Andrea Beltrão, Larissa Bocchino e Alexandre Nero em No Rancho Fundo (divulgação) |
Em alta na Globo por conta do sucesso de suas tramas, Mário Teixeira é um autor com inúmeras qualidades. O novelista sabe ser popular, ao mesmo tempo em que recheia suas histórias e personagens com inúmeras referências, imprimindo-lhes substância. Mas, apesar disso, é um autor cujas histórias costumam se esgotar rapidamente.
No Rancho Fundo tinha tudo para apagar essa impressão. Ao contrário de Mar do Sertão (2022), que apresentou sua história inicial de forma tão apressada que toda a trama se resolveu em um mês, desta vez a trama foi introduzida sem sobressaltos. O público se envolveu com os problemas financeiros de Zefa Leonel (Andrea Beltrão) e sua família, e torceu por ela quando a garimpeira saiu em busca da turmalina paraíba.
Se fosse em Mar do Sertão, Zefa teria encontrado a pedra no segundo capítulo, ficado rica no terceiro, seria alvo dos vilões no quarto e perderia tudo no quinto capítulo. Mas não. O início de No Rancho Fundo fluiu bem, dando tempo para que o público se envolvesse com os protagonistas e seus dramas.
Porém, apesar disso, No Rancho Fundo não escapou da “maldição” das tramas do autor. Mesmo com o início pouco apressado, a novela teve um desenvolvimento problemático e, em muitos momentos, andou em círculos. A luta pela posse da Gruta Azul dominou os capítulos, fazendo com que a novela fosse monótona e repetitiva boa parte do tempo.
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Bons personagens
Mas, mais uma vez, Mário Teixeira driblou a falta de ação com bons personagens, que garantiram a atenção do público. Zefa Leonel foi uma ótima protagonista, bem defendida por Andrea Beltrão. A mocinha Quinota (Larissa Bocchino) e o mocinho Artur (Tulio Starling) funcionaram muito bem. Já Ariosto (Eduardo Moscovis) foi um bom vilão.
Entretanto, o grande destaque da galeria dos malvados foi mesmo Blandina (Luisa Arraes). A vilã se revelou uma personagem complexa e muito bem construída, quase uma anti-heroína lutando por sua sobrevivência. Apesar do caráter duvidoso, Blandina tinha sentimentos, explorado sobretudo na relação com sua mãe e na paixão nutrida por Artur.
Os personagens de Mar do Sertão que retornaram também tiveram bons momentos. Sobretudo Deodora (Debora Bloch), que teve uma história bem mais interessante que na novela anterior. A rivalidade com Zefa Leonel foi um acerto que deu novas camadas à vilã. Debora Bloch e Andrea Beltrão fizeram uma ótima dobradinha.
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Reta final de altos e baixos
Porém, é válido apontar que a reta final de No Rancho Fundo foi muito pouco empolgante. O vai e vem de Primo Cícero (Haroldo Guimarães), ora do lado dos heróis, ora do lado dos vilões, cansou. A briga pela Gruta Azul virou uma guerra burocrática, sempre às voltas com procurações e contratos perdidos.
Mas a falta de ação foi compensada com um último capítulo bem movimentado e cheio de surpresas. A revelação de que Elias Crisóstomo (André Luiz Frambach) era um policial promoveu uma ótima reviravolta, bem como a decisão de Zefa Leonel de explodir a entrada da Gruta Azul. Também foi empolgante o desfecho de Blandina e Marcelo Gouveia (José Loreto), que despencaram de um penhasco para ressurgirem, um ano depois, como dois golpistas no Rio de Janeiro.
Faltou fôlego ao enredo de No Rancho Fundo, é verdade. No entanto, a novela se segurou em diálogos inspirados e muito humor, o que garantiu a diversão nestes meses no ar. O público aprovou, já que a novela conseguiu elevar a audiência da faixa das seis após o fiasco de Elas por Elas (2023). Por isso, o saldo é positivo. No Rancho Fundo cumpriu sua missão.
André Santana
02/11/2024
1 Comentários
Estranhei você não citar a Mariana Lima. Pra mim foi ela quem roubou o posto de protagonista e a virada da personagem dela tia Salete, no meio da novela, a gente descobrir que ela é a mãe da Margaridinha foi uma boa sacada do autor .
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