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Duas notícias sobre a teledramaturgia nacional que têm muito a ensinar à Globo

Malu Mader em Renascer
Malu Mader em Renascer (divulgação)

Dois acontecimentos envolvendo novidades na teledramaturgia brasileira dominaram a imprensa especializada na última semana. Um deles foi a estreia de Pedaço de Mim, minissérie da Netflix que também pode ser considerada uma novela curta. O outro foi a entrada de Malu Mader em Renascer como Aurora, novo interesse amoroso de José Inocêncio (Marcos Palmeira).

A princípio, as duas notícias não têm qualquer relação. Porém, ambas trazem bons ensinamentos à Globo. Ensinamentos esses que a emissora já conhece, mas parece ter esquecido diante das várias transformações pelas quais passou nos últimos anos, com troca de direção e mudanças no relacionamento com os artistas.

O sucesso que Pedaço de Mim vem alcançado no Brasil e no exterior mostra a força de uma história criativa e bem-construída. A trama conta o drama de Liana (Juliana Paes), que engravidou de gêmeos, cada um de um pai diferente - um deles é do marido, o outro é fruto de um abuso sexual. Trata-se de uma condição rara chamada de superfecundação heteroparental.

Já a boa repercussão da entrada de Malu Mader em Renascer mostra o quão importante é contar com grandes estrelas da TV nas novelas. A teledramaturgia nacional se desenvolveu, também, por conta do surgimento de ídolos, figuras que o público gosta e acompanha. Malu Mader, musa dos anos 1980 e 1990, sem dúvidas faz parte da galeria das grandes estrelas da nossa TV.

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Cadê a criatividade?

Vladimir Brichta, Juliana Paes e Felipe Abib em Pedaço de Mim
Vladimir Brichta, Juliana Paes e Felipe Abib em Pedaço de Mim (divulgação

O fato de Pedaço de Mim girar em torno da superfecundação heteroparental já dá à trama da Netflix um mote inusitado, que é desenvolvido utilizando-se dos elementos mais básicos de um grande melodrama. Na web, muita gente compara a história com novelas de Gloria Perez, mestre em transformar temas a princípio estranhos em bons folhetins.

Gloria, afinal, é a autora de Barriga de Aluguel (1990), De Corpo e Alma (1992) e O Clone (2001), três novelas cujas situações dramáticas partiam de fatos científicos até então obscuros. A autora, inclusive, tentou voltar à fórmula em Travessia (2022), ao fazer de Brisa (Lucy Alves) uma “mulher-quimera”, condição rara que lhe dava dois tipos diferentes de DNA. Por conta disso, ela não conseguia provar na Justiça que era mãe do próprio filho. Mas Travessia foi uma novela muito ruim e tal temática acabou sendo mal desenvolvida.

Aliás, Gloria Perez elogiou Angela Chaves, autora de Pedaço de Mim, publicamente. Provavelmente, a autora pensou: “por que não pensei nisso antes?”, afinal, não há dúvidas de que a condição de Liana poderia render, sim, um novelão no horário nobre da Globo. 

Agora fica a pergunta: há quanto tempo a Globo não apresenta uma novela com um ponto de partida tão forte e criativo? A emissora caiu num profundo arroz-com-feijão, numa crise criativa agravada pela insistência em se produzir remakes e continuações de novela. 

É claro que o tempo das novelas que dominavam as conversas ficaram no passado, já que, hoje, há muito mais opções disponíveis para o público. Ainda assim, fazem faltas as novelas mais ousadas. Faz tempo que a Globo não consegue surpreender seu público positivamente.

Aliás, o sucesso de Pedaço de Mim também mostra que a Globo abriu mão de valores importantes, mas que nunca tiveram a oportunidade de dizer a que vieram. Angela Chaves foi colaboradora em várias novelas e assinou Os Dias Eram Assim (2017) e Éramos Seis (2019) na emissora. Foi dispensada sem ter outras chances.

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Cadê as estrelas?

Malu Mader foi dispensada pela Globo em 2018, tornando-se uma das primeiras estrelas do canal a perder o contrato fixo nessa nova política de acordos por obra certa. Sua última novela inteira havia sido Haja Coração (2016). Depois, ela fez participações em Tempo de Amar (2018) e Malhação (2018).

A atriz não parou de trabalhar, já que fez várias séries no streaming neste período. No entanto, ela ficou muito tempo longe das novelas, formato que a transformou numa estrela da TV. Por isso mesmo, sua entrada em Renascer chamou a atenção do público. A repercussão da chegada de Aurora é um ponto fora da curva de uma novela que simplesmente não repercute.

Assim, fica claro que o público de novelas gosta das estrelas que fazem parte da história da teledramaturgia e sente falta delas. Afinal, atualmente, há pouco espaço para ídolos “grandes” nos folhetins. Os acordos por obra certa e os salários mais baixos fizeram a Globo abrir mais espaço a novatos, deixando os veteranos em segundo plano.

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Público saudoso

Isso ficou evidente na recente Elas por Elas. A trama tinha sete protagonistas, todas entre 40 e 50 anos de idade. O público, então, torcia para uma escalação de peso. A trama das seis poderia reunir figuras já não tão presentes na TV, como Claudia Abreu, Isabela Garcia, Flavia Alessandra, Vivianne Pasmanter e a própria Malu Mader. Mas não. A Globo escalou sete boas atrizes, mas apenas uma com status de protagonista consolidado, Deborah Secco.

Essa escolha tem explicação: atualmente, os salários dos atores estão inseridos no orçamento da novela. Como artistas consagrados têm contracheques mais polpudos, ficou mais difícil escalar muitos astros para uma mesma produção, ou corre-se o risco de estourar o orçamento. Por isso, nos últimos anos, há muitos novos atores e alguns poucos veteranos nos elencos das novelas.

Mas está claro que o público sente falta dessas estrelas. A boa repercussão da entrada de Malu Mader em Renascer mostra isso.

Ou seja, a repercussão dessas duas notícias deu um recado claro do público à Globo: os espectadores sentem falta de novelas criativas e querem rever os grandes ídolos da teledramaturgia na telinha. A emissora sempre soube disso, mas parece ter se esquecido.

André Santana

13/07/2024

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1 Comentários

  1. Olá, tudo bem? Precisamos também analisar a perda de força da televisão com os novos meios.... A teledramaturgia é impactada diretamente com a redução de verbas. Veja o que acontece em Família É tudo. Não há sequer uma cena gravada nas ruas de São Paulo. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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