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Madá (Jéssica Ellen) e Jão (Fabricio Boliveira) em Volta por Cima (reprodução) |
Volta por Cima pode não ter sido o sucesso de audiência esperado pela Globo. Mesmo assim, a trama chega ao fim com missão cumprida. A autora Claudia Souto demonstrou maturidade e entregou sua novela mais redonda, com uma história popular e narrativa ágil.
Apesar de não ter fugido da fórmula do folhetim, Volta por Cima deu um sopro de ar fresco ao formato ao construir mocinhos que não estavam, necessariamente, presos a uma história de amor. O romance entre Madalena (Jéssica Ellen) e Jão (Fabricio Boliveira) passou por altos e baixos, mas não determinou os rumos do enredo.
O casal tinha histórias que iam além deles mesmos. Madá, por exemplo, tinha seus problemas familiares, como a saúde da mãe e o fato de o tio ter roubado a família. Jão também, às voltas com a descoberta de que era herdeiro da Viação Formosa, empresa de ônibus que serviu de cenário às histórias.
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Trama popular
Justamente por dar aos protagonistas mais do que uma história de amor, Claudia Souto conseguiu criar mocinhos muito próximos da realidade do espectador. Com isso, foi fácil criar empatia e torcer por eles.
Aliás, o que não faltaram foram personagens reconhecíveis. Até mesmo os vilões tinham um lado bom. Osmar (Milhem Cortaz) foi o típico malandro de bom coração, enquanto Violeta (Isabel Teixeira), apesar de ser capaz de atos terríveis, era, na verdade, uma mulher apaixonada.
Neste contexto, Cacá (Pri Helena) surgiu como uma grata surpresa. A capanga de Violeta também se mostrou multifacetada, dividida entre o amor e o ofício controverso. A personagem cresceu ao longo da história com suas várias camadas.
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Narrativa ágil
Outro acerto de Volta por Cima foi sua narrativa ágil. A autora Claudia Souto conseguiu criar uma história principal coesa, mas a desenvolveu em situações episódicas. Com isso, conseguiu manter o interesse do público do início ao fim.
Exemplo claro disso foi o quarteto principal, formado por Jão, Madá, Roxelle (Isadora Cruz) e Chico (Amaury Lorenzo). O que parecia ser um quadrado amoroso que percorreria toda a história, na verdade, serviu apenas como um prólogo para o enredo. Quando Jão e Madá se acertaram, Chico e Roxelle ganharam novas histórias.
A estratégia acabou murchando os personagens, é verdade. Chico não teve uma história verdadeiramente interessante, enquanto Roxelle serviu como mero alívio cômico durante capítulos a fio. Mas a garçonete voltou a crescer na reta final, ao mergulhar num relacionamento abusivo com Gerson (Enrique Diaz).
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Último capítulo
Volta por Cima foi tão bem construída que se permitiu encerrar todas as tramas ao longo da semana e oferecer um último capítulo com cores de episódio final. O sequestro do ônibus realizado por Gerson, que culminou com o nascimento do filho de Madá, ofereceu um desfecho com altas doses de tensão e emoção.
Iniciar e encerrar a novela com um evento de impacto dentro de um ônibus foi uma boa maneira de reforçar os ciclos que permearam toda a história. Volta por Cima foi toda construída em arcos variados, e o capítulo final deixou isso claro.
Além disso, o elenco estava em estado de graça. Enrique Diaz entregou tudo como o vilão implacável, enquanto Milhem Cortaz soube demonstrar o lado afetivo de Osmar. Jéssica Ellen, Fabricio Boliveira, Rodrigo Fagundes e Drica Moraes também traduziram bem toda a tensão do momento. Foi um grand finale engenhoso, que deu ainda mais força ao posterior final feliz dos personagens.
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Maturidade
Assim, Volta por Cima se mostrou a trama mais madura da carreira de Claudia Souto. A autora fez sucesso com Pega Pega (2017), mas a trama sobre o roubo do hotel pecou pelo humor fraco e por uma história que, muitas vezes, andou em círculos.
Depois, ela assinou Cara e Coragem (2022), sem dúvidas seu maior erro. Apesar do pano de fundo interessante, com a história dos dublês, a novela pecou pela ausência de um fio condutor firme, derrapando em mistérios pouco interessantes.
Já Volta por Cima nem parece escrita pela mesma autora das duas primeiras. A novela contou uma história interessante, com personagens bem construídos, e mesclou bem o romance, a comédia e a aventura, elementos típicos da faixa das 19h. Foi um acerto em todos os sentidos.
André Santana
26/04/2025
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