eduardo. Outros estreantes em novelas eram Mariana Ximenes e Heitor Martinez. Caio Blat era um dos rostos mais conhecidos, assim como a veterana Glauce Graieb, que vivia a grande vilã Melânia.
Fascinação foi concebida para bater de frente com Torre de Babel, mas não fez nem cócegas na concorrente. Mesmo que a trama de Silvio de Abreu tenha enfrentado problemas em seu início, a novela do SBT estreou com tímidos 10 pontos de audiência, abaixo do que a emissora de Silvio Santos esperava.
Mas a trama viu sua audiência crescer aos poucos. A novela foi beneficiada quando, em setembro de 1998, o SBT estreou o Programa do Ratinho no horário em que anteriormente era exibido o folhetim. Fascinação, então, passou para a faixa das 20 horas e saiu da concorrência com a novela da Globo.
Animado com o êxito, Silvio Santos encomendou a Walcyr Carrasco uma nova novela. O autor, então, escreveu Segredo, que substituiria Fascinação. Mas, de última hora, o dono do SBT “se lembrou” de que havia duas novelas prontinhas para ir ao ar e cancelou Segredo, que jamais foi produzida. Pérola Negra, totalmente gravada, foi a escolhida para substituir Fascinação.
Aliás, a outra novela prontinha para ir ao ar era O Direito de Nascer, mas essa demorou um pouco mais para sair da gaveta. O folhetim só foi ao ar em 2001, substituindo a reprise de Éramos Seis (1994) lançada na faixa das 18h30.
André Santana
25/01/2024
3 Comentários
E qual era a outra novela prontinha, André? Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirEra O Direito de Nascer, que eu cito no terceiro parágrafo! Vou complementar no final para não ficar confuso, obrigado pelo toque. E obrigado pelo elogio!
ExcluirAh, sim! Verdade... ficou mais claro agora. De nada!
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