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Mavi (Chay Suede) e Viola (Gabz) em Mania de Você (reprodução) |
Em agosto do ano passado, às vésperas da estreia de Mania de Você, João Emanuel Carneiro admitiu que sua nova novela era bastante pretensiosa. Em entrevista ao O Globo, o autor de sucessos como A Favorita (2008) e Avenida Brasil (2012) avisou que apostaria fundo na ousadia.
“É uma história bem ousada. São personagens interessantes, ao mesmo tempo contraditórios e multifacetados. O vilão Mavi faz coisas atrozes, mas é um amor. Tem várias coisas provocativas para o telespectador. Por exemplo, os vilões Luma e Mavi são traídos pelos mocinhos. Geralmente é o contrário”, explicou.
Mas, meses depois, é possível perceber que o autor acabou dando um tiro no próprio pé em sua tentativa de ousar. A verdade é que os personagens “multifacetados” prometidos pelo autor se revelaram sem personalidade. Ao longo dos últimos meses, os protagonistas de Mania de Você agiram sem qualquer coerência, levados apenas pelas conveniência de um roteiro cheio de furos.
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Personagens sem vida
Carneiro acreditou que seria uma ousadia colocar os mocinhos traindo os vilões. Mas esse foi o primeiro dos vários erros de Mania de Você. Afinal, o romance entre Viola (Gabz) e Rudá (Nicolas Prattes) nunca se justificou. Não tinha como torcer por uma história de amor que nasceu sem uma explicação lógica e que foi construída em cima dos sentimentos de Luma (Agatha Moreira) e Mavi (Chay Suede), os traídos. Não por acaso, os “vilões” roubaram a novela para eles.
Enquanto Viola desidratou após protagonizar uma série de viradas sem sentido - no caminho, ela abriu trocentos restaurantes, tocou uma Lona Cultural que quase foi destruída, se fingiu de morta e partiu para uma vingança tolinha -, Rudá foi morto sem qualquer emoção. O mocinho, aliás, pouco fez ao longo de toda a novela.
Já Luma começou meio mocinha, depois virou vilã vingativa, para depois se arrepender sem qualquer motivo aparente e virar mocinha de novo. Pior mesmo foi Mércia (Adriana Esteves), que começou como uma megera fria, interesseira e misteriosa e, no final, se tornou uma espécie de cosplay de Thelma de Amor de Mãe (2019).
Aliás, já repararam que Mércia foi a personagem que se deu melhor ao longo de toda a novela? Desde o início, ela queria se livrar de Viola e juntar Mavi e Luma, já que sabia que a garota era a única herdeira de uma fortuna e tinha interesse na grana. Pois foi exatamente isso o que aconteceu. Vitória de Mércia!
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Promessa não cumprida
A premissa inicial de Mania de Você era interessante: Viola e Luma eram amigas, mas se tornariam rivais depois que a primeira “roubasse” a vida da segunda. Para dar um tempero ainda mais especial nessa relação, as personagens haviam nascido no mesmo dia, como se estivesse predestinadas a se encontrar.
Mas, na prática, esse plot mal rendeu 50 capítulos. Entre as inúmeras viradas esquizofrênicas de Mania de Você, Rudá sumiu, Viola se perdeu e Luma e Mavi assumiram o protagonismo. O que até se justifica, se considerarmos que o público torceu mesmo para os “traídos” darem o troco nos “traidores”. O que mostra que Mania de Você já nasceu errada.
Além disso, a trama penou com os cortes da primeira fase e as mudanças de rota atabalhoadas por conta da baixa audiência. Com isso, as tramas paralelas também perderam força e muitas foram abandonadas no meio do caminho. Isso sem falar em ótimas personagens desperdiçadas, como Ísis (Mariana Ximenes), que demonstrava alta química com Mavi nas poucas vezes em que se encontraram. Já pensou se os dois vilões se unissem? Renderia um caldo!
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Criatividade em baixa
João Emanuel Carneiro é um ótimo autor e sua galeria de grandes sucessos fala por si. No entanto, a história mostra que o novelista se dá bem mesmo quando oferece um arroz com feijão num prato de porcelana chinesa. A Favorita, por exemplo, teve suas invencionices no início da história, mas, na prática, era a velha história da mocinha injustiçada tentando provar sua inocência. O mesmo vale para Avenida Brasil, uma história de vingança clássica, mas muito bem contada e engenhosa.
Sempre que Carneiro tenta dar um passo além, acaba derrapando. A Regra do Jogo (2015) foi assim, altamente pretensiosa, mas que se revelou pouco simpática. Tanto que, depois dela, o autor voltou ao trivial com Segundo Sol (2018), de recepção morna (mas não um fiasco), e Todas as Flores (2022), um novelão repleto de personagens carismáticos e boas viradas.
O sucesso de Todas as Flores, aliás, mostrou que o Carneiro criador de Avenida Brasil ainda existia. Mas Mania de Você foi um passo em falso que chega a ser inexplicável. Falhou o autor, que não soube construir sua história em bases sólidas, e falhou a Globo, que aprovou essa novela mesmo com tantos furos. Foi um desastre em conjunto, que a emissora precisa considerar na hora de avaliar suas próximas produções.
André Santana
29/03/2025
1 Comentários
Parecia interessante, mas foi mal contada. O estilo característico do autor, dessa coisa gato e rato entre os protagonistas, virando tudo toda hora é cansativo demais. As histórias paralelas também foram bem desinteressantes. Outro erro padrão dele é não misturar os personagens paralelos aos centrais. De que valeu ter uma dona de banco na história se os vilões principais não se aproveitaram disso? Ou ter um resort na história como cenário principal e nunca receber um hóspede relevante ou ter algum fato importante acontecendo por lá? Foi muito decepcionante. Naquela velha escala de 1 a 5 estrelas, Mania de Você fica com o ícone da bomba.
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