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Bang Bang no Globoplay faz justiça à obra de Mário Prata

Fernanda Lima e Bruno Garcia em Bang Bang
Fernanda Lima e Bruno Garcia em Bang Bang (reprodução)

Uma das atrações do Projeto Resgate do Globoplay do mês de julho, Bang Bang (2005) foi considerada um dos maiores fiascos da faixa das 19 horas da Globo. Escrita por Mário Prata, a novela que satirizava o universo western registrou baixíssimos índices de audiência e “colaborou” para o avanço da Record, que exibia o sucesso Prova de Amor (2005) no mesmo horário.

A audiência fraca e a performance verde de Fernanda Lima como a protagonista Diana acabaram dominando os assuntos quando se falava sobre Bang Bang na época. Os problemas da novela, portanto, acabaram ofuscando suas qualidades, que eram muitas. Bang Bang foi rotulada como um equívoco, um delírio da Globo, o que é uma tremenda injustiça.

Na verdade, o autor Mário Prata foi muito feliz na concepção de sua obra. Bang Bang era uma novela ousada, inventiva, com ótimo senso de humor e bons personagens. Quase 20 anos depois, as qualidades do folhetim finalmente começam a ser reconhecidas por quem resolveu dar uma nova chance à produção e assisti-la pelo Globoplay. Antes tarde do que nunca!

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Sátira política e social

No velho oeste americano, Bang Bang girava em torno de Ben Silver (Bruno Garcia), um homem que volta à cidade de Albuquerque em busca de vingança contra Paul Bullock (Mauro Mendonça), que mandou matar toda a sua família no passado. No caminho, ele conhece a valente Diana (Fernanda Lima), por quem se apaixona. Ele fica surpreso ao descobrir que a moça é nada menos que filha de Paul.

Tendo uma típica história de western como pano de fundo, Mário Prata satirizava os filmes de velho oeste e inseria elementos da contemporaneidade na história, repleta de críticas sociais e políticas. O xerife Gogol (Marco Ricca), por exemplo, se vangloriava de uma ótima “invenção”, a “medida provisória” - recurso com o qual podia fazer o que bem entendesse. 

A novela tinha personagens muito divertidos, como a carola Úrsula (Marisa Orth), o inventor Aquarius Lane (Ney Latorraca) e o herói Zorroh (Sidney Magal) - que acrescentou um H em seu nome por conta da numerologia… Havia ainda os bandidos Billy The Kid (Evandro Mesquita) e Jesse James (Kadu Moliterno), que se disfarçaram de Henaide e Denaide e tocavam uma hospedaria. Já o romance fofo ficava por conta de Penny Lane (Alinne Moraes) e Neon (Guilherme Berenguer).

Desde que Bang Bang voltou ao Globoplay, começaram a pipocar na web cortes da novela com diálogos afiados e boas piadas, evidenciando o ótimo senso de humor da trama que não foi percebido em sua exibição original.

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Troca de autores

O maior problema de Bang Bang é que Mário Prata abusou demais das referências pop, fazendo com que a novela falasse a um público muito específico. Ela não era uma novela popular. Com isso, o público mais tradicional de novelas a rejeitou e mudou para a Record, que exibia Prova de Amor, “novela com cara de novela”. O próprio Prata, aliás, sabia do risco que corria com sua novela.

“Dizem que nesse horário 35 de Ibope é a média. Bang Bang não vai dar isso”, declarou ele no lançamento da trama. “Ou dá 40 ou mais, ou 30 ou menos. Nem eu, nem a Globo sabemos no que vai dar, mas estamos nos divertindo”, concluiu.

Ou seja, nesse contexto, talvez Bang Bang tivesse funcionado melhor se fosse uma série ou minissérie, e não uma novela. Carlos Lombardi, que assumiu os roteiros da trama depois que Mário Prata se afastou por questões de saúde, constatou isso.

“Bang Bang era uma novela altamente experimental (…) era uma paródia. Todo mundo sabia que era um projeto ousado (…). Eu achava que a novela tinha muitos problemas técnicos. (…) a história de Bang Bang foi empacotada de forma errada. Bang Bang deveria ter sido um seriado semanal, e não uma novela. (…) Eu disse: ‘Se é remendo, vamos remendar!’ E foi o que eu fiz. Deu certo. Fiz a minha parte. Mas foi um dos trabalhos mais difíceis da minha vida”, comentou Lombardi ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia.

Com Lombardi à frente, Bang Bang passou por uma transformação. O humor mais soft deu espaço aos conhecidos diálogos corrosivos e picantes de Lombardi. O autor também deu mais espaço a galãs coadjuvantes, revelando Ricardo Tozzi (Harold) e Rodrigo Lombardi (Zoltar), que estreavam na Globo. Harold, aliás, passou de médico comportado a predador sexual, surgindo sem camisa em vários momentos.

Lombardi também trouxe sua patota para a novela. Marcos Pasquim entrou na trama como Crazy Jack, que disputava Diana com Ben. Nair Bello como Dona Zorra e Betty Lago como Calamity Jane também entraram na história. Bang Bang também apostou em cenas de ação e aventura, com muitas participações especiais. Lombardi, inclusive, fez graça com a presença de Guilherme Piva, que aparecia em vários momentos da novela sempre vivendo personagens diferentes. Era um nonsense delicioso.

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Fiasco

Com 27,1 pontos de média geral, Bang Bang foi a pior audiência da faixa das sete da Globo até aquele momento, batendo o recorde negativo de As Filhas da Mãe (2001), que fechou com 27,8. Ou seja, saiu de cena com pecha de fracasso.

Mas, agora no Globoplay, a novela corre o sério risco de virar cult. E merecidamente. Mesmo que a novela tenha se transformado com a troca de autores, ainda assim ela é uma comédia de alto nível e com bons momentos. Vale uma revisita.

André Santana

26/07/2024

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