Márcia Dantas e Marcão do Povo no Tá na Hora (divulgação) |
Pouco mais de dois meses após o lançamento da nova grade de programação do SBT, já é possível fazer uma análise mais assertiva do atual momento da TV da família Abravanel. A estação tenta se reinventar neste momento de grandes transformações no audiovisual e, como as demais emissoras, se depara com grandes desafios.
A princípio, é importante observar que a estreia dos novos programas semanais teve mais acertos do que erros. É Tudo Nosso! manteve a audiência das noites de sexta-feira e tirou o SBT do marasmo, o que é positivo. O formato inusitado não soa como cópia e o clima de caos remete ao SBT dos bons tempos. Enquanto isso, Sabadou com Virgínia elevou a audiência das noites de sábado e o Circo do Tiru apresenta resultados satisfatórios para os atuais padrões do SBT.
Mas, analisando a grade diária, observa-se os maiores problemas. A emissora apostou na revista eletrônica Chega Mais e no noticioso Tá na Hora para ampliar o espaço da programação ao vivo e, principalmente, aumentar o potencial de faturamento. As dificuldades de implantação dos dois projetos apareceram, evidenciando que o SBT se tornou refém de sua própria história.
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Audiência é o que importa
Tanto o Chega Mais quanto o Tá na Hora exibem várias inserções comerciais, demonstrando que o SBT deve estar faturando com as novas apostas. Porém, nenhum dos dois programas apresenta grandes índices de audiência. E a grande dificuldade destes programas passa pelo “DNA do SBT”.
Quando a emissora de Silvio Santos surgiu, lááá no início dos anos 1980, o empresário e animador sempre deu mais importância para a audiência do que o faturamento. A maior ambição de Silvio Santos sempre foi se consolidar na vice-liderança, incomodar a Globo sempre que possível e fortalecer um espaço para vender seus produtos. O Grupo Silvio Santos sempre foi o maior anunciante do SBT e, durante um bom tempo, isso bastou.
Na história do SBT, houve momentos em que Silvio Santos buscou uma grade de maior prestígio, como quando contratou Jô Soares, Boris Casoy e Serginho Groisman, além do investimento em novelas grandiosas, como Éramos Seis (1994). Mas essas fases se revelavam voo de galinha e, tempos depois, o empresário voltava à TV popular, apostando em ícones como Márcia Goldschmidt e Ratinho, que davam alta audiência, mas não faturavam.
Silvio também buscava faturar por outros meios. Quando o Fantasia (1997) foi criado, por exemplo, a ideia não era faturar com merchan, mas sim por meio de ligações. O sistema 0900 estava a todo vapor nessa época, e a enorme quantidade de ligações que o programa recebia arrecadava uma boa grana. Tanto que bastou o 0900 ser proibido para o programa sair do ar.
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Nova realidade
Porém, os tempos são outros. Televisão é brinquedo caro e todos os canais passaram a priorizar as vendas, deixando a audiência em segundo plano. Silvio Santos, antes de se aposentar, já havia tomado medidas para fazer do SBT um negócio mais rentável. Daniela Beyruti, atual mandachuva do canal, tem tomado providências nesse sentido.
Aí chegamos a 2024 e entendemos melhor as dificuldades do Chega Mais e do Tá na Hora. São programas feitos para faturar, mas que passam longe da TV popular que dava audiência, mas não faturava dos tempos áureos do SBT. Justamente por não conversar com a audiência cativa do SBT, os dois programas têm dificuldades para encontrar seu público.
Porém, para o Chega Mais, há esperança. A chegada do diretor Ariel Jacobowitz foi benéfica à revista eletrônica de Regina Volpato, Michelle Barros e Paulo Mathias, que vem ficando mais interessante. Houve ajustes nos tempos das pautas, inserção de quadros mais populares e a promessa é de que as mudanças ficarão ainda mais evidentes nas próximas semanas. A audiência cresceu. Timidamente, mas cresceu.
Já o desafio do Tá na Hora é mais complexo. O programa de Marcão do Povo e Márcia Dantas concorre com produtos consolidados do mesmo segmento, o Brasil Urgente e o Cidade Alerta. Além disso, ocupou um espaço que foi de novelas durante muitos e muitos anos. Houve uma mudança radical de público. E é preciso acrescentar a falta de tradição do SBT em jornalismo. Quem procura informação dificilmente busca o SBT.
Ou seja, para o final da tarde, o SBT se destacaria se surgisse como alternativa, e não como mais do mesmo. Sendo assim, é pouco provável que o Tá na Hora consiga se estabelecer nesse horário. O desafio do programa vespertino é bastante ingrato.
André Santana
01/06/2024
3 Comentários
Olá, tudo bem? O programa Chega Mais não vai se sustentar com quatro horas diárias. Marcão do Povo não conseguirá disputar com Datena e Bacci. Tais impressões já eram percebidas antes mesmo da estreia das duas atrações. E mesmo assim, o SBT investiu em erros claramente perceptíveis. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirO SBT tem que insistir e não desacreditar no "Chega Mais". O programa não pode dar a audiência desejada, mas gera faturamento. Só precisa diminuir o tempo de exibição para duas horas.
ResponderExcluirJá o "Tá na Hora" era tragédia anunciada e não foi por falta de aviso. A Emissora já obtinha bons índices de audiência com as novelas e trocar por um programa para concorrer com atrações similares já consolidadas como o "Cidade Alerta" da Record e "Brasil Urgente" da Band, era inevitável que ficaria atrás dessas atrações. Inclusive está comprometendo a audiência do "SBT Brasil".
O SBT tem que insistir e não desacreditar no "Chega Mais". O programa não pode dar a audiência desejada, mas gera faturamento. Só precisa diminuir o tempo de exibição para duas horas.
ResponderExcluirJá o "Tá na Hora" era tragédia anunciada e não foi por falta de aviso. A Emissora já obtinha bons índices de audiência com as novelas e trocar por um programa para concorrer com atrações similares já consolidadas como o "Cidade Alerta" da Record e "Brasil Urgente" da Band, era inevitável que ficaria atrás delas. Inclusive está comprometendo a audiência do "SBT Brasil".