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Beleza Fatal ofereceu a ousadia que anda em falta na teledramaturgia brasileira

Camila Pitanga como Lola em Beleza Fatal
Camila Pitanga como Lola em Beleza Fatal (reprodução)

Primeira novela brasileira da Max, Beleza Fatal não reinventou a roda. A trama de Raphael Montes foi uma clássica história de vingança, tendo como pano de fundo o interessante universo da estética. Foi um novelão, recheado de romance, suspense, reviravoltas rocambolescas, humor e personagens cativantes.

Sofia (Camila Queiroz) foi uma mocinha fora da curva, já que ultrapassou limites que poucas mocinhas vingativas tiveram coragem de ultrapassar. A moça, que queria acabar com Lola (Camila Pitanga) porque a megera foi a responsável pela prisão e morte de sua mãe, se lambuzou com o próprio sentimento de revanche e, num determinado momento, quis se tornar a própria algoz. 

Enquanto isso, Lola foi a vilã debochada e carismática que o espectador adora odiar. Cheia de cacoetes, frases de efeito e apelidos criativos, Lola foi uma malvada completa. Daquelas que o noveleiro cultua, e que há muito tempo não dava as caras na telinha. Entretanto, apesar dos ingredientes clássicos, Beleza Fatal injetou no gênero uma pitada de ousadia, que anda em falta na TV brasileira.

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Liberdade

Beleza Fatal se aproveitou de ser uma trama de streaming para quebrar vários tabus. A novela teve generosas doses de sensualidade, com muito sexo e nudez. Além disso, apresentou personagens de diferentes orientações sexuais ou identidade de gênero. Lola, por exemplo, era bissexual, enquanto Átila (Herson Capri) era um homem gay enfiado no armário. Já Andrea (Kiara Felippe) era uma mulher trans que se apaixonava pelo “bom moço” Tomás (Murilo Rosa).

Essa diversidade não é vista nas novelas produzidas pela TV aberta. Na verdade, a teledramaturgia da Globo até avançou bastante nessa seara, mas, nos últimos anos, vem experimentando um perigoso retrocesso. Não são poucos os casos de histórias envolvendo personagens LGBTQIAP+ nas tramas globais que perderam espaço nas novelas da Globo recentemente.

Essa mesma liberdade também permitiu que Raphael Montes reservasse um final infeliz para sua heroína, algo bastante incomum numa novela mais “tradicional”. O autor foi feliz ao mostrar Sofia concretizando sua vingança, mas, ao mesmo tempo, pagando um alto preço por isso. Lola foi presa por um crime que não cometeu, assim como a mãe de Sofia no passado - uma ótima vingança, diga-se. Mas Sofia também pagou o preço, ao sofrer a indiferença de Elvira (Giovanna Antonelli), sua mãe de criação, e toda a família Paixão. A mocinha também perdeu o amor de Gabriel (Romaní), que não a perdoou.

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Teledramaturgia moderna

Por todas essas características, Beleza Fatal se mostrou uma teledramaturgia bastante moderna, algo que a Globo já não consegue oferecer ao seu público. Num passado não muito distante, o canal se permitia experimentar em suas novelas, avançando aqui e ali sempre que encontrava espaço para isso.

Além disso, a emissora tinha faixas mais avançadas na programação nas quais se permitia ir além. As novelas das 23h, por exemplo, normalmente eram mais “abusadas”, tanto no quesito sensualidade quanto nas histórias em si.

O Rebu (2014), por exemplo, teve uma narrativa bastante arrojada. Já Verdades Secretas (2015) apimentou o horário com uma história cheia de reviravoltas de impacto. Onde Nascem os Fortes (2018) fez poucas concessões ao folhetim. E esses são apenas alguns exemplos que mostram que a Globo já foi mais ousada.

Atualmente, o canal vem ficando mais “água com açúcar”, o que rende histórias pouco inspiradas. Há mais pudores na concepção de suas histórias, e o politicamente correto vem matando algumas tramas. Além disso, faltam autores experientes, daí a recente onda de remakes. 

A Globo, inclusive, até planejou reservar o Globoplay para criar narrativas menos óbvias e foi muito bem-sucedida com Todas as Flores (2022), talvez a última realmente boa novela da emissora. Mas até mesmo essa experiência não conseguiu se firmar, vide Guerreiros do Sol, que foi gravada em 2023, mas só deve ser lançada este ano.

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Lição

Diante disso, Beleza Fatal e sua ótima repercussão junto ao público mostrou que é possível fazer uma novela com cara de novela, mas um pouco mais “fora da casinha”. O sucesso da trama mostra que o gênero ainda vive, só precisa de uma atenção especial.

A Max entrou com o pé direito no universo das novelas brasileiras. Fica a torcida para que novas experiências aconteçam e que a plataforma da Warner vá além de Dona Beja, sua próxima trama ainda sem data de estreia. O noveleiro ganha uma opção poderosa de boas histórias.

André Santana

22/03/2025

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1 Comentários

  1. Olá, tudo bem? Beleza Fatal atinge um nicho específico. Não tem o objetivo de dialogar com a grande massa dos telespectadores. O Brasil está mais "conservador". O público do streaming é diferente da TV aberta. Vide o que acontece na Band. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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