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Final de Renascer evidencia os erros e acertos da novela

José Inocêncio (Marcos Palmeira) e João Pedro (Juan Paiva) se abraçam no final de Renascer
José Inocêncio (Marcos Palmeira) e João Pedro (Juan Paiva) no final de Renascer

O final da primeira versão de Renascer fez história com a emocionante cena da despedida de José Inocêncio (Antonio Fagundes). No leito de morte, ele finalmente abraça o filho João Pedro (Marcos Palmeira) e diz que o ama, carinho que o herdeiro esperou a novela toda para receber. De fato, é uma cena belíssima, marcada pelo texto emotivo e grandes interpretações.

É uma cena tão importante que o próprio Antonio Fagundes contou, em entrevistas, que foi convencido por Benedito Ruy Barbosa a aceitar o papel quando o autor descreveu este desfecho. Ou seja, o final do personagem já estava definido desde o início, e Ruy Barbosa apenas pavimentou toda a história para chegar neste momento apoteótico. Fagundes revelou que ele e o autor choraram juntos nesta conversa que definiu sua escalação.

31 anos depois, o remake de Renascer apresentou o mesmo desfecho ao público. Uma cena igualmente emocionante, que evidenciou, sobretudo, o talento do jovem Juan Paiva como João Pedro. Sem dúvidas, o ator é o grande destaque do elenco da trama e responsável  por várias das melhores cenas da novela.

Já Marcos Palmeira, que foi um bom João Pedro há 31 anos, não brilhou como José Inocêncio. Não por culpa do ator, reconhecidamente talentoso. Mas porque, 31 anos depois, já não era possível fazer um José Inocêncio austero, poderoso e que, de fato, protagonizou a primeira versão da novela. O autor Bruno Luperi atualizou o personagem, adequando-o aos tempos atuais, o que tirou parte de sua força. O “novo” José Inocêncio já não era um coronel. Assim, não era um protagonista de presença, mas apenas um fazendeiro amargurado que aborreceu durante boa parte da novela.

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A atualização

Daí se sintetiza o maior problema de Renascer. O neto de Benedito Ruy Barbosa fez boas adaptações e atualizações, deixando a nova versão mais ecológica e contemporânea. Porém, adequar a história aos dias de hoje fez com que a novela não ficasse tão interessante.

Não que Renascer tenha sido uma novela ruim. No geral, a história é boa, os atores estavam em estado de graça e a direção de Gustavo Fernandez se revelou certeira. Foi uma novela plasticamente perfeita, com takes originais e sequências muitíssimos bem realizadas. A fotografia foi muito superior a de Pantanal (2022), mesmo sem as paisagens exuberantes da novela anterior.

Mas faltou uma pitada de carisma ao enredo como um todo. Não surgiu um personagem verdadeiramente marcante. A primeira versão, por exemplo, imortalizou tipos como Tião Galinha (Osmar Prado), Dona Patroa (Eliane Giardini) e Buba (Maria Luisa Mendonça), além do próprio José Inocêncio. Desta vez, isso não aconteceu.

Apesar disso, foram muitos os acertos. O casal formado por João Pedro e Sandra (Giullia Buscacio) foi arrebatador. Além disso, destaca-se trabalhos como o de Edvana Carvalho, uma Inácia de forte presença, e de Matheus Nachtergaele, genial como o “fofoqueiro” Norberto, que tinha o público como cúmplice. Também foi interessante ver Almir Sater num tipo completamente diferente. Como Rachid, ele provou ser um excelente ator, e não apenas um músico genial. Simplesmente não dava para enxergá-lo ali.

Nota pessoal: meu pai, que não é noveleiro, acompanhou a novela religiosamente. Certa vez, ele me perguntou quando Almir Sater ia aparecer na novela. Quando eu contei que ele era o Rachid, meu pai ficou espantado…

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O final

Durante a condução de Renascer, Bruno Luperi mostrou que aprendeu com os erros de Pantanal e fez várias mudanças, considerando o fato de novela ser uma obra aberta. Com isso, depois do capítulo 100, a novela ganhou novos entrechos, na tentativa de driblar a sensação de marasmo. Não foi o suficiente, mas, sem dúvidas, uma boa tentativa.

Neste contexto, destaca-se a trajetória de Buba (Gabriela Medeiros). Na primeira versão, a personagem era intersexo e praticamente sumia da novela após se casar com José Augusto (Marco Ricca/Renan Monteiro). Desta vez, Buba era uma mulher trans, e a novela falou sobre o assunto com propriedade. Além disso, a personagem ganhou profundidade ao ganhar amigas e uma família.

Por outro lado, a mesma Buba evidenciou que o autor acabou se esquecendo de histórias pelo caminho. Afinal, a personagem sempre foi movida pelo desejo de ser mãe. Mas, após o nascimento de Cacau, esse desejo foi simplesmente abandonado. Teria sido interessante vê-la ao lado de Augusto entrando na fila de adoção, por exemplo, mas nada foi dito sobre isso no desfecho.

Outro final controverso foi o de Morena (Ana Cecília Costa) e Deocleciano (Jackson Antunes). Depois de anos de dedicação à fazenda de José Inocêncio, e depois de terem criado João Pedro, o casal simplesmente deixou a casa onde passaram a vida e se juntaram aos assentados. Sério mesmo?

Mariana (Theresa Fonseca) ter ficado com a casa que era de seu avô Belarmino (Antonio Calloni) foi um final interessante e coerente com a trajetória da jovem. Mas Morena e Deocleciano terem ficado sem nada foi de doer. Se Inocêncio contemplou Inácia em seu testamento, não deveria ter contemplado Deocleciano também? Aquela fazenda não era grande o suficiente para construírem uma casa nova para o casal? Pareceu ingratidão…

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O futuro

Com resultado de audiência morno, Renascer mostrou à Globo que nem todo remake de Benedito Ruy Barbosa dá certo. Se a novela tivesse funcionado, seria praticamente certo que o canal investiria numa nova versão de O Rei do Gado (1996). Mas, como não rolou, a emissora terá que recalcular a rota.

Provavelmente, a revisita à obra de Ruy Barbosa para por aqui. Porém, a Globo ainda não jogou a toalha nos planos de regravações e já prepara Vale Tudo (1988) para o ano que vem. Se vingar, é bem possível que a emissora continue revirando seus arquivos em busca de textos clássicos para refazer. Mas, se não vingar, a atual onda de remakes deve arrefecer. A ver.

Atualmente, o canal conta “apenas” com João Emanuel Carneiro, Walcyr Carrasco e Gloria Perez no timo “fixo” da faixa das 21h. Agora é saber se Bruno Luperi e Manuela Dias (responsável pela adaptação de Vale Tudo) conseguirão se firmar no horário com textos inéditos no futuro.

André Santana

07/09/2024

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2 Comentários

  1. Acho que Renacer não merecia um remake. Nunca foi tão lembrada e nunca teve a mítica de Pantanal. Fora que a história, para os dias atuais, é pra lá de desinteressante. A Globo se empolgou com o resultado do remake anterior e errou na escolha desse. Um remake de O Rei do Gado teria se saído melhor, com certeza, embora eu espero que não o façam, rsrs

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  2. Olá, tudo bem? Na minha visão, Juan Paiva potencializou a melancolia do João Pedro. A novela ficou soturna demais. Assisti à versão original e fica constatado, mais uma vez, que as "novelas de antigamente" eram muito melhores. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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