Giovanna Antonelli, Camila Pitanga e Camila Queiroz em Beleza Fatal (divulgação) |
O crescimento do streaming mudou os hábitos de boa parte dos espectadores. Com a grande oferta de séries, os títulos foram se tornando cada vez mais populares, e o costume de “maratonar” os episódios se tornou uma realidade para muitos. Neste contexto, a TV tradicional parece se sentir ameaçada.
Só isso explica a vontade de alguns autores e diretores de querer “serializar” as novelas. A inspiração em si é válida, já que a evolução do audiovisual passa justamente pelo aperfeiçoamento da fórmula, o que passa pelo intercâmbio de experiências. Entretanto, neste processo, não se pode perder de vista para quem se está falando.
Mania de Você, por exemplo, é um exemplo disso. A trama inicial - antes de se perder com tantas mudanças - era boa e instigante. Mas talvez não conversasse tão bem com o público tradicional de novelas. João Emanuel Carneiro abriu mão de elementos básicos do folhetim para criar uma trama que, talvez, funcionasse melhor no streaming do que na TV aberta.
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Experiências
Curiosamente, trata-se do mesmo João Emanuel Carneiro que criou Todas as Flores (2022), a primeira novela brasileira totalmente original feita para o streaming - lembrando que Verdades Secretas 2 (2021) era a continuação de uma história que nasceu na TV. E a experiência do Globoplay foi muito bem-sucedida.
Todas as Flores bebeu do melhor da TV e do streaming. A trama tinha a ousadia e a agilidade viabilizada pelo streaming, mas também era recheada de situações folhetinescas e personagens carismáticos que só a boa e velha televisão pode proporcionar. Resultado: a trama foi bem-recebida no Globoplay e também registrou bons índices ao ser exibida na TV Globo. Conseguiu conversar com os dois públicos.
Deste modo, Todas as Flores deve ter sido a última novela da Globo a criar um envolvimento com o público tão singular. De lá para cá, o canal mais errou do que acertou, evidenciando as dificuldades da Globo de dialogar com o público que sempre exaltou seus folhetins.
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E surge Beleza Fatal!
Depois de Todas as Flores (e de Pedaço de Mim, da Netflix), a grande experiência de novelas no streaming atende por Beleza Fatal. A produção da Max, que teve seus cinco primeiros capítulos lançados na última segunda-feira, 27, mostrou ser, de fato, um novelão, daqueles que a Globo não consegue oferecer faz algum tempo.
O autor Raphael Montes construiu uma típica história de vingança, comparável a Avenida Brasil (2012). Mas lhe deu um ar de novidade ao fazer do universo da estética e das cirurgias plásticas o pano de fundo. Beleza Fatal é uma mistura inusitada e muito bem-vinda de Avenida Brasil, Nip/Tuck e do filme Parasita. Tudo sem perder o folhetim de vista.
Lola (Camila Pitanga) é uma vilã fácil de gostar. Divertida, cafona, frasista e traiçoeira, como o noveleiro gosta. Já Cleo (Vanessa Giácomo) foi a mocinha dos primeiros capítulos, comendo o pão que o diabo amassou nas mãos da prima do mal. Há ainda uma terceira personagem, Elvira (Giovanna Antonelli), construída sob medida para fazer o público torcer e se identificar.
Já a vingadora Sofia (Camila Queiroz) surgiu adulta apenas no fim do primeiro bloco de capítulos, mas demonstrou potencial para envolver o espectador. Com esses ingredientes, Beleza Fatal faz uma boa mistura de romance, thriller, suspense e humor. Traz alguma ousadia, já que é uma produção para o streaming. Mas a base é o bom e velho novelão.
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Esperança
As qualidades de Beleza Fatal trazem alguma esperança para os fãs de uma boa novela. A produção da Max é a prova de que é possível modernizar um formato tão clássico quanto o folhetim, desde que haja a preocupação de se construir uma história envolvente e calcada na emoção.
Não tem jeito: o público só embarca se conseguir se identificar e se envolver com os personagens e seus conflitos. Beleza Fatal, ao menos neste início, conseguiu isso. Mérito não apenas de seu autor, mas também da direção de Maria de Médicis e da supervisão de Silvio de Abreu - nomes construídos na TV aberta, diga-se.
André Santana
01/02/2025
1 Comentários
Olá, tudo bem? Sim. Mania de Você teria funcionado se seguisse o caminho de Todas as Flores. Não tem cara de novela das nove. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
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