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Em crise de identidade, televisão se rende à nostalgia

Betty Faria como Tieta
Betty Faria como Tieta (divulgação)

Boa parte das crianças de hoje em dia - ao menos, às que têm acesso à internet - já não têm o hábito de se assistir televisão. Por isso mesmo, a audiência dos canais tradicionais está envelhecendo. Sendo assim, o que se vê atualmente não é a TV se esforçando para conquistar um novo público, mas sim manter o que já existe.

Isso explica a onda de nostalgia cada vez mais forte no segmento. Um fenômeno, aliás, mundial. Nas últimas semanas, vários acontecimentos do universo televisivo reforçam a sensação de que estamos mais nostálgicos do que nunca.

O bom resultado de Tieta (1989) no Vale a Pena Ver de Novo é um indício disso. Tempos atrás, a Globo jamais teria coragem de reexibir uma novela tão antiga, com qualidade de imagem inferior. Esse tabu já foi quebrado há algum tempo, e Tieta mostra que o público aceita uma novela mais antiga, se a trama valer a pena. Está claro: Tieta vale a pena ver de novo, mesmo com a imagem um tanto embolorada - aliás, vale dizer que a novela passou por um ótimo tratamento de imagem!

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Novelas antigas

O resgate de Tieta aconteceu como uma ação integrante da celebração dos 60 anos da Globo. Por conta da efeméride, a Edição Especial também se rendeu a uma história clássica da emissora, essa um pouco mais “recente”. História de Amor (1995) volta ao ar nesta segunda-feira, 10, depois do Jornal Hoje.

Grande sucesso da faixa das seis, História de Amor é Manoel Carlos em sua melhor forma. Uma ótima Helena - vivida por uma Regina Duarte que ensaia uma reaproximação com o canal - , bons conflitos familiares e aqueles diálogos do cotidiano que só Maneco é capaz de escrever.

O repeteco de História de Amor vale não apenas pelo valor histórico da obra, mas também por ser uma novela que parece adequada ao horário. E por fazer o público lembrar de que a Globo já teve grandes produções em todas as suas faixas de novelas. E mais: História de Amor pode lembrar a própria Globo de que novela boa não precisa ser pirotécnica. O que importa é a emoção.

Para completar o cardápio nostálgico dos 60 anos da Globo, a emissora virá com uma releitura de Vale Tudo (1988) em seu horário nobre. A nova versão, escrita por Manuela Dias, será a substituta de Mania de Você, fiasco histórico do horário. Agora virá a prova dos nove: será que o fator nostalgia terá força suficiente para reverter tamanha crise?

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Alô criançada!

Bozo
Bozo (divulgação)

Mas não é só a Globo que surfa na onda da nostalgia. O SBT, emissora que, tradicionalmente, sempre viveu do passado, vem aproveitando meios de transformar sua história em grife. Por isso mesmo, o canal readquiriu os direitos sobre o personagem Bozo.

Desta vez, o projeto parece mais maduro do que apenas ressuscitar o programa do palhaço, algo que o canal tentou fazer em 2013 e foi um desastre. A ideia agora não é conquistar as novas crianças, mas sim reconquistar o espectador de ontem que guarda boas lembranças do tempo do Bozo.

Assim, o palhaço deve peregrinar pelos programas do SBT, enquanto seus programas e desenhos antigos vão reforçar o catálogo do +SBT. Além disso, Bozo deve ganhar uma série de produtos licenciados, provavelmente voltado ao público nostálgico. A criança de ontem é, agora, um adulto consumidor. 

Ou seja, ao que tudo indica, a televisão brasileira percebeu que seu público envelheceu e está fazendo de tudo para segurar a plateia tradicional diante da telinha. Para isso, oferece um conteúdo já conhecido, que traz boas lembranças a quem assiste. Uma estratégia até interessante, mas que, a longo prazo, pode não se sustentar. O que virá a seguir?

André Santana

10/02/2025

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